18 julho, 2010

A ANTIGA PONTE DO ESPÍRITO SANTO

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A foto acima publicada, porventura uma das mais belas de toda a fotografia alenquerense, mostra-nos a ponte do Espírito Santo quando junto a ela decorriam trabalhos de limpeza do rio.
Esta ponte construída pela Câmara local no reinado de D. Sebastião e a mando deste, foi dada como acabada no dia 28 de Abril de 1571, vindo a ser demolida em 1948 quando das obras de regularização do curso do rio, as quais implicaram o desvio deste para o nascimento das actuais avenidas.
A fotografia, de autor desconhecido, é de 1941 e pertence à colecção Graciano Troni, tendo sido publicada na obra abaixo reproduzida, não por acaso, mas para a dar a conhecer a quantos, porventura, ainda não tiveram o privilégio de a desfolhar. Nessa obra assinada por Filipe Rogeiro, com chancela da Arruda Editora, encontrará o leitor magníficas fotografias da vila de Alenquer nos anos 30 e 40, acompanhadas por esclarecedores textos do autor.
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O rosto deste livro mostra-nos o padrão que sempre existiu junto à mesma, embora, como o refere Guilherme Henriques, tivesse ao longo dos tempos ocupado diversos lugares. Demolida a ponte foi o padrão recolhido pela Câmara que, há algum tempo, decidiu colocá-lo como elemento decorativo no Parque Vaz Monteiro.
Aparentemente a ideia foi boa, mas...
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...como se pode verificar na fotografia acima, a exposição aos elementos começa a fazer alguns estragos nestas vetusta pedras. Por exemplo, uma inscrição, qual impressão digital dos tempos quentes da revolução liberal e lutas que se lhe seguiram, «Rainha e Carta// D. Maria», já quase que desapareceu.
Penso que seria de todo o interesse mandar recolher a sítio seguro este singelo e centenário monumento, o qual, um dia, dignificaria a recepção do Museu que Alenquer ainda não tem, mas, acredito, virá um dia a ter, na Igreja da Várzea ou em qualquer outro local.










16 julho, 2010

UMA FOTOGRAFIA COM 50 ANOS...

... E ALGUMAS IMPRESSÕES QUE A MESMA ME SUSCITOU
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A fotografia acima reproduzida foi publicada no mais recente número do jornal «Nova Verdade», na secção Caixinha de Memórias que o meu amigo Vítor Grilo há vários anos ali tem para satisfação de quantos gostam de mergulhar no passado e aí reverem aqueles que um dia conheceram, ainda meninos ou jovens, na escola, no futebol, no rancho ou em qualquer outra situação que proporcionou uma fotografia de grupo.
Dessa fotografia, tirada precisamente há 50 anos, fiz eu uma digitalização ( daí a pouca qualidade exibida ) abrangendo um pedaço da mesma. Nela se vê o mestre-escola Prof. António Oliveira ( também meu mestre noutros saberes, em especial nos deste concelho que ele conhecia e amava como ninguém ) e um grupo de alunos.
Nada de especial? Uma fotografia como tantas outras de alunos de uma escola? Não meus amigos. Por favor façam um esforço e reparem: Em 1960, na Merceana, concelho de Alenquer, distrito de Lisboa, ainda havia alunos que iam de pé descalço para escola, exibindo uma pobreza que também lhes ia dos membros inferiores ao estômago, como era de todos sabido.
Confesso que isto me chocou. Não porque não tivesse conhecido esta realidade, pois então já tinha treze anos e, mesmo aqui na vila, havia quem não tivesse dinheiro para sapatos. Mas sim porque os dias faustosos do presente já me haviam feito esquecer a pobreza e o atrazo de um passado ainda recente.
Pois é, eu, todos nós e este País também, temos um grave problema de memória. E por «memória»... enquanto meditava sobre o que havia já esquecido, não é que vieram-me à memória aquelas cavalgaduras que à mínima contrariedade exclamam impantes que «o que faz cá falta é o Salazar!».
Pois este era o País de Salazar, em que muitos calçavam o seu primeiro par de botas quando iam às sortes ( que geralmente não lhes sorriam... ). Depois, porque as sortes não lhes sorriam, lá iam para África defender os interesses de meia dúzia de capitalistas-monopolistas, alguns dos quais ainda para aí andam, mais ricos do que nunca foram.
Num plano oposto lembrei-me do ainda recém-construído centro escolar de Paredes-Alenquer que actualmente acolhe os alunos da pré-primária e primária e que tive o privilégio de visitar enquanto autarca. Nessa visita extasiei-me perante as salas de aula bem equipadas e todas com quadros interactivos, perante o seu moderno e amplo refeitório, perante o seu ginásio, perante os campos de jogos e de entretimento, perante o seu parque de recreio coberto, perante os seus adequado sanitários, perante a sala de professores e pequeno auditório...
Claro que perante tanta modernidade me veio à idéia aquilo a que (não) tive direito no meu tempo e lá fiquei muito feliz por saber que, pelo menos, o meu neto iria usufruir de tudo aquilo que agora me deixava de olhos esbugalhados. Mas, sabem que mais? Passado pouco tempo já por aí circulavam algumas críticas, bem intencionadas e fundamentadas, como não podia deixar de ser, lamuriando que as salas de aula estavam longe demais das casas de banho, porque a refeição «assim, assado»...
No que respeita à educação local, o grande assunto momentâneo é o do «Mega-Agrupamento» que irá juntar duas escolas ( a Damião de Góis e a Pêro de Alenquer ) que, desde sempre coabitaram o mesmo espaço. Só que em vez de duas secretarias passarão a ter uma, em vez de dois conselhos directivos passarão a ter um, etc, etc. o que, como é óbvio, permitirá obter certas economias e racionalizar meios, sem com isso pôr em causa a missão lectiva. Esta é, evidentemente, a opinião de um leigo que não lê a cartilha sindical...
Aqui, certamente, também estarei errado por não perceber o fundamento da «Coisa», nome que lhe foi dado por um professor num artigo de opinião no jornal já citado. Mas como haveria de perceber se ainda sou do tempo em que se ia para a Escola de pé descalço e tudo isto agora é uma discussão de ricos?

01 julho, 2010

LOUISE BOURGEOIS - A ESCULTORA DE ARANHAS

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Ao percorrer o jardim das Tulherias a caminho do Louvre numa tarde soalheira de princípio de Primavera, três coisas me impressionaram: Uma, pela negativa, a relativa pequenêz da emblemática pirâmida de vidro.
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Outra, a forma como os parisienses ( e outros visitantes ) aproveitavam o sol que generosamente envolvia Paris, esparrramando-se descontraidamente pelos relvados envolventes do emblemático museu.
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Uma terceira, aquela enorme aranha que parecia saída de um filme de ficção e que contrastava com outras esculturas ao gosto clássico.
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Enquanto ia batendo as fotografias que agora aqui vos deixo ia pensando para comigo quem seria o ou a autora de tão monumental escultura... por isso, logo que tive oportunidade procurei sabê-lo, vindo a descobrir que era uma senhora e se chamava Louise Bourgeois.
Lembrei-me disto ao ler a notícia do seu recente falecimento (31 de Maio) em Nova Iorque, com a provecta idade de 98 anos que a não impedia de continuar de produzir arte. Nasceu em Paris em 1911, mas deixaria esta cidade quando da segunda Grande Guerra, radicando-se, em definitivo, nos Estados Unidos.
Dela se diz que «era uma referência na escultura em vários materiais: madeira, aço, pedra ou borracha» sendo os temas preferidos os «da sexualidade, agressividade e o foco no corpo humano e nas questões da protecção» onde encaixam as suas enormes aranhas que deixou um pouco por esse mundo fora, em Paris também. Também se diz que estas suas obras que na maior parte dos casos contrastavam enormemente com o seu pouco mais que metro e meio de altura, dificilmente se enquandram em qualquer escola, embora no caso das «aranhas» a meu ver, que percebo pouco de arte, sejam nítidos os traços surrealistas.