08 julho, 2011

Na minha rua não entram eles...

.
.

Baa2

Ba2 (!!!)

.
ESSES MALANDROS DA MOODY'S!
.
À hora a que escrevo e publico este post, um estremecimento patriótico tomou conta do País: No batustão da Madeira, o soba-mór, que por acaso (?) é de más contas públicas, arrotou para o ar e  fez a ilha levitar uns metros acima do nível do mar, ao proclamar um «aqui não entram mais!». Do Porto a Sintra, o poder autárquico tomou idêntica atitude, enquanto o Povão, a toque de caixa das televisões, se apresta para mais uma vez enfrentar esse produto sucedâneo do da velha Albion que, para lá do Atlântico, herdou a sua arrogância e mau feitio.
Como poderia eu, pois, ficar indiferente a esta onda de patriotismo? Vim à varanda do meu descontentamento e gritei: «Porque não se metem vocês com os belgas que são do nosso «tamanho» e têm mais dívida externa do que nós?». Claro que só pode ser por inveja do nosso Sol... Pois então que se toque «A Portuguesa» e se avance ordenadamente contra os bretões, como manda a sua letra original!
...
Estamos em 1890 e a nossa Alenquer vibra de patriotismo e de indignação (como qualquer outra vila portuguesa, já se vê) face ao «Ultimato Inglês».
Ora acontece que, ali para as «Águas», na Companhia de Fiação e Tecidos que empregava mais de 500 operários, o mestre e contra-mestres eram nem mais, nem menos, ingleses (ou seja, a personificação do diabo!). Estava o baile armado:
«Cá em Alenquer, não corre o tempo muito fresco para os nossos fiéis aliados. Quinta-feira um inglês, empregado da fábrica da Companhia de Fiação e Tecidos, deu uma bofetada num operário português da mesma fábrica, que não quis desforçar-se imediatamente pelo receio de ser demitido do seu cargo. Um outro operário português, indignado com a petulância do beef, que se julgava talvez lá pelas alturas do Chire, esperou-o à porta da fábrica e tosou-o valentemente. Claro é que todos os operários viram com prazer e com disposição para qualquer eventualidade, a carga dada no inglês, o que não sucedeu a cinco ou seis operários ingleses que deram "ás da Vila-Diogo" logo que viram o princípio da festa. Abençoada tareia». (Damião de Góis, n.º235(29 de Junho de 1890), p.2).
Abreviando e resumindo: Muitos encontrões, greves e movimentações depois, os técnicos ingleses foram corridos da fábrica de Alenquer, à excepção de um que chefiava uma secção de fabrico importante e para o qual não havia substituto.
Mas, quem consultar os jornais locais de então, acabará por perceber que o Ultimatum foi só um pretexto, pois o verdadeiro motivo foi outro: Os famigerados ingleses, para aumentar a produtividade, haviam tido o desaforo de implementar métodos e uma disciplina importados da sua ilha que duzentos anos atrás havia dado início á Revolução industrial: Um sistema manual de relógio de ponto, o recebimento da féria semanal na sua bancada de trabalho, dentro de uma caixa individual de folha, a troco de uma manhã na fila frente ao tesoureiro, etc., etc. e, escândalo dos escândalos:
«o mestre não queria que os operários fumassem ou conversassem (...) quem fosse mais de uma vez num terço de dia à retrete, era multado e por fim despedido, embora fosse lá fumar como se impunha aos operários» (O Alenquerense, n.º 293, (6 de Agosto de 1891, p.1).
***
Voltando à Moody's e de cabeça fresca. A culpa é da Agência de notação ou foi o País que «se pôs a jeito»? Oiço e leio tanto sobre isto, mas não me recordo de ter ouvido as razões que assistem à Agência. Vamos, pois, a uma breve consulta ao site da Moody's (difícil porque eu o inglês andamos sempre às avessas, sempre fui mais do Latim):
1 - Os planos do Governo podem ser difíceis de implementar na íntegra em sectores como a saúde, as empresas públicas, governos regionais e poder local - Diz a Agência... Hum... Bem avisados andam em desconfiar dessa gente. Ver para crer...
2 - Gerar receitas fiscais adicionais, em combinação com o atrás dito, pode comprometer a redução do déficite. - Naturalmente...
3 - O crescimento da Economia pode vir a ser mais fraco do que o esperado, comprometendo a redução do déficite. As previsões de crescimento foram revistas em baixa após assinatura do empréstimo com a troika. - Também por cá há quem pense o mesmo...
4 - Existe a possibilidade, não negligenciável, do sector bancário vir a exigir apoio além do que é actualmente previsto no acordo com a troika. - Para mim, é uma «desconfiança certa»...
.
Pois é, estamos lixados e a culpa não é dos ingleses, americanos e quejandos. Mas que diabo, bem podiam ter esperado um pouco... E que tal se em vez da Moody's, mandássemos mas era o Euro e esta Europa incapaz à fava? Naturalmente, na medida em que ela já não está connosco, lá terá que ser... Ah! Mas para criarmos riqueza há muito trabalho de casa por fazer, muita charutada para dar nos privilégios, roubos e desmandos. E, já agora, saibamos que eles não se metem com os belgas, porque esses criam muito mais riqueza do que nós, logo terão muitos mais meios para cumprirem com a sua dívida.