29 novembro, 2010

O NATAL APROXIMA-SE

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ALENQUER "VILA PRESÉPIO"
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Faltam dias para o Natal e, em Alenquer, na encosta sobranceira à vila, o monumental Presépio ganha forma. Não sei se Alenquer se auto-denominou "Vila Presépio" em resultado deste seu enfeite natalício, ou se o mesmo nasceu e apareceu porque a Vila, em anfiteatro sobre o rio, fazia, já ela, lembrar um Presépio com as suas igrejas e casario alvejando sobre o verde das colinas que abraçam o rio.
Mas sei como esse Presépio nasceu, em 1968, quando era presidente da Câmara o pintor João Mário. Reza a história que a proposta partiu de um seu vereador, D. José de Siqueira e que ganhou forma no estirador de um outro pintor, mestre Álvaro Duarte de Almeida que, mais do que dar forma artística às figuras, teve o mérito de encontrar a escala exacta para o mesmo, inserindo-o, assim, harmoniosamente na paisagem. Refira-se, a propósito, que a figura maior tem seis metros e a mais pequena metro e meio.
Mas Alenquer, conhecida na Idade Média portuguesa como a «Jerusalém do Ocidente», tem ainda outras relações com esta representação do nascimento de Cristo que todos nós conhecemos como Presépio.
De facto, devendo-se este a S. Francisco e tendo sido o Convento franciscano de Alenquer o primeiro da Ordem em Portugal, fundado em 1222 por dois discípulos do santo de Assis, Frei Gualter e Frei Zacarias, chegados a Alenquer em 1216, é bem provável que o primeiro Presépio que Portugal teve tivesse nascido precisamente aqui, em Alenquer.
Ainda sobre o epíteto dado a Alenquer de "Vila Presépio" achámos curioso ver tal denominação já insinuada num bonito soneto de 1903 da autoria de Álvaro F. do Amaral Netto in Brasas da Minha Lareira, transcrito por Natércia Freire no seu Ribatejo.
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ALENQUER
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Envolta em véus de transparente seda,
mostrando a todos graças de princesa,
quisera ver-te, bem formosa e leda,
nobre Alenquer, de senhoril beleza!
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E achei-te linda, aconchegada e queda
- votiva chama num presépio acesa!-,
tão alto erguida, que não sei quem exceda
teu trono e altar em dons de singeleza
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Sentir julguei ainda o fino odor
das tuas rosas - rosas sempre em flor!-
que uma Rainha fez nascer do pão...
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E supus ver, nas minhas ilusões,
passar por ti a sombra de Camões
a quem tu deste o berço e o coração!

21 novembro, 2010

FOI HÁ DUZENTOS ANOS

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ALENQUER LIBERTADA - NOVEMBRO DE 1810

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De forma ainda que modesta, não quis o Pelouro da Cultura da nossa Câmara Municipal deixar de comemorar os duzentos anos da retirada de Massena da vila Alenquer, onde este Marechal havia instalado o seu Quartel-General. Exposições e o lançamento do livro Foi há duzentos anos de António Rodrigues Guapo, em data ainda a marcar, fazem parte do programa.
Todavia, um dos pontos pontos mais altos destas comemorações, terá lugar no próximo Sábado, dia 27 de Novembro, pelas 21 horas, no Pavilhão Municipal das Paredes. Também da autoria de António Rodrigues Guapo, aí será representada uma dramatização desses dolorosos acontecimentos sofridos pelos alenquerenses há duzentos anos.
Um imponente e gigantesco cenário ao comprimento do recinto espera os espectadores e aí evoluirão mais de cem amadores e figurantes dos grupos de teatro do Concelho: Grupo "Vida Activa", "Os 4 e o Burro", "Palmira Bastos" de Aldeiagavinha e "Teatro da Biblioteca" da Labrugeira sob a orientação de Gualberto Silva que também colaborou no texto. Apresentar-se-à, ainda, a Fanfarra da Banda do Exército fardada à época.
Ainda que relativamente curto, estamos certos que todos virão a gostar do espectáculo que lhes será proporcionado.
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É de Guilherme João Carlos Henriques o texto que se transcreve e que relata os acontecimentos ocorridos faz agora dois séculos:

«No dia 12 (de Novembro de 1810) Montebrun marchou, com a vanguarda do exército francês, de Alenquer para Vila Franca de Xira; e o oitavo corpo seguiu de Alenquer para o Sobral. Em seguida o marechal Massena fixou o seu Quartel General em Alenquer. Em fins de Outubro aí esteve o Intendente Geral Lambert. Durante um mês a vila, abandonada quase de todo pelos habitantes, esteve à mercê dos invasores; mas talvez sofresse menos pelo facto de Massena ter aqui os seus doentes em tratamento enquanto não retirou para o norte, o que fez a 12 de Novembro.

No dia 15 daquele Mês a Divisão Ligeira do exército defensor chegou até Alenquer, espiando os movimentos do inimigo, e tendo verificado que estes tinham por destino Santarém, a vila foi ocupada pela Quinta Brigada sob o comando do brigadeiro inglês Campbell. Em 18 de Novembro de 1810 achavam-se em Alenquer os Regimentos nacionais n.º11 e 23, com duas brigadas de artilharia.

Começaram, então, os desgraçados alenquerenses a voltar para as suas casas, que na maior parte encontraram saqueadas e arruinadas. Tinham abrigo, mas de comestíveis havia a mais absoluta falta. Na vila fazia-se, diariamente, a expensas da oficialidade inglesa e nacional, um caldeirão de caridade a que acudiam trezentas pessoas por dia, e no qual se cozinhavam as cabeças, pés e miudezas das rezes que se matavam para sustento dos soldados. Assim duraram as coisas até 5 de Março de 1811, quando Massena, não recebendo os reforços que pedira, começou a evacuar o país.



17 novembro, 2010

NO PRÓXIMO FIM DE SEMANA

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ALENQUER VAI AO TEATRO
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A Troupe de Teatro «Os 4 e o Burro» e a Junta de Freguesia de Santo Estêvão decidiram promover uma Noite Solidária, levando ao palco do Auditório Damião de Goes, nesta vila de Alenquer, Sábado Dia 20, pelas 21,30 horas, a peça do dramaturgo brasileiro Dias Gomes, intitulada «O Santo Inquérito».
Noite Solidária porque a receita reverte inteirinha a favor da obra assistencial da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos que, louvavelmente, aqui presta apoio a famílias carenciadas.
Aproveitando a oportunidade, quiseram as gentes do teatro alenquerense ir ainda um pouco mais além, pelo que Sexta-Feira dia 19, pelas 21,30 horas e Domingo dia 21, pelas 16,00 horas promovem outras duas representações, sendo 50% da receita igualmente destinada à citada Irmandade.
O Grupo «Os 4 e o Burro» assumiu este seu nome singular quando, há já alguns anos, quatro actores se reuniram para na companhia de um burro fazerem teatro de rua, mais concretamente, representarem a peça Ruzante volta da Guerra, de Ângelo Beoco. Depois disso, o elenco cresceu, o burro foi à sua vida e o teatro continuou. Sob a orientação do actor-encenador Álvaro Gomes o Grupo representou A Farsa de Mestre Pathelin, de um Anónimo do Séc. XIV, O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, Pranto para Ignacio, de Garcia Lorca, Deus lhe Pague, de Juracy Camargo e Um Pedaço de Céu que me Fugia, de Pedro Pinheiro, encontrando-se já em ensaios Felizmente Há Luar de Sttau Monteiro.
Sobre este seu trabalho agora em cena, O Santo Inquérito, elaborou o Grupo a seguinte sinopse:
Em meados do séc. XVIII, no auge das visitações do Tribunal do Santo Ofício, Branca Dias uma jovem rapariga cujo único pecado é a sua inocência e ingenuidade, vê-se envolvida num tenebroso inquérito movido por interesses pouco claros, que irá colocar em causa tudo o que sempre acreditou. Perdida a inocência, ganha a consciência de que a dignidade humana é algo de que não se pode abdicar, "nem mesmo em troca da liberdade, nem mesmo em troca do sol". Escrita na década de sessenta, em plena ditadura militar O Santo Inquérito, é uma peça sobre a perversão do poder nos estados totalitários, mas também sobre a intolerância, a incapacidade de compreender o outro.
E você? Vai ficar em casa? Desta vez não acredito.


02 novembro, 2010

HAVERÁ MAIS VIDA PARA ESTE GOVERNO DEPOIS DE...

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DA ESTRATÉGIA DO CINISMO À ESTRATÉGIA DA HUMILHAÇÃO
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Digo-vos desde já, à revelia dos argumentos mais tacanhos que as oposições têm querido fazer passar, que não acredito que a crise económica e financeira que vivemos seja fruto da má governação do executivo de Sócrates ou dos erros acumulados por todos quantos o antecederam.
Antes fosse! Matava-se o mal pela raiz e, como se diz no futebol, passávamos a depender só de nós...
Deixem-me recuar umas décadas neste tempo que já vivi para vos dizer que, quando jovem bancário, tive uma vez formação com um senhor que tinha sido dealer do banco onde trabalhava no Mercado de Capitais de Lisboa. O que era isso? Era um local onde os agentes dos bancos que tinham «excesso de liquidez» (mais dinheiro depositado do que aquele que necessitavam para o crédito que faziam) vendiam dinheiro aos que tinham «falta de liquidez». Qualquer coisa como isto: «Tenho 4 milhões de contos, quem pega?», havendo, naturalmente, quem respondesse, «compro 2 por 15 dias à taxa de juro x ou y».
E isto funcionava porque neste País havia uma coisa chamada «poupança» (vejam bem, num tempo em que a vida era incomensuravelmente mais difícil do que é hoje), porque estávamos num tempo em que ainda não haviamos sucumbido à febre consumista que rouba às famílias o que elas têm e não têm. Sim, porque hoje, Banco ou Governo, se necessitam de liquidez para satisfazer as necessidades de crédito dos seus clientes, particulares ou empresas, ou de funcionamento dos Ministérios, há que ir lá fora e pagar a taxa de juro que as tais agências de classificação de risco atribuem ao país, porque poupanças depositadas, coitadinhas.
Este, o da dívida externa, é como todos sabemos o rosto actual da tal «crise» que há cinco anos nos atormenta (a nós Portugal, à Europa e ao Mundo), aquela que começou pelo rebentamento da tal bolha imobiliária, que passou pelo abanão das instituições que enfardaram nos tais «produtos financeiros tóxicos», que depois... poupo-vos ao resto, para vos dizer que só um cego não vê ou não quer ver, que mesmo as economias mais fortes da Europa tiveram que implementar medidas orçamentais rigorosas para combaterem os seus déficites e cuidarem do seu endividamento.
Eu não sonhei isto, pois não? Então para quê todo este espectáculo para «tótós» distraídos que ainda por cima nos sai caro no mercado externo de capitais? Enquanto ia assistindo ao folhetim das negociações PS/PSD, uma só qualificação me vinha à ideia: «estratégia do cinismo» (por acaso título de um livro de Carlos Coutinho que há muito tempo li e não tem nada a ver com isto...).
Todos estavam muito preocupados com o País, coitadinho, porque vai pagar caro um «chumbo» (tá bem abelha...), mas o que mais interessava aos «salvadores», está visto, eram as sondagens para ver se mandavam ou não o Sócrates bugiar ou fazer um doutoramento em engenharia nos Estados Unidos, que é para onde vão desenfastiar os ex-governantes que por decoro não entram logo num acolhedor Conselho de Administração. E o que pensaria Sócrates? Sinceramente, penso que já não pensa nada, porque isto de cinco anos a dançar com a mais feia...
Hoje, a espaços, assisti ao debate do Orçamento. O que me veio à ideia? Que da «estratégia do cinismo» havíamos passado à «estratégia da humilhação». O Sócrates que eu vi hoje no Parlamento, não era seguramente o mesmo combatente de outrora, era a sombra do político que foi e essa sombra toldava-lhe já o rosto. Estava lá, mas era como se já lá não estivesse.
Desculpem-me: Que triste espectáculo de arrogância o daquela bancada que, dizem as sondagens, nos irá em breve governar. Assis esteve certo naquilo que disse àqueles que vão fazer o favor de dar aos portugueses este Orçamento por eles classificado de inqualificável, e eu não sei como classificar esse gesto abnegado de Coelho e quejandos...
Mas há uma coisa que todos já sabemos: que este é um Governo de dias contados, os dias que na estratégia partidária laranja faltam para Cavaco ser de novo eleito Presidente da República. E que dias serão esses que este Governo irá (ou poderá) dar ao País depois da aprovação por omissão deste Orçamento? Depois do que vi hoje acontecer em S. Bento, acho, só, que vamos ter um Inverno muito cinzento e duvido muito que a Primavera se vista de verde, que é a cor da esperança.