08 novembro, 2011

A REFORMA ADMINISTRATIVA E AS FREGUESIAS


«...O PRIMEIRO E MAIS SÓLIDO PATAMAR DA DEMOCRACIA PORTUGUESA»
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Em 2006, no jornal local «Nova Verdade», publiquei o artigo acima. Finalmente, decorridos meia dúzia de anos, a reforma das freguesias ganha corpo e sentido. Penso que no momento actual terá algum interesse recordar aqui o que então escrevi.
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O título não é nosso, tomámo-lo de empréstimo a Armando Vieira, presidente da ANAFRE - Associação Nacional de Freguesias, que assim as definiu, concluindo: «...mas continuam a ser o parente paupérrimo da administração pública, vivendo de muita carolice».
Ao todo, por esse País fora, são 4.257, mas o seu peso no Orçamento do Estado é, tão só, de 0,21%! Daqui facilmente se concluirá que, quando se fala da extinção de freguesias, a causa nunca poderá ser económica, ou, pelo menos exclusivamente económica.
Neste universo de mais de quatro milhares de autarquias há de tudo um pouco: Concelhos com uma única freguesia, como, por exemplo, Alpiarça ou Barrancos e concelhos com 89 freguesias como Barcelos. Freguesias com 46 habitantes (2001) como S. Bento de Ana Loura em Extremoz e outras como Algueirão-Mem Martins, Sintra, com 62.557 (2001).
Ainda mais dois exemplos quanto à desproporcionalidade reinante entre freguesias, os quais até poderão não ser dos mais expressivos: Alfândega da Fé, um concelho com 5.796 habitantes, possui 20 freguesias, sendo que duas têm menos de 100 habitantes, dez menos de 200 e seis menos de 500. Arcos de Valdevez regista 51 freguesias, oito com menos de 200 habitantes, 26 com menos de 500 e 12 com menos de 1.000.
Como conjugar esta realidade com uma recente afirmação de Eduardo Cabrita, Secretário de Estado-Adjunto e da Administração Local, o qual numa lógica de proximidade e de serviço público defendeu que «é necessário transformar cada freguesia numa mini-loja do cidadão»? Provavelmente procedendo a uma reforma administrativa (...).
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- Vila Verde dos Francos - A freguesia do concelho mais distante da sua sede, Alenquer.
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Mas, para além do da dimensão ainda subsiste outro problema: o crescimento das urbes, com o surgimento de novas centralidades, tornou sem sentido uma antiga divisão administrativa. Por exemplo, em vez das actuais freguesias de Triana e Santo Estêvão, dividindo ao meio a vila, não faria hoje muito mais sentido a existência de uma freguesia cuja área abrangesse toda a Vila?
Outra questão pertinente, no que às freguesias respeita, é a das competências. Nas freguesias urbanas, com dezenas de milhar de habitantes, a inexistência de competências em áreas consideradas fulcrais como a segurança, a habitação, políticas sociais, etc. são extremamente sentidas. E como entender que uma freguesia, com o seu reduzido orçamento não possa recorrer ao crédito sequer para adquirir uma máquina de que necessita com urgência para tratar dos seus caminhos?
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- ALENQUER - Entre o Tejo e a Serra de Montejunto iam 16 freguesias. Quantas ficarão?
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É ainda necessário que, no futuro, o cumprimento de um mandato numa Junta não seja mais considerado um acto de carolice. Os tempos e os novos desafios aconselham que em cada Junta haja um autarca a tempo inteiro, embora isso só faça sentido num quadro diferente do actual, com freguesias com outra dimensão e novas e mais dilatadas competências.
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 Tanto quanto julgamos saber, o trabalho de adaptação do nosso quadro concelhio de freguesias ao que o «Documento Verde» propõe, está a decorrer sem problemas de maior, com as forças políticas e órgãos autárquicos empenhados na obtenção de um consenso tão amplo quanto possível, mas um consenso que em nada prejudique as populações.
O espírito do documento tem estado presente, mas o quadro que se desenha não virá a ser um quadro a «régua e esquadro», passando por cima de toda a lógica que as realidades locais impõem. Pois que assim seja e que esta venha a ser uma reforma bem aceite, seja qual for o número de freguesias que daí resulte.

09 outubro, 2011

A «VILA ALTA» DE ALENQUER

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O ADRO DA MISERICÓRDIA 
(UM VELHA HISTÓRIA TIRADA DE UM VELHO JORNAL) 
«Tem sido, de épocas remotas até ao presente, o adro da Misericórdia o centro de reuniões dos ilustrados da terra. Ali se têm enterrado e desenterrado muitas reputações.
Teve Alenquer os conventos de frades de S. Francisco, Santa Catarina e Carnota; as colegiadas de Santo Estêvão, S. Pedro, Triana e Várzea, aonde eram admitidos grande número de ociosos; haviam os escrivães dos corregedores, provedores, juízes de fora e muitos outros, sendo então esta vila denominada a terra de penas e glórias.
Em todas as tardes, até alta noite, grande parte daquela caterva de indivíduos tomava assento na bancada do adro discutindo religião, política, justiça e a vida privada de cada um dos ausentes e dos que, pouco a pouco, se retiravam.
Fez em tempo parte daquela reunião o venerável Padre Manuel da Costa Martins, avô dos sr. Alfredo Pereira do Carmo, sendo sempre o último a retirar.
Perguntando um dia porque era sempre o último a sair daquele lugar, respondeu:
- Quero ouvir o que dizem dos outros e não quero que ouçam o que dizem de mim.
Acabaram os frades, as colegiadas e a nova organização judiciária e administrativa resumiu o número de escrivães, mas ainda assim o adro da Misericórdia continuou a ser frequentado por muitos indivíduos da primeira sociedade: - Não sabemos se com os antigos vícios e virtudes…».

-In O ALEMQUERENSE,  N.º 192 de 15 de Novembro de 1891
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As manhãs de Domingo, porque mais sossegadas e livres de carros em incessante movimento, são para mim boa ocasião para deambular pelas ruas de Alenquer. Subi à minha Vila Alta de sempre, e quando olhei de frente a Igreja da Misericórdia, logo me veio à memória a história acima transcrita.
Também nos meus tempos de infância e juventude, aquele banco que ali se vê era poiso certo para a cavaqueira e, não diria má língua, mas para uma revista noticiosa do que de bom e mau pelo bairro ia acontecendo. E, olhando o banco, é como se ainda ali visse os irmãos Paulo, o Adriano Mendonça, o meu tio Renato, o Álvaro Avellar, o Zeca Pina, o Zé Augusto Carteiro entusiasmado com as aventuras do Papillon que o Século publicava diariamente em tiras de banda desenhada... Como é (sempre) bom regressar a esta Vila Alta, centro histórico da vila de Alenquer!
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Mas, olhando melhor, pergunto a mim mesmo o que faz ali aquele «matacão» carregado de fios (eléctricos? dos telefones? da tv cabo? de todos e mais algum que agora esqueço?) projectado contra a fachada sóbria da centenária igreja? Realmente... E pergunto: Quando será que essas empresas perdulárias em ordenados milionários dos seus administradores se dignam enterrar a fiarada, numa atitude de respeito pelo nossso património e pelas nossa zonas urbanas mais antigas e qualificadas?
Mas, que mais vejo? Que fazem por aqui estes candeeiros «pindéricos» (a crise pode justificar muita coisa, mas não justifica tudo)? Ao menos que fossem uns candeeiros «lanterna», vagamente apontando ao antigo, como os que mais recentemente foram colocados nos passeios à beira-rio...
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Nasci nesta primeira casa da antiga Rua Direita da Praça, depois Rua Jornal A Verdade, hoje Rua Renato Leitão Lourenço. Mas digo-vos uma coisa: fui um puto com sorte, pois nesse passeio, hoje feito estacionamento automóvel, brinquei eu muitas vezes à sombra das árvores que aí existiam (entre elas uma ameixoeira cujos frutos não tinham tempo para amadurecer) e dei belas pedaladas de triciclo. Avante... 


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Também brinquei muito no largo deste chafariz. No imóvel coberto de azulejos morou a família Batoréu, por baixo, ficava a loja do sr. Marques, e mesmo em frente, a salsicharia e padaria do sr. Ventura. Ao lado, depois da travessa, ficava a taberna do Moreira (depois do Galinha) e, por cima, morava a sr.ª Amélia do Hotel, ficando no rés do chão o escritório do solicitador sr. Juta. Ainda no andar térreo, era o lugar de frutas e hortaliças da sr.ª Margarida (a que alguns chamavam «Maria Gulosa»), também lugar de peregrinação e de culto da miudagem que aí comprava os rebuçados com os cromos da bola. Sempre no afã de completar a caderneta não havia tostão que escapasse! No primeiro andar viria anos depois a morar o meu avô Tomé, e, após a sua retirada, foi escritório do advogado Dr. Ralha Leitão.
Hoje está tudo velho... aposto vai cair! Mas havia mais. Aqui, neste largo reunia de madrugada a «praça de homens» onde os jornaleiros vinham alugar os seus braços. E como dar largas à imaginação não custa nada, já pensaram como aquela parede escalavrada ficaria bonita com um painel de azulejos evocativo desses tempos difíceis que faziam de cada «cavador» um herói?
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Do Adro da Igreja, caminhando agora em sentido oposto, entra-se no Largo Luís de Camões ou Largo da Câmara, por natureza e vocação a sala de visitas da vila. Naquele prédio que ali se vê, morou a sr.ª Júlia Carreira e, por debaixo, ficava o escritório de seguros da «Império» que pertencia ao sr. Fernando Campeão, então comandante dos bombeiros e onde trabalhava a nossa grande actriz amadora Maria Luísa. Também lá morou o Rocha com a sua filharada. Bom homem e bom guitarrista, o Rocha foi o grande animador dos conjuntos de baile locais.
Hoje está no estado que se vê. Aposto que vai de pantanas para o quintal do Mimoso...
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Quem se aproximar do gradeamento, sempre tem a recompensa de, olhando para a direita, ver lá no alto a Igreja conventual de S. Francisco, ex-libris da vila de Alenquer. Mas, tenho a certeza, que no alto do campanário o galo (que dizia à vila o tempo que ia fazer) está a olhar um tanto ou quanto admirado para aquela «molhada» de antenas de comunicações que conspurcam uma paisagem que se dizia ser intocável! Canta galo! Canta até que alguém te ouça...
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E agora... Agora, não digo mais nada. São só duas bonitas fotografias para lavarem os olhos de tanta coisa que não deveriam ter visto na ilustração desta minha «viagem», quase sentimental, onde recordei a Vila Alta de há cincoenta anos. Mas, acreditem, Alenquer merece este incómodo (é sempre incómodo para quem o escreve e para quem o sofre) que, assim o espero, tão só deve ser interpretado como uma ajuda, talvez impertinente, aos homens e mulheres de boa vontade da minha terra a quem os alenquerenses confiaram a «coisa» pública, ainda por cima em tempo de «vacas magras» e de executivo «balcanizado».

03 outubro, 2011

A DESAPARECIDA FREGUESIA DE SANTIAGO

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UMA MEMÓRIA QUE SE DESVANECE
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Esta velha fotografia da minha colecção mostra-nos a torre sineira da já desaparecida igreja de Santiago, a qual se situava fora muralhas, nas costas da antiga Judiaria, pendurada na colina que do Castelo desce para o rio por cima do sítio da Redonda.
Por acaso esta fotografia é uma das melhores entre as poucas que conheço da vetusta ruína. Em miúdo, eu e outros «exploradores» da minha idade, gostávamos de trepar ao andar sineiro para aí gozarmos do prazer da conquista que tal aventura alpina nos proporcionava. Depois, descíamos ao «Olho d'Água», que era então a nossa piscina, e dávamos uns valentes mergulhos, ali onde a água saída das nascentes gorgulhava a alguns metros de fundura, para, por fim, nos deitarmos ao comprido na pedra do esbarro (assim chamávamos à vertente inclinada do açude por onde a água esbarrava) gozando do prazer simultâneo do sol e da água que descendo nos cobria e refrescava. 
Mas desiludam-se os putos de hoje que queiram imitar-nos, pois a Torre há muito que caiu e, nem sei mesmo se as pedras escaparam, pois esses terrenos que na fotografia vemos livres, aparecem-nos hoje bem vedados e guardados.
Quanto ao «Olho d'Água» perguntem à EPAL por ele e escusam de procurar pelo açude, obra do arquitecto José Terésio Michelotti (nos primeiros anos do séc. XIX) que alguns alenquerenses e escravos argelinos para aqui trazidos levantaram em boa pedra da região, pois dessa importante obra de hidráulica que fazia mover os cilindros que destroçavam o trapo da Real Fábrica de Papel, nem a evidência de alguns alicerces por lá ficou assombrando o leito empedrado do rio. 
Mas regressemos a Santiago e à sua Igreja desaparecida, a qual, segundo Guilherme João Carlos Henriques, «foi edificada por D. Afonso VI, no sítio da primitiva...». Diz ainda o historiador que a igreja primitiva «...foi fundada pelo primeiro rei de Portugal, em comemoração de um milagre que teve lugar ao pé do postigo nas muralhas, em frente do sítio dela».
Segundo João Pedro Ferro, a referência mais antiga que se conhece, relativa à freguesia de Santiago, remonta a 1226, portanto, a segunda mais antiga das cinco freguesias que a vila de Alenquer já teve (Santo Estêvão, Santiago, Santa Maria de Triana, Santa Maria da Várzea e S. Pedro). A freguesia de Santiago, pela sua situação na vila, não tinha nesta fogos ou almas, mas a ela pertenciam Pancas, Parrotes e Carregado. Anexada esta freguesia à de Santo Estêvão, extinguir-se-ia, também a paróquia. Foi quando «...a igreja caiu rapidamente em ruína (...) foi derrubada, sendo o material aproveitado na construção de uma ponte que liga à estrada da Merceana», a qual, por sua vez, também desapareceria, embora dela ainda guarde boa memória.
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Na muralha próxima ao local onde outrora se ergueu a igreja de Santiago, vê-se este nicho (que foi porta ou janela) e, ao olharmos para ele, quantas vezes já imaginámos que, limpa a muralha, iluminado o nicho, como ficaria ali bem uma imagem de Santiago, daquelas que os santeiros minhotos e galegos esculpem em granito da região (e não são caras...). Depois era só colocar um gradeamento que lhe desse segurança e uma placa que evocasse as desaparecidas igreja e freguesia de Santiago. E assim se alindava uma entrada da vila, situada junto às muralhas do Arco da Conceição, antiga Porta do Carvalho. Não sei se a muralha é pública ou privada, mas se é privada concerteza que o seu proprietário não se oporia à sua limpeza, alindamento e conservação.
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Em Alenquer, porque aqui há beleza natural, História e algum património interessante, gostamos muito de falar de Turismo. Turismo de passagem, já vê, porque para uma indústria turística faltam todas as infraestruturas que habitualmente suportam uma indústria dessas. Admitamos que a Alenquer vêm turistas e que estes, chegados cá sejam atraídos pelas muralhas do castelo acima, uma evidência que não pode passar despercebida ao viajante. Aí chegados, que se lhes oferece aos olhos?
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1 - A Torre da Couraça (propriedade privada que já há muito tempo deveria ter sido expropriada) esventrada e tomada pela vegetação. Sobre a Torre erguia-se uma casa de habitação que foi da administração da Real Fábrica de Papel, onde funcionaram serviços públicos e camarários enquanto os actuais Paços do Concelho estiveram em construção e que, por último, foi consultório médico. Disse-me quem percebe do assunto que, dentro do enorme fosso, jaziam vigas de madeiras preciosas que hoje já não se encontram em lado nenhum...
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2 - A Igreja da Várzea, propriedade da autarquia (que já lá vão  bons anos deu 15.000 contos por ela à Diocese de Lisboa, para, depois, nunca mais saber o que lhe fazer) com o telhado novo que o IPPAR lhe pôs a ser devorado pela vegetação e a torre no estado que se vê. Projectos de recuperação ainda houve (Casa Memória Damião de Goes)... Ao abrigo do Programa Operacional de Cultura poderia ter sido musealizada com fundos a 75%, mas, os 25% que faltavam, eram mal empregues se o não fossem em alcatrão!
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3 - O recinto interior escalavrado e pedregoso (torrado pelos herbicidas) ornamentado por um improvisado parque automóvel, materiais e entulho. Não seria possível ajardinar o recinto em socalcos ou implantar um anfiteatro em pedra?
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4 - O lixo convivendo com as muralhas. O piso do passadiço que corre junto á muralha está num estado lastimável.
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O mais curioso disto tudo é que ainda na última sessão da Assembleia Municipal (há poucos dias), os deputados municipais votaram por unanimidade a entrada de Alenquer para a «Rota das Judiarias» (eu também. Eu também benza-me Deus, porque não gosto de ser desmancha prazeres...), tudo por amor ao Turismo, já se vê... Pois bem, este «presépio» que neste Domingo fotografei, é uma das portas de entrada da Judiaria!
Não sei quantos deputados municipais dessa maioria unânime já puseram os pés na Judiaria (seria engraçado ter esse número), mas votaram convictamente. Pois então, agora façam como eu um acto de contrição e peçam ao nosso executivo que, com algumas sobras do que a crise leva, ponha um pouco de ordem e limpeza no nosso património. E, também que, pelo menos, comece a pensar em algumas soluções de futuro para a Torre da Couraça e para a Igreja da Várzea. É porque senão... senão não vale a pena continuarmos a falar de Turismo.

29 setembro, 2011

REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL

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ALENQUER À LUZ DO «DOCUMENTO VERDE» (Cont.)
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- O Eixo 3 deste documento, orientado para a Gestão Municipal, Intermunicipal e Financiamento, reveste-se de alguma complexidade. Numa tentativa de simplificar as coisas, diremos que ele preconiza «reformatar as competências dos diferentes níveis das Divisões Administrativas (leia-se Juntas, Câmaras e CIMs) transferindo competências das Câmaras  para as Juntas (daí a anterior referência ao seu aumento de escala) e para as CIMs (Comunidades Intermunicipais).
Os regionalistas vêm neste desígnio uma tentativa de liquidação das Regiões Administrativas, e, se bem me lembro, afinal, voltaram ao poder os inventores desta regionalização envergonhada que são as Comunidades Intermunicipais, daí...
 Pessoalmente torço o nariz a este protagonismo que a reforma atribui às CIMs.Porquê? Então retiram-se competências aos Municípios cujos eleitos estão directamente legitimados pelo voto para as entregar a quem só indirectamente possui essa legitimação? Então entrega-se o exercício de competências a quem as vai acumular com as que já exerce nos respectivos órgãos autárquicos? Em boa verdade terão esses futuros dirigentes dos executivos das CIMs disponibilidade para o exercício dessas funções que irão acumular com as dos executivos camarários de onde provêm? O futuro o dirá... Por agora iremos ter «um estudo-piloto sobre os modelos de competências, modelos de financiamento e transferêncas de recursos, baseado em duas Comunidades Intermunicipais (uma de território maioritariamente rural, outra de território maioritariamente urbano)».
No que concerne aos «objectivos específicos» apontados, referirei dois por me parecerem interessantes ou relevantes. No primeiro caso a intenção de «Criar um Barómetro de Gestão Autárquica, através da DGAL, no qual constem as melhores práticas ao nível do Poder Local». Quanto ao segundo caso a «Revisão do regime de financiamento das autarquias locais com vista à prossecução dos seguintes objectivos: I. Sustentabilidade financeira; II. Novo paradigma da receita própria». Não dependente do imobiliário como prometeu um dia José Sócrates para nunca mais se lembrar? Veremos.
Ainda neste Capítulo lemos que as «Freguesias virão a ter «atribuições e competências (...) reforçadas e diferenciadas de acordo com a sua tipologia e dimensão». Freguesias de «primeira» e de «segunda»?
- Por último, Eixo 4, o da Democracia Local. No que diz respeito aos Eleitos Locais o documento oferece-nos, à partida, o seguinte quadro:
Municípios
308 Câmaras Municipais
Membros de Executivo: 2078 (308 Presidentes - 1770 Vereadores)
Membros de Assembleias Municipais: 11.205 (incluindo 4.259 Presidentes de Junta de Freguesia)
Freguesias
Membros de Executivo: 13697
A divulgação destes números, claro, pretende convencer-nos da necessidade da sua redução. Assim, Municípios com mais de 10.000 e menos de 50.000 mil eleitores (Alenquer), passarão a ter 4 Vereadores (mais o Presidente), dos quais só 2 a tempo inteiro. Pretende-se que estes executivos sejam «homogéneos [sujeitos à fiscalização da Assembleia Municipal, que deverá ser alvo de reforço de poderes neste âmbito]»;  Pretende-se ainda a revisão da Lei Eleitoral de modo a que:
- «O Presidente do Município (seja) o cidadão que encabeça a lista á Assembleia Municipal mais votada».
- «Os restantes membros do Órgão Executivo são escolhidos pelo Presidente de entre os membros eleitos para a Assembleia Municipal».
Ainda no que respeita á Assembleia Municipal, pretende-se:
- «Ponderar um reajustamento das actuais competências das Instituições Autárquicas Municipais, acentuando a importância da Assembleia Municipal enquanto órgão deliberativo»;
- «Redução do actual número de Deputados Municipais (veja-se como se fixa este termo que no início não passava de «membros da Assembleia») como consequência da redução do número de elementos dos Executivos Municipais». Resumindo, desja-se menos Deputados Municipais, mas melhores e mais qualificados.
Todavia não só dos eleitos nos fala o Documento, pois estabelece também critérios limitando o número dos Dirigentes Municipais, funcionários de carreira. Assim, a Câmara de Alenquer, pelo número de habitantes na sua área municipal passará a ter um quadro de: 1 Director de Departamento e 4 Chefes de Divisão, o que, a concretizar-se, significará uma diminuição significativa de quadros. Mas, trará esta  diminuição uma economia de custos? Não forçosamente: Técnicos Superiores no topo de carreira não verão os seus salários diminuídos especialmente pelo facto de abandonarem as suas funções de chefia, e, pelo contrário, sentir-se-ão aliviados e libertos de responsabilidades com o mesmo dinheiro na algibeira ao fim do mês. Pensaram nisso senhores reformadores?

28 setembro, 2011

REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL

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ALENQUER À LUZ DO «DOCUMENTO VERDE»
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Porque «a gestão local complexizou-se» e «os problemas de fundo somente se resolverão com mudanças estruturais» e não com «medidas avulsas», o Governo acaba de publicar o «Documento Verde da Reforma da Administração Local».
Como consta do seu «Preâmbulo», esta reforma terá quatro eixos de actuação: O Sector Empresarial Local (Empresas municipais e afins), a Organização do Território (Freguesias, Concelhos e estruturas intermunicipais), a Gestão Municipal, Intermunicipal e o seu Financiamento (órgãos, eleitos, cargos dirigentes, meios financeiros e toda a legislação que condiciona, organiza e promove a actividade destes órgãos face aos seus fins últimos ) e a Democracia Local (órgãos do Poder Local, sua eleição, composição e funcionamento democrático). Por conseguinte, esta actuação reformista, pretende ser uma Reforma de Gestão, do Território e Política.
Diz ainda o documento que, para que haja verdadeira autonomia, estes eixos sobre os quais se irá actuar «têm um tronco estrutural único», cujo objectivo é «a sustentabilidade financeira [bem necessária face à situação actual - e generalizada - de carência de verbas ditada pela quebra de Receitas e gestões, nalguns casos, danosas], a regulação do perímetro de actuação das autarquias e a mudança de paradigma de gestão autárquica (pena é que esta "mudança de paradigma" não seja aqui melhor concretizada em palavras).
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(Tapeçaria da Câmara de Portalegre)
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Para já, porque até ao fim do segundo trimestre de 2012 muita discussão irá haver (rigorosamente programada segundo minuciosos cronogramas), e dessa discussão, logicamente sairão concretizadas propostas, agora tão só delineadas nas metodologias a seguir e nos objectivos a alcançar, dizíamos nós, para já o que daqui irá sobrar para o munícipio de Alenquer, será o seguinte:
- Metendo Alenquer nos eixos (de actuação, já se vê...), no que respeita ao primeiro, ou seja, a reforma do Sector Empresarial Local, nada  há a dizer, uma vez que por aqui não existem Empresas Municipais e, até mesmo a Alemunicipal (uma Associação Câmara/Juntas da Vila), feito o seu saneamento financeiro por transferência das suas responsabilidades para a Câmara, julgo eu que se encontra desactivada (não me surge melhor adjectivo), subsistindo tão só para pagamento dos salários aos seus funcionários que, até ver, não podem ser transferidos para o quadro camarário, caso contrário já teria desaparecido. 
- Quanto ao eixo 2, Organização do Território, o documento coloca todo o seu ênfase na promoção da «redução do actual número de freguesias (4.259), pela sua aglomeração [mau caminho, o desejável seria o do redesenho do mapa concelhio das mesmas]» visando a «criação de novas Freguesias com maior dimensão de escala [de acordo, pois só um aumento de escala permitirá a assumpção de novas e mais importantes competências, objectivo há muito ambicionado], de acordo com as suas tipologias e salvaguardando as especificidades territoriais».
No que respeita a Alenquer, concelho definido como do «Nível 2», atendendo à sua densidade populacional   (+ de 100 habitantes por Km2 e - de 500 por Km2), as freguesias da sede do Município (APU) deverão ter, num raio de 3 Km, 15.000 habitantes, logo Santo Estêvão e Triana darão lugar a uma só. No restante concelho as de «área predominantemente rural - APR» deverão ter no mínimo 1000 habitantes e as de «área maioritariamente urbana - AMU» ou «área predominantemente urbana - APU» 5.000 habitantes  situando-se a menos de 10 Km da sede do Município e 3.000 a mais de 10 Km da sede do Município.
Ora, como sabemos, só Triana, Santo Estêvão e Carregado estão acima destes valores. Por outro lado, o documento define 6 freguesias como «APR» as quais, tudo indica, se manterão intocáveis por terem mais de 1.000 habitantes (Quais são? Pelo Censos de 2001 só o Pereiro de Palhaca e Ribafria tinham menos de 1.000 habitantes, embora esta última estivesse lá muito próximo, podendo já ter atingido esse número), pelo que as restantes 8 definidas como de «AMU» serão aquelas que terão de caminhar para um processo de fusão, reduzindo-se no meu cálculo (algo falível) a 3. Assim, à partida, é bem provável que o concelho de Alenquer de 16 passe a 10 freguesias. Mas, atenção, isto é tão só um cálculo, um exercício difícil de fazer, pois todo o processo é mais complexo do que aquilo que este post deixa imaginar...
Sobre este ponto ainda duas considerações: Diz o documento que para alcançar este objectivo de redução de freguesias, se deve, entre outros factores, «considerar a contiguidade territorial como factor determinante». Pois sim, à partida parece razoável, na prática, a rivalidade entre freguesias vizinhas será um poderoso obstáculo. Por ex.: será possível juntar Ota a Abrigada? Pois...
Este eixo contemplaria ainda a fusão de concelhos, mas, quanto a esse desígnio, o documento mostra-se mais «amarelo» do que «verde», ficando-se por: «Incentivar a fusão de Municípios...», e por aí, por este diapasão afina. Nada de muito objectivo.
Num dos Mapas que constam dos Anexos, Alenquer com uma área de 304,2 Km2 e 42.362 habitantes (Censos de 2011) apresenta 16 freguesias sendo 6 (APR), 2(APU) e 8(AMU), mas não identifica quais são umas e outras, o que dificulta o nosso cálculo quanto ao desaparecimento de freguesias e quais. Resta dizer que, segundo o cronograma, no último trimestre deste ano o assunto estará à discussão pública, nas Assembleias de Freguesia e Municipais.
Continuaremos... 

25 setembro, 2011

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DITADAS POR UMA VISITA A...

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- Antiga ponte ferroviária sobre o Rio Zela que a atravessa o parque urbano da Liberdade.
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VOUZELA - TERRA DE LAFÕES
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Quase por acaso, ao cair do Verão, rumei a Vouzela para um fim semana de lazer, levando na bagagem uma velha ideia de, a partir daí, visitar Castro d'Aire (Mões) e Gralheira, terra dos meus antepassados mais remotos. A escolha não poderia ter sido melhor, pois este «interior» que se diz moribundo impressionou-me vivamente, daí este escrito.
Vouzela é sede de um pequeno concelho (de mais ou menos 12.000 habitantes) a 20 quilómetros de Viseu, aonde se chega, a partir de Aveiro, pela A25. As suas 12 pequenas freguesias colocam-no muito perto das termas de S. Pedro do Sul, de cuja vizinhança claramente beneficia, e de Oliveira dos Frades.
- Igreja matriz, românica.
É uma vila simpática, de população acolhedora, terra asseada, arrumada e bonita (não me passou despercebido o pormenor de os números de polícia dos imóveis serem todos iguais, do mesmo material e desenho). Tem um comércio tradicional de qualidade, bons restaurantes, padarias, cafés, pastelarias, uma hospedaria de referência (a «Casa Museu») e, quanto a equipamento social, nada parece faltar-lhe. Senão, vejamos: Na Saúde aí encontramos um excelente e grande Centro de Saúde e uma unidade hospitalar de trabalhos continuados (antigo hospital da Misericórdia); Na Educação uma EB1 e Jardim de Infância, uma Escola Secundária e uma Escola Profissional; na Cultura a Biblioteca Municipal (antigo edifício dos Paços do Concelho), Museu Municipal (antigo Tribunal) e um moderno Cine-Teatro.
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- Piscinas Municipais
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Continuando. No Desporto o concelho possui Carta Desportiva aprovada e um Gabinete de Desporto onde, entre outros, prestam serviço 5 licenciados em Educação Física e Desporto. As Piscinas Municipais (cobertas e ao ar livre), para além do ensino da Natação e de proporcionarem a sua prática em várias vertentes, possuem ainda Sauna e Banhos de Vapor. Na vila existem dois pavilhões (um nos Irmãos Maristas) e vários polidesportivos, os percursos pedestres existem e estão exemplarmente sinalizados, os parques infantis são modernos e estão estimados.
A tudo o que já dissemos, juntemos o Tribunal, as Finanças, o moderno quartel da GNR e os Correios. Tudo bem no centro da vila, uma vila plenamente habitada e vivida.
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- Correios de Vouzela - Achei interessante a integração dos antigos marcos no moderno projecto (a propósito... por onde andarão aqueles que um dia Alenquer teve?).
- Trecho do Centro Histórico a partir da ponte romana. Aí são inúmeras e bonitas as casas brasonadas.

- Casa dos Távoras com o seu brasão «picado».

-Capela de S. Frei Gil
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Aqui chegados, apresentada que foi (ainda que superficialmente) esta pequena vila sede de concelho, deixemos o bucolismo desta terra banhada por um rio de montanha que corre para o Vouga, ali perto, para derivarmos para algo de importante que irá acontecer ditado pelas tão propaladas «medidas troikanas»: a reforma administrativa que incidirá sobre as autarquias locais.
Não tenho sombra de dúvidas sobre a sua necessidade, a confirmar-se o que tem vindo a ser publicado: uma só lista para Câmara e AM, executivos monocolores (quem ganha governa) e menos numerosos, reforço dos poderes de fiscalização das AMs, diminuição do número de freguesias e de concelhos.
No entanto, uma dúvida instalou-se: Ao desaparecerem concelhos como o de Vouzela (não necessariamente o de Vouzela!) que acontecerá a essa vilas que, notoriamente, devem muito da sua vida e prosperidade ao facto de serem sedes de concelho e albergarem no sua malha urbana tantos serviços da administração local e central? Não voltarão a ser as mesmas, digo eu, definharão, apargar-se-ão. Eis uma medida que requer todo o cuidado na sua aplicação, senão mesmo um manguito à troika.
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Nota: -Por último, seria um crime esquecer-me, Vouzela tem a «oitava» (para não dizer primeira) maravilha gastronómica do País - o «Pastel de Vouzela», uma obra prima da pastelaria, segredo bem guardado de três famílias da terra que abastecem o comércio local da especialidade. E como se vendem...!

21 setembro, 2011

ESTÁ BONITA A BRINCADEIRA....

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VAMOS TODOS BAILAR, O BAILINHO DA MADEIRA!

«E agora?

Agora não vão dizer que tinham escrito um artigo há dez anos alertando pela situação.

Agora não vão enviar cartas à troika insinuando que há esqueletos no armário?

Agora o Pingo Doce não vai publicar livrinhos da fundação do marçano Barreto assustando os velhinhos com o perigo de não haver dinheiro para pensões.

Agora não vão dizer com ar de espanto que há um desvio colossal nem o Gaspar vai explicar melhor as palavras e muito menos dizer que gosta da expressão.

Agora não vão dizer que os responsáveis pelas fraudes financeiras que resultam em dívida soberana, deverão ser responsabilizados criminalmente.

Agora não vão dizer que há limites para a austeridade.

Agora não vão aparecer na campanha eleitoral madeirense e muito menos beber ponchas em Chão da Lagoa.

Agora não vão a Belém entregar ao homem da Quinta da Coelha uma petição onde se diz ser necessário um governo de salvação nacional.

Agora vão dizer que a situação portuguesa não tem nada em comum com a grega, algo que se dizia há uns meses.

Agora não vão exigir orçamentos que apostem no crescimento.

Agora o Presidente da República vai fugir da comunicação social como o diabo foge da Cruz?

Agora o Passos Coelho passa a vida em reuniões europeias a tentar dar ares de líder europeu em vez de ir em busca de mercados para as nossas exportações.

Agora que vão haver eleições na colónia do Idi Amin Dada ninguém fala em asfixia democrática.

Agora os magistrados deixaram de dar entrevistas e o sindicalista dos magistrados não defende a criminalização das decisões políticas que conduzam a uma crise financeira.

Agora os professores contratados estão felizes por serem despedidos pelo Passos Coelho; é melhor serem despedidos do que trabalharem e serem avaliados.

Agora corre tudo bem neste país.»

(extraído de "O Jumento" em 17Set)
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Agora, digo eu, «Vamos todos dançar, o bailinho da Madeira»...
E depois? Quando o Soba for eleito com a maioria absoluta dada pela fiel e conivente clientela? Que fazer então? Continuar a desembolsar? Há que pensar seriamente no assunto....

19 setembro, 2011

RUA SEM CARROS...

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FLORESTA SEM ÁRVORES?
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Alenquer entendeu discutir o seu presente e futuro como urbe e fez bem. Pelo que já li, de uma primeira reunião pública e alargada resultaram algumas conclusões, entre elas, fatalmente, a de «fechar ao trânsito automóvel a Rua Triana», uma rua que já foi a principal rua comercial da vila, mas que chegou a um estado lamentável de abandono (físico e comercial).
Atrás disse, «fatalmente», porque essa ideia discute-se há anos, emergindo do imaginário colectivo sempre que alguém, pessoa ou instituição, dá conta que a vila está parada e é preciso fazer alguma coisa para que, como se disse um dia, tudo continue na mesma.
Por coincidência, li por estes dias num jornal regional que os comerciantes de Vila Franca de Xira estavam fulos porque a sua Câmara não tinha retirado das ruas, onde tradicionalmente correm os touros, os pilares que suportam as tranqueiras ali colocados pelo Colete Encarnado e que por lá continuam à espera de servirem as largadas da Feira de Outubro. Entendiam eles que isso prejudicava a apreciação das montras por parte de quem circula de carro, reflectindo-se já pela negativa no negócio esse esquecimento (crise ao que obrigas...) camarário.
Também por coincidência, li há pouco tempo num artigo dedicado ao urbanismo que «no cars, no business», pois «uma rua sem carros é como uma floresta sem árvores ou uma cidade sem casas», uma incongruência. Portanto, em que ficamos?
 Mas, será que esta pergunta tem realmente resposta? Também aqui perto, em Cacilhas, os comerciantes da principal rua comercial da terra estão em pé-de-guerra com a Câmara de Almada que, a contragosto, lhes quer tirar os carros da porta. Certamente que por lá e por muitos outros lados haverá quem igualmente se interrogue sobre a bondade de tal medida...
Entretanto talvez venha a propósito lembrar que, recuando uns (bons) anos, a experiência de pedonizar uma rua em Alenquer foi feita, pelo que a Rua de Triana, durante aproximadamente um mês, viveu uma época natalícia livre de carros. Contou-me um autarca de então, com responsabilidades na matéria, que foi o seu pior Natal de sempre, pois foram vários os comerciantes dessa rua que lhe bateram à porta, lavados em lágrimas, declarando-lhe que a Câmara lhes havia arruinado as vidas... Talvez por isso e porque a ideia nunca reuniu consenso no seio da classe, a experiência não voltaria a repetir-se. Ainda segundo esse autarca, foi pena que se tivesse escolhido a época natalícia para levar por diante essa experiência, por ser ela demasiado importante para o comércio.
Antes de continuar e concluir, quero felicitar todos os conterrâneos pela discussão havida e, particularmente, pela sua determinação em extrair dela consequências, acreditando sinceramente nas suas boas intenções. Mas será que fechar a Rua Triana ao trânsito será uma boa solução para os seus problemas? Dir-me-ão que em muitos locais, vilas e cidades, resultou positivamente pedonizar as ruas (quem não gosta?), ao que responderei que o sucesso esteve e estará mais ao alcance de zonas comerciais pujantes e desenvolvidas. Pelo contrário, tal medida, numa zona comercial deprimida e decadente como é a actual Rua de Triana, poderá vir a ser uma certidão de óbito.
Todavia, será sempre possível encontrar uma terceira via: o alargamento dos passeios até ao limite do possível, como forma de a tornar mais atraente aos passeantes e mais acessível aos que têm maiores dificuldades de locomoção. Quanto ao resto, é trazer os moradores de volta à vila e modernizar o comércio local, diversificando e ocupando nichos competitivos em relação às grandes superfícies e à vizinhança que o supera.

12 setembro, 2011

VÃO-SE AS INTENÇÕES, FICAM OS PAPÉIS...

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Lembram-se deste? É de 1993 e remete-nos para um trabalho que, nos meios universitários, foi considerado de referência.
Tudo começou nesse ano quando uma equipa liderada pelo arquitecto Miguel Beleza abriu portas a um GTL que tinha como finalidade «elaborar um estudo detalhado da situação existente (na Vila Alta de Alenquer, considerada Centro Histórico), caracterizando os aspectos: físico, económico, e social, com vista à apresentação de propostas que permitam:
* A conservação, reabilitação e salvaguarda de tudo aquilo cujo valor patrimonial o justifique.
* A melhoria dos níveis de infraestruturação e das condições de habitabilidade.
* A requalificação e beneficiação de espaços públicos e instalação de mobiliário urbano.
* A implementação de benefícios fiscais e crédito à recuperação da habitação.
*A viabilização de novos equipamentos que contribuam para a diversificação do tecido social residente.
* A dinamização de acontecimentos culturais periódicos»
- Conclui o folheto que nessa altura foi distribuído à população: «Tudo isto terá como síntese a elaboração do plano de salvaguarda e reabilitação que dará enquadramento legal à intervenção do Gabinete».
 Na verdade, o trabalho do GTL foi feito e, vai já para 30 anos que dorme o sono dos papéis esquecidos, nalguma municipal prateleira...
Porquê falar dele agora? Primeiro porque, talvez, algum dos actuais autarcas passe por aqui e tome conhecimento da sua existência, pois é natural que nunca tenha ouvido falar em semelhante coisa. Segundo porque na vila de Alenquer houve quem tenha acordado para a necessidade de uma «regeneração urbana», dando corpo e alma a dois movimentos cívicos que se levantaram, talvez tocados pela crise (lá têm razão os que dizem que os tempos de crise são tempos de oportunidades) para sacudir a pasmaceira. Para esses, mais que não seja, esta invocação de um trabalho de mérito mas desaproveitado, lembrará que não bastam as boas intenções e será sempre necessário passar delas à prática.
O trabalho em questão estará, obviamente, desactualizado (estará?), mas concerteza que revelará, pelo menos, caminhos, metodologias, conhecimentos que se revelarão úteis no momento presente.

22 agosto, 2011

25 ANOS SEM O'NEILL

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Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill - Lisboa,  19/12/1924 - Lisboa, 21/8/1986
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PORTUGAL ESTÁ TODO SURREALISTA, SABES?
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Como é possível? 25 anos? 25 anos sem O'Neill e sua falta de disposição para a boa disposição, sem o verso que corroía a hipocrisia nacional? Sem a faca versejante apontada ao nacional porreirismo? Sem esse olhar atravessando as lentes grossas com que via o País indecoroso que somos? Sem o verso que tanto rimava como desprezava a rima que rima mas não acerta? Sem essa lucidez de ver para além da cortina envolvente de todos os «inhos» nacionais?
Lembrando O'Neil, esqueçamo-nos de «seguir o Cherne» (porque dele já só restam as espinhas...), para ficarmos com este «Portugal, remorso de todos nós», cada vez mais questão que todos temos por resolver:
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 Portugal


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Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
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Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há papo-de-anjo que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para ó meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

16 agosto, 2011

O REAL CELLEIRO DE ALENQUER

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O Real Celleiro de Alenquer, cuja existência surge associada às devastações causadas pela primeira e terceira invasões francesas que atingiram de modo particularmente violento a vila e concelho de Alenquer, acaba de celebrar o seu segundo centenário.
Na ocasião fomos convidados para co-participar numa palestra com que a autarquia comemorou a efeméride. Daí, dessa intervenção, resultou o texto que acima, em página individualizada em consequência da sua extensão, fica ao alcance de quantos possam interessar-se pela matéria em apreço. Espero que o mesmo satisfaça a vossa curiosidade e interesse pelo passado da histórica vila de Alenquer.

12 agosto, 2011

MÁS NOTÍCIAS AO «PEQUENO ALMOÇO»...

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E A "DESPESA" SENHOR PRIMEIRO-MINISTRO, E A "DESPESA"?
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Conforme havia prometido, lá veio o Gaspar (esse grande disciplinador de jornalistas) assombrar «este querido mês de Agosto» com novas medidas anti-crise. As que havia prometido? Uma «lipo-aspiração» à «gordura» estatal? Não!!! Mais aumentos de impostos! Desta vez mais um encontrão no IVA que incide sobre dois bens essenciais, a electricidade e o gás.
Por onde andarão esses super-economistas que nas televisões animavam mesas redondas, quadradas, rectangulares, ortorrômbicas, proclamando que não havia mais margem para aumentos de impostos? Por onde andarão esses políticos de obra feita que apontavam a dedo os aumentos de impostos, tentando convencer os portugueses que assim era fácil governar, difícil e necessário era cortar na «Despesa»?
De férias, penso eu... Enchendo esses areais ao lado de todos quantos mandaram intervalar a crise, porque o Sol quando nasce é para todos, até para os «enrascados» nacionais que por estes dias percorrem o «rectângulo» de festival em festival. Dizia-me um amigo meu gaguejando perante as imagens que chegavam dos distúrbios em Inglaterra: « Estes ingleses são uns tótós... quando vier o Verão façam festivais. Façam festivais e vão ver como essa gentalha fica quieta e sossegada. Pelo menos um Verão sem sobressaltos, ninguém lhes tira». Naturalmente... digo eu.
Mas, este ir ao bolso dos portugueses, faz-se sempre acompanhar por uma justificação que nada justifica mas moraliza muito os «assaltantes»: «Estamos a pagar as malfeitorias do Sócrates». Pois é. No tempo do Sócrates não havia crise, só havia má governação... Ela, a crise, começou, justamente, naquele dia de festa, quando no Palácio da Ajuda este Governo tomou posse e houve beija-mão.
Em tempos, quando ainda não havia percebido a importância da vida, de toda e qualquer vida, seja ela animal ou vegetal, cheguei a gostar de ir às touradas. E olhem que já percebia um pouco daquilo... Porém, havia uma coisa com que sempre embirrava no toureio a pé: Era quando aqueles diestros pouco dados ao trabalho, delegavam nos seus peões de brega boa parte dos quites: Era preciso bandarilhar? Vai lá tu ó Manel. Era preciso uns capotazos? Vai lá tu ó Jaquim, que eu só estou aqui para uns trincheirazos ou uns derechazos, arte superior, já se vê... É! Estou a falar do «PêPê Coelho». O homem é bom nas cortesias, mas que raio, não se arrima às broncas. Para as coisas antipáticas manda sempre os Ministros ou Secretários de Estado. Preserva mais a sua imagem, do que os egípcios a múmia do Tut Ankh Amon.
E tanto que eu gostava de lhe ver a cara anunciando aos portugueses aquilo que, ainda há dias, lhes garantia que não faria: aumentar os Impostos! Mas «o Povo é sereno! É sereno...», já lá dizia o Almirante. E com um Sol destes quem é que está cá para se preocupar com os Impostos?

07 agosto, 2011

A revista "Única" do "Expresso" mandou Zita Seabra à «nova Rússia»

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O VÓMITO FEITO REPORTAGEM
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Melhor fora tê-la mandado a outra parte... mas foi à «nova Rússia» que a mandou. Porquê? Porque ela já foi comunista e agora odeia o comunismo (o seu passado de comunista deve dar-lhe noites de pesadelo). Ora eu também já o fui e agora não o sou, e, para que não subsistam dúvidas sobre quem aqui escreve, devo dizer que,  no confronto com a realidade e com a experiência, concreta, de construção do «Homem novo», em mim prevaleceu o pensamento de Mário Soares em detrimento do de Álvaro Cunhal, o que não fez de mim um anti-comunista, nem tão pouco um homem arrependido do seu passado. Mas Zita... Ah, Zita, essa «czarina vermelha», é um caso... digno de ter pena. Vejamos, pois, o que Zita conta e o que eu vi e ouvi na Rússia, no ano passado, quando  fiz precisamente o mesmo circuito que ela agora fez (1100 quilómetros e não 70 como está na legenda da fotografia da p. 26):
- Zita fala-nos, com alguma simpatia, do «czar Boris [Ieltsin] (...) que tentou tirar a Rússia do atraso imenso». Tanto quanto me apercebi, Ieltsin é a figura política mais menosprezada, gozada até, na Rússia actual, que só o evoca para lembrar as suas monumentais bebedeiras.
- Refere Zita: «(...) toda a gente, todos os guias, em todas as conferências, chama a coisa  pelo nome e diz sempre, referindo-se aos 70 anos de comunismo: "o tempo do terror soviético". Como ela também o disse, todos se referem ao período comunista (mesmo à época de Estaline) com «inteira naturalidade» evocando o que de bom e mau ela teve, quanto ao resto, népia! Um, o guia que tive em Moscovo, era um ferrenho comunista, o outro, o que nos acompanhou durante o resto da viagem e em S. Petersburgo, culto e educado, nunca usou as expressões que ela diz serem comuns a todos os guias. Em lado algum ouvi essa expressão, embora admita que as pessoas, intimamente, possam ter sobre esse período as mais variadas opiniões.
- Refere Zita os canais e as «dezenas de eclusas». São dezassete, ao todo, o que é obra, mas fica longe das «dezenas». Mas, o saber contar (pelos dedos?) de Zita será o menos... Diz ela sobre S. Petersburgo que, na cidade, «do comunismo ficou-nos apenas um triste museu da História Política da Rússia (...). Mas, será possível que Zita não tenha visto, ancorado num dos canais e regurgitando de turistas, o cruzador «Aurora» ele próprio um dos mais importantes museus da Revolução de Outubro? Não andei a contar museus porque sofri uma overdose de igrejas, é verdade, mas... esse entrava pelos olhos dentro! Menos pelos de Zita, já se vê...
- Se a geografia e a matemática são uma trapalhada para Zita, a História, então, tem que se lhe diga. Refere a senhora:«(...) pelo rio Neva inicia-se o cruzeiro pelos 70 km a que os russos chamam "caminho da vida", porque durante a II Guerra Mundial(...). Errado...! A «estrada da vida», com que se abasteceu a cidade e as tropas, quando da II Guerra Mundial e do cerco Leninegrado, passava pelo Lago Ladoga (foi aberta uma estrada com 400 km a norte de Tckevin que ligava a este) e não pelo rio Neva.
- Zita não viu «foices e martelos». Ou não quis ver? Escreve ela que «ao longo de todo o percurso (...) encontrei uma foice e martelo» numa das eclusas. Lamento contrariar e, por todas, aqui fica o edifício sede do poder local de Yeroslav, uma praça onde se situa a catedral dessa cidade e que todos os turistas que fazem esse circuito visitam:
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Não esperava nem encontrei «foices e martelos» no mosteiro de Goritz nem nas construções de madeira de Kizji, mas, onde era lógico encontrar, como vestígio de uma época histórica elas lá estavam, por exemplo:
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Em S. Petersburgo - estátua de Lénin e «foice e martelo» na frontaria do edifício
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-Em Moscovo - No conjunto exposicional das Realizações Económicas da URSS - Conjunto notável, verdadeiro e gigantesco museu da época soviética - «foices e martelos» por todo o lado.
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Moscovo - Numa das estações de metro, mas estava também em muitas outras.
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Foram tantos os símbolos do antigo poder que a minha objectiva fixou, sem que houvesse da minha parte qualquer preocupação específica em os procurar... mas Zita, notável especialista em arte, encontrou em Moscovo um edifício neo-manuelino. Boa, vejam-no acima, mas sempre lhes digo que, do mesmo modo que uma andorinha não faz a Primavera, também umas conchas não fazem o manuelino, ou, mais propriamente, o gótico-tardio.
Resumindo porque o «papagaio já vai alto». As «foices e martelos» não significam nada para a Rússia de hoje, mas são parte da sua história e, por isso, por lá ficaram, lá estão. Esses e outros, como as «estrelas vermelhas», os monumentos à «grande guerra pátria», mesmo que isso desagrade a Zita que andou na Rússia`«à conversa» com padres católicos, facção religiosa que nada conta para os russos.
O que hoje preocupa os russos, isso sim, e foi várias vezes expressamente referido pelos guias, são as «máfias» instaladas, esses milionários vindos do nada que sugam a sua economia e que, preocupação ainda maior, deram à luz descendentes que vivem no luxo e na opulência, não estudam nem trabalham, nem tão pouco evidenciam competências para virem, um dia, a gerir as enormes fortunas dos papás. Quanto ao resto, é um País que se ocidentaliza, que se moderniza, que cresce, que adquiriu novos hábitos de consumo e vê o comunismo como uma página da história que foi voltada.
Nota: Não deixa de ser preocupante ler um artigo destes, numa revista respeitável, de um jornal respeitável. Preocupante, não em termos ideológicos. Preocupante pelo modo como a verdade é tratada, nas pequenas e grandes coisas, como atrás o demonstramos, não exaustivamente, porque um post de um blog tem limitações. Isto é o que resulta daquilo que conhecemos. Que patranhas nos venderão, a par e passo, sobre o que não conhecemos?

29 julho, 2011

UMA OPORTUNIDADE PARA O TURISMO ALENQUERENSE

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- Pista da Base da Ota, actual Centro de Formação da Força Aérea
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Projecto da «Lusolândia» publicado no jornal «O Público» no dia 6/5/2011
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LUSOLÂNDIA - SONHO OU REALIDADE?
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Olhando a primeira fotografia acima, para além da pista, à direita, mais ou menos por aí, ocupando 125 hectares dos muitos que estiveram de reserva para o novo aeroporto de Lisboa nascerá (?) um parque temático com o nome de «Lusolândia».
O projecto é «PIN» (de interesse nacional), representa um investimento de 255 milhões de euros e consta que está a andar bem. Se o mesmo viesse a tornar-se realidade, teria a capacidade de atrair 1,9 milhões de visitantes por ano (5.200 por dia). A data prevista de abertura situa-se em 2014, então, terá 17 restaurantes e um hotel, assim como um parque de estacionamento para 7000 veículos. Um grupo de historiadores está a tratar do guião que será posto em prática por técnicos da Disney que, nos Estados Unidos, estão já a trabalhar neste mesmo projecto.
Não deixa de ser curioso que este Parque (se nascer) venha a situar-se junto de uma das melhores pistas do País que... hoje ninguém utiliza, nem mesmo a Força Aérea! É a sociedade (portuguesa) do desperdício no seu melhor!!!
O promissor turismo do Oeste (Fátima, Batalha, Alcobaça, Nazaré, Óbidos, Caldas da Rainha, Torres Vedras, etc.), aqui a dois passos, não tem um aeródromo regional ou de recreio que o sirva (tal como Tires serve a Costa do Sol), mas a pista da Ota continua preservada como... reserva de caça!
Já se percebeu que o novo aeroporto de Lisboa em Canha (qual Alcochete, qual quê), que não sairia mais barato do que a Ota, não ficaria mais perto de Lisboa do que a Ota, nem teria menos custos ambientais do que a Ota, já era... Nos tempos em que a discussão esteve quente, falou-se muito em operar a Portela e Alverca em simultâneo, o que, em termos de circulação aérea, não era exequível, mas, estranhamente, nunca se falou em operar em simultâneo a Portela e a Ota, o que era perfeitamente exequível.
Com um projecto destes à porta e com o Oeste à espera de ser servido por meios aéreos, começa, pois, a ser tempo de perguntar: E a Ota senhores? E a Ota aqui tão perto e que daria tanto jeito ao turismo regional? Mas a situação de abandono da pista da Ota (é como se não existisse, ninguém se lembra dela) que poderia ser tão útil, é uma prova evidente dos interesses poderosos que se sobrepõem ao verdadeiro interesse nacional. Somos pobres, estamos falidos? Pois olhem que não parece, isto quando se despereza uma infraestrutura destas.
Ota à parte. A «Lusolândia», a passar do papel, poderá vir a ser a alavanca que fará nascer e crescer uma verdadeira indústria turística em Alenquer. Estejam, portanto, atentos, senhores investidores locais.

16 julho, 2011

AO MURRO E AO PONTAPÉ...

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TAMBÉM TU OBAMA?
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Na ocidental praia lusitana um náufrago luta desesperadamente por se manter à tona de água, e, sempre que parece estar a conseguir fazê-lo, vem alguém e zás, empurra-o de novo para baixo, que é onde deve estar o «lixo».
Primeiro foi o «murro no estômago», logo após a enunciação das medidas salvadoras (facada no 13º incluída). Depois foi o «pontapé nos tintins» logo após o atestado de boa saúde passado aos nossos bancos pouco stressados. E, como se as malfeitorias da Moody's não chegassem, veio o amigo (de Peniche) Obama lembrar ao mundo que os Estados Unidos eram pessoa de bem, nada comparável a esses moinantes gregos e portugueses.
Apunhalados, assim, na escadaria do nosso «domum» de vaidades, só nos apetece exclamar: «Também tu Obama?». Dizia-me um amigo descoroçoado com a venenosa frase presidencial: «Logo este gajo que nos saiu tão caro da última vez que por aqui passou...». Deixa lá Manel, para a próxima partimos-lhe uma perna com um desses «chaimites» anti-arruaceiros, daqueles que chegaram tarde, mas ainda podem vir a dar muito jeito!
Entretanto as medidas ditas salvadoras vão aparecendo, pelo lado da «Receita», já se vê, porque o «corte da gordura» estatal exige outra maturação... E, afinal, esta ida ao bolso dos parvos do costume, é inteiramente justificável face a uma «previsão macroeconómica» marcada por «taxas de incerteza invulgares». Por acaso isto dito assim tem a sua piada, porque no tempo do Sócrates dizia-se que andava tudo a dormir, o Banco de Portugal, o Primeiro Ministro, Ministros... Também não havia «crise internacional», o Presidente da República, pelo menos, nunca deu por ela, por isso passava-lhe sempre ao lado para espetar o dedo na socrática incompetência...
Mas, enquanto este período de «estado de desgraça» se vai esgotando, sempre há alguém que nos vai fazendo rir contando-nos histórias engraçadas, como aquela do apagar dos «condicionados» no Ministério da Cristas, por troca com os colarinhos esgarguelados. Pois é, meus amigos agricultores de secretária, o melhor é porem-se de bem com um polar quentinho, ou um casacão de pêlo de camelo, porque, ao que tudo indica, o próximo inverno promete ser muito frio, aí para os lados do Terreiro do Paço.
- A secular «Bordalo Pinheiro» das Caldas da Rainha, vai lançar um «Zé Povinho» de «manguito» feito à Moody's. Boa! A isto chama-se cavalgar a crise. Por lá passarei para comprar um, mas, já agora porque não darem início a uma colecção. Por exemplo, um «manguito» ao Obama, outro ao Gaspar, e o mais que se verá, porque a colecção promete ser longa e variada.


08 julho, 2011

Na minha rua não entram eles...

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Baa2

Ba2 (!!!)

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ESSES MALANDROS DA MOODY'S!
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À hora a que escrevo e publico este post, um estremecimento patriótico tomou conta do País: No batustão da Madeira, o soba-mór, que por acaso (?) é de más contas públicas, arrotou para o ar e  fez a ilha levitar uns metros acima do nível do mar, ao proclamar um «aqui não entram mais!». Do Porto a Sintra, o poder autárquico tomou idêntica atitude, enquanto o Povão, a toque de caixa das televisões, se apresta para mais uma vez enfrentar esse produto sucedâneo do da velha Albion que, para lá do Atlântico, herdou a sua arrogância e mau feitio.
Como poderia eu, pois, ficar indiferente a esta onda de patriotismo? Vim à varanda do meu descontentamento e gritei: «Porque não se metem vocês com os belgas que são do nosso «tamanho» e têm mais dívida externa do que nós?». Claro que só pode ser por inveja do nosso Sol... Pois então que se toque «A Portuguesa» e se avance ordenadamente contra os bretões, como manda a sua letra original!
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Estamos em 1890 e a nossa Alenquer vibra de patriotismo e de indignação (como qualquer outra vila portuguesa, já se vê) face ao «Ultimato Inglês».
Ora acontece que, ali para as «Águas», na Companhia de Fiação e Tecidos que empregava mais de 500 operários, o mestre e contra-mestres eram nem mais, nem menos, ingleses (ou seja, a personificação do diabo!). Estava o baile armado:
«Cá em Alenquer, não corre o tempo muito fresco para os nossos fiéis aliados. Quinta-feira um inglês, empregado da fábrica da Companhia de Fiação e Tecidos, deu uma bofetada num operário português da mesma fábrica, que não quis desforçar-se imediatamente pelo receio de ser demitido do seu cargo. Um outro operário português, indignado com a petulância do beef, que se julgava talvez lá pelas alturas do Chire, esperou-o à porta da fábrica e tosou-o valentemente. Claro é que todos os operários viram com prazer e com disposição para qualquer eventualidade, a carga dada no inglês, o que não sucedeu a cinco ou seis operários ingleses que deram "ás da Vila-Diogo" logo que viram o princípio da festa. Abençoada tareia». (Damião de Góis, n.º235(29 de Junho de 1890), p.2).
Abreviando e resumindo: Muitos encontrões, greves e movimentações depois, os técnicos ingleses foram corridos da fábrica de Alenquer, à excepção de um que chefiava uma secção de fabrico importante e para o qual não havia substituto.
Mas, quem consultar os jornais locais de então, acabará por perceber que o Ultimatum foi só um pretexto, pois o verdadeiro motivo foi outro: Os famigerados ingleses, para aumentar a produtividade, haviam tido o desaforo de implementar métodos e uma disciplina importados da sua ilha que duzentos anos atrás havia dado início á Revolução industrial: Um sistema manual de relógio de ponto, o recebimento da féria semanal na sua bancada de trabalho, dentro de uma caixa individual de folha, a troco de uma manhã na fila frente ao tesoureiro, etc., etc. e, escândalo dos escândalos:
«o mestre não queria que os operários fumassem ou conversassem (...) quem fosse mais de uma vez num terço de dia à retrete, era multado e por fim despedido, embora fosse lá fumar como se impunha aos operários» (O Alenquerense, n.º 293, (6 de Agosto de 1891, p.1).
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Voltando à Moody's e de cabeça fresca. A culpa é da Agência de notação ou foi o País que «se pôs a jeito»? Oiço e leio tanto sobre isto, mas não me recordo de ter ouvido as razões que assistem à Agência. Vamos, pois, a uma breve consulta ao site da Moody's (difícil porque eu o inglês andamos sempre às avessas, sempre fui mais do Latim):
1 - Os planos do Governo podem ser difíceis de implementar na íntegra em sectores como a saúde, as empresas públicas, governos regionais e poder local - Diz a Agência... Hum... Bem avisados andam em desconfiar dessa gente. Ver para crer...
2 - Gerar receitas fiscais adicionais, em combinação com o atrás dito, pode comprometer a redução do déficite. - Naturalmente...
3 - O crescimento da Economia pode vir a ser mais fraco do que o esperado, comprometendo a redução do déficite. As previsões de crescimento foram revistas em baixa após assinatura do empréstimo com a troika. - Também por cá há quem pense o mesmo...
4 - Existe a possibilidade, não negligenciável, do sector bancário vir a exigir apoio além do que é actualmente previsto no acordo com a troika. - Para mim, é uma «desconfiança certa»...
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Pois é, estamos lixados e a culpa não é dos ingleses, americanos e quejandos. Mas que diabo, bem podiam ter esperado um pouco... E que tal se em vez da Moody's, mandássemos mas era o Euro e esta Europa incapaz à fava? Naturalmente, na medida em que ela já não está connosco, lá terá que ser... Ah! Mas para criarmos riqueza há muito trabalho de casa por fazer, muita charutada para dar nos privilégios, roubos e desmandos. E, já agora, saibamos que eles não se metem com os belgas, porque esses criam muito mais riqueza do que nós, logo terão muitos mais meios para cumprirem com a sua dívida.



30 junho, 2011

UMA COLECÇÃO DE POSTAIS POUCO CONHECIDA...

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ALENQUER EM 1940
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Estes postais foram editados pela «Câmara Municipal de Alenquer - Turismo» em data que desconhecemos, e, conforme neles está escrito, mostram «Alenquer - 1940». Curiosamente, não nos lembramos de alguma vez por cá os ter visto...
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Postal 1 - Triana ou Vila Baixa de quem e além rio que, então, corria mais lá, onde hoje está a Av.ª 25 de Abril.
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Postal 2 - S. Francisco e o Terreirinho fotografados da «Estrada Nova». O que faz toda a diferença para os dias de hoje é a margem esquerda, onde podemos ver o antigo Mercado e um edifício que foi da «Fábrica do Meio» e onde funcionou o Externato Damião de Goes antes de este ter passado para a «Casa da Torre».
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Postal 3 - Ao longe, a Várzea a perder de vista e... sem contruções! Em frente a «Estrada Nova» ainda sem os prédios do Casal Monte Cristo. Mais abaixo a Rua Triana e a Rua Sacadura Cabral que se resumiam a uma modesta linha de habitações e lojas.
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Postal 4 - A Vila Alta fotografada da cúpula dos Paços do Concelho. A diferença não é grande, mas quem conhece bem o bairro, nota a falta do que hoje lá está a mais.
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Postal 5 - Alenquer fotografada do Alto da Boavista. Em primeiro plano a desaparecida Fábrica de Papel e Cartão da Ota com um edifício, à esquerda, que eu já não conheci (nasci em 1947), e, veja-se onde o rio então corria.
Foi «só» há 71 anos...