07 agosto, 2012

FILATELANDO...

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UMA NEGOCIATA DE SELOS NO SÉC. XIX
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Lançado no dia 1 de Maio de 1840, o «penny black» inglês terá sido o primeiro selo adesivo do mundo. A este seguiram-se os das emissões cantonais  suiças em 1843 e o «olho de boi» brasileiro também em 1843 (série de 3 selos).


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Em Portugal, o primeiro selo a entrar em circulação foi o de 25 réis, azul, com a efígie da rainha D. Maria II em relevo, o que aconteceu no dia 1 de Julho de 1853. Para o efeito foi comprada em Inglaterra, na casa Dryden Brothers & Lambeth, uma máquina com os cilindros lisos, onde o gravador Francisco Borja Freire abriu a efígie da rainha. A sua produção foi iniciada em Maio de 1853 e os selos foram impressos em folhas de 24 selos.
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Muito rapidamente o selo postal apareceu na generalidade dos países, e, com ele, nasceram os  primeiros coleccionadores. Para muitos, John Edward Grey, um inglês que começou a sua colecção em 1840, é tido como o primeiro coleccionador. Para outros (Luís Eugénio Ferreira em "Um certo olhar pela Filatelia") o primeiro coleccionador terá sido Luís Vitzel que viveu em Lille, França, e que desde 10 de maio de 1841 recolheria «vinhetas inglesas criadas por Rowland Hill».
Em 1860 o número de coleccionadores de selos em França seria já tão numeroso que acabou por ser criada a Bolsa do Selo nos Jardins das Tulherias, e, em 1861, surgiria em Estrasburgo o primeiro «Catalogue de Timbres-Poste». No final do século XIX o coleccionamento de selos estava suficientemente difundido para que possamos entender a história da negociata que de seguida transcrevemos e veio publicada no Jornal de Alemquer, n.º 62 de 14 de Março de 1889, numa secção intitulada "Correio de Lisboa":
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«Alguns jornais da oposição têm-se referido à venda de cerca de 160 contos de selos do Ultramar, velhos e inutilizados, pela soma de 3.150$000 rs.
Este escândalo, como dizem os referidos jornais, veio provar mais uma vez o provérbio de: «quem não sabe ser mestre, fecha a loja».
O sr. Faustino Martins, com tabacaria na Praça de Camões, negoceia há muitos anos com a venda e compra de selos antigos, estando muito bem relacionado com os negociantes deste género em outros países.
Como este comércio rende menos mal, porque a mania de coleccionar selos velhos cada vez se desenvolve mais, os srs. Castello Branco e Oliveira, amanuenses da repartição do Correio, organizaram um sindicato [leia-se sociedade] para empalmarem o negócio ao sr. Faustino guerreando-o nas compras de selos, fazendo-lhe picardias, escrevendo aos negociantes estrangeiros oferecendo-lhes melhores vantagens, etc.
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No entanto, na Casa da Moeda havia uma grande porção de selos antigos que iam ser queimados e, o sr. Faustino, em vez de se entender com a direcção dos Correios para a compra dos referidos selos, onde sabia lhe levantariam mil dificuldades e chicanas, fez a proposta ao Ministério da Fazenda, que, depois de ouvir o director da Casa da Moeda, mandou vender por 3.150$000 os selos velhos que estavam condenados a serem queimados.
Mas o sr. Faustino andou tão habilmente com as negociações no Ministério da Fazenda, guardou tanto segredo, que o sindicato dos amanuenses do Correio só teve conhecimento da compra muito depois dos selos se acharem em poder do sr. Faustino.
Imagine-se a berrata do sindicato, berrata que passou dos corredores das repartições para as colunas dos jornais,
É caso para lhes dizer: - assobiem-lhe às botas!