20 novembro, 2013

ALENQUER X 8


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MINHA TERRA É LINDA!
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Na Estremadura Litoral, a 40 quilómetros de Lisboa para quem circula pela A1, para o Norte, Alenquer, desculpem-me o orgulho, é uma das mais lindas vilas que Portugal tem. Quando estamos a pouco mais do que um mês do Natal, lembramos a todos os que visitam esta página, que a "Vila Presépio", assim chamada pelo seu monumental Presépio inserido na paisagem, merece uma visita.
Mas não só. Se hoje trazemos aqui Alenquer, "de Cima a Baixo" (título de um espectáculo que por cá se fez, da autoria do saudoso Manuel Gírio), é, também, porque está página se apresta a comemorar o seu 5º aniversário. Cinco anos ao longo dos quais, Alenquer e a sua História foram o tema principal. Fiquem pois com estas imagens de uma Vila que, como nenhuma outra - no dizer do historiador José Hermano Saraiva - esteve no coração de Camões.
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Panorâmica de Alenquer, a "Jerusalém do Ocidente", a "A Vila Meandro", a "Vila Presépio"...
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A "Vila Alta" com as suas ruelas que levam a S. Francisco, primeira casa dos Franciscanos em Portugal (fará em breve 800 anos). Mas também S. Pedro e a capela-túmulo de Damião de Góis e os monumentais Paços do Concelho. Mesmo em frente umas das mais lindas vistas sobre a vila e a esplanada do "Chapéu Alto" dos bons petiscos e ainda melhores vinhos.
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O alto do Castelo e o Bairro da Judiaria inclinando-se sobre o Areal, que já foi importante bairro operário. Visite o "Celeiro Real", hoje Portal da Rota do Vinho da Região de Lisboa. Mesmo ao lado a "Tasca do Areal", do Pedro Moreira, outro jovem empresário a apostar na boa gastronomia e nos vinhos de excelência.
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Passeie junto ao rio, descobrindo nas suas águas límpidas os enormes barbos e os coloridos patos reais. Para uma boa refeição tem o "1º de Janeiro", junto ao Sporting (logo verá o Zé a grelhar o seu peixe de grande qualidade). Mas não só, mais abaixo, junto à Biblioteca encontrará a Casa "Bichezas" também ela de bons grelhados.
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Alenquer espera por si!

02 novembro, 2013

FEZ HÁ DIAS 40 ANOS...

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AS "ELEIÇÕES" LEGISLATIVAS DE 1973 EM ALENQUER
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As eleições legislativas de 1973 constituíram a última farsa eleitoral do regime caído no 25 de 1974, portanto, na vigência da Constituição de 1933. A vencedora, sem surpresas, foi a Acção Nacional Popular que elegeu os 150 deputados com, imagine-se 100% dos votos dos 1.393.294 eleitores inscritos. Isso mesmo, sem um voto nulo ou branco! A CDE, "Comissão Democrática Eleitoral", que reunia a generalidade de opositores aos regime, acabaria por desistir de ir às urnas (já depois de ter feito a sua campanha, não eleitoral, mas de esclarecimento e agitação popular), por considerar que não existiam condições para a realização de eleições livres.
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- Uma "relíquia" desses dias, o meu pin.

Antes de entrar propriamente no assunto, direi que há em Alenquer uma história que está por fazer, a da luta contra a Ditadura. E é pena que assim seja, pois muitos dos principais actores dessa luta difícil, em que para fazer política era preciso uma grande dose de coragem, já desapareceram, pelo que o tempo começa a ser curto para recolher, oralmente, testemunhos importantes. O que escreverei de seguida é, simplesmente, uma evocação (não tem a pretensão de ser "história") a partir do que então me foi dado viver e que me ficou na memória.
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- Edifício da antiga fábrica da Romeira, então propriedade de Adriano Graça, onde decorreram as acções de esclarecimento da CDE.
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Em Alenquer, a campanha de esclarecimento para este acto eleitoral - que para os democratas nem sequer o chegou a ser - ficou marcada por três iniciativas, sendo elas dois comícios e pelo meio uma sessão/ debate, que decorreram num dos edifícios da fábrica da Romeira, então propriedade de Adriano Graça. Nesses actos, participaram alguns candidatos pelo Círculo de Lisboa cuja lista completa reunia os seguintes nomes:

- Alberto Arons de Carvalho
- António Simões de Abreu
- Carlos António de Carvalho
- Dulcínio Caiano Pereira
- Francisco Manuel da Costa Fernandes
- Maria Helena Augusto das Neves
- Herberto de Castro Goulart da Silva
- João Sequeira Branco
- José Joaquim Gonçalves André
- José Manuel Marques do Carmo Mendes Tengarrinha
- Maria Luísa Rodrigues Amorim
- Pedro Amadeu de Albuquerque Santos Coelho
- Vítor Manuel Caetano Dias
- José Maria Roque Lino (substituído pelo suplente Tavares da Cruz)
Suplentes
- Francisco José Cruz Pereira de Moura
- Luís Filipe Lindley Cintra
- Mário Augusto Sottomayor Leal Cardia
- Francisco Manuel Marcelo Curto
- Urbano Tavares Rodrigues
- Gilberto Lindim Ramos
- Francisco de Almeida Salgado Zenha
Fernando Abranches Ferrão
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- Um dos cartazes que não chegou a vir para a rua pois o regime ameaçou aumentar a repressão se ele viesse. Autores dos textos foram José Carlos Ary dos Santos e Ruben de Carvalho.
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- Recorte do "Ecos de Alenquer" jornal local opositor ao regime.
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A primeira sessão/comício teve lugar na Romeira e foi presidida pelo democrata local Manuel António de Matos, tendo sido oradores Manuel Fernandes (de Torres Vedras e então estudante no Técnico, estabelecimento universitário onde a luta contra o regime terá sido das mais acesas), Helena Neves, Arons de Carvalho e José Manuel Tengarrinha.
Com a enorme sala a "rebentar pelas costuras", estimou-se uma assistência de cerca de 400 pessoas. No exterior, o aparato policial era enorme, com a polícia de choque de capacete e espingarda Mauser em punho, fazendo-se transportar em jeeps que nós chamávamos de "rabo comprido". Dirigia-me eu para o local na companhia do meu sogro, quando na ponte de Santa Catarina passou por nós o impressionante comboio policial, o que mereceu dele o sereno comentário: «Parece que hoje vamos ter festa»...
Abriu a sessão Manuel António de Matos afirmando: Estas sessões devem ser mais para aqueles que não vêm do que para quem aqui está. Muitos não aparecem porque ainda existe medo neste país. Manuel Fernandes seria o primeiro orador a usar da palavra, lendo primeiro uma comunicação relativa ao Instituto Superior Técnico que se encontrava encerrado por ordem do seu Director. Citando o jornal "A República" que o "Ecos" transcreveu (1): «Entrando no seu discurso, após referir certas afirmações proferidas em conversas em família e de ter mencionado as lavagens ao cérebro diárias da Emissora Nacional e da R.T.P., o orador abordou todas as manobras de intimidação a que o povo e os candidatos têm estado sujeitos. Terminou com um incitamento pela Paz, pelo Socialismo.
Depois de Helena Santos e de Arons de Carvalho, chegou, enfim, a vez de José Manuel Tengarrinha se dirigir aos presentes, um momento muito ansiado e entusiasticamente aplaudido. Do seu discurso, aqui fica um período do que "A República" publicou: 
O governo tenta criar uma fachada de crescimento económico, mas apenas se trata de negócios do tipo especulativo, afirmou. Por outro lado, o governo tenta perseguir especuladores, apresentando tudo como casos isolados, quando o mal é a estrutura, o regime. Porém, num país subdesenvolvido como o nosso, os lucros dos grandes capitalistas estão ao nível internacional, tudo isso porque têm a colaboração do governo. 
Sempre aclamado pela assistência, o orador falou da perda de ilusões do regime. Basta comparar as listas da ANP agora e em 1969, salientou. Hoje a estrutura do regime está limitada aos seus fiéis e influentes adeptos salazaristas. O regime é cada vez mais vulnerável à discussão. Por isso prefere o monolitismo das listas que apresenta.
Entrando na parte fundamental do seu discurso, o candidato referiu a problemática da guerra». 
A "guerra" (colonial) era matéria tabu e também "deixa" para a Assembleia, principalmente os jovens, levantarem-se e, de punho erguido, gritarem a palavra de ordem «Abaixo a guerra colonial». Assim aconteceu. Geralmente este passo era mal sucedido (por isso ficava para o fim das sessões...), pois a polícia de choque, sempre presente, logo dava por terminado o comício (2). Mas em Alenquer isso não aconteceu. O oficial comandante da força policial ainda esboçou um gesto no sentido de desligar o som, mas foi travado nesse intento pelo nosso Presidente da Câmara, João Mário Oliveira, ali presente, que manteve em sossego os diligentes policiais, pelo que a sessão decorreu até ao fim, mesmo com as tais palavras de ordem proibidas. 
«Sempre aclamado pela assistência, o orador falou da perda de ilusões do regime. Basta comparar as listas da ANP agora e em 1969, salientou. Hoje a estrutura do regime está limitada aos seus fiéis e influentes adeptos salazaristas. O regime é cada vez mais vulnerável à discussão. Por isso prefere o monolitismo das listas que apresenta.
Após prolongados gritos colectivos de vitória e CDE a sessão terminou com o Hino Nacional».
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A campanha em Alenquer ainda teve uma segunda sessão e entre elas um programado debate. Nesse dia era elevado o número de pessoas que esperavam na rua fronteira (com a porta vedada pela polícia armada) pelos oradores que viriam de Lisboa mas nunca chegaram a Alenquer, simplesmente porque haviam sido presos pela polícia política (lembro-me de Blasco Hugo Fernandes como um dos que estava previsto vir a Alenquer). Quando isto se soube, os policiais destacados, foram envolvidos pela pequena multidão que forçou a entrada na sala e repartindo-se pelo primeiro andar e pelo rés-do-chão, onde, respectivamente, Teófilo Carvalho de Santos e Manuel António de Matos, assumiram a direcção das reuniões. Desse acontecimento recordo, particularmente, a forma entusiástica como Manuel António de Matos abriu a sessão, gritando: «Amigos, o medo morreu!» A sala levantou-se em ovação e o medo morreu mesmo. Também foi assim que, em tempos de ditadura, se conquistou o direito à reunião, hoje uma coisa tão comezinha...

(1) - Há uma pequenina história por detrás desta transcrição do "A República": Foi-me pedido em reunião de redacção que fizesse a reportagem, uma vez que lá estaria. Só que eu andava «complexado» com a Censura, achava que tinha sido tomado de ponta e que ela me cortava tudo. Não era uma questão de medo, mas aquilo era uma despesa para o nosso bom e saudoso amigo Ricardo, o dono do jornal, sendo também um desperdício de tempo e trabalho, todos aqueles "bacalhaus" (provas) traçados a azul... Vai daí lembrei-me de um expediente: escrevi a introdução acima e transcrevi o resto do "A República", porque aí já eles não iam cortar (pensava eu...), uma vez que o texto já havia passado por lá...  Errado. Então não é que cortaram mesmo!? Houve períodos que o "A República" publicou mas que a Censura já não deixou que fossem publicados no "Ecos de Alenquer". Grandes tempos aqueles. E ainda há quem tenha saudades...

(2) - Assim aconteceu, por exemplo, em Vila Franca de Xira, na sessão que decorreu no já desaparecido Cine-Teatro (no local hoje ocupado pelo Centro Comercial) onde estive na companhia de alguns antigos companheiros de trabalho nessa cidade. Aí a repressão foi feroz, com a polícia actuando às ordens do então vice-presidente da Câmara, um senhor professor de má memória.

01 novembro, 2013

MARCOFILIA ALENQUERENSE

UMA MARCA DE SERVIÇO DOS ANOS 50
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Em 1944 os carimbos de serviço dos CTT passaram a exibir o esqueleto que abaixo se apresenta com os dizeres CTT ao alto, o datador ao centro entre duas cruzinhas e o nome da estação em baixo. Em 1979, mantendo o mesmo esqueleto, o nome da estação passou a ser inscrito ao alto, CTT no meio círculo superior e em baixo o código postal.
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Daí ser interessante que, nos anos 50, a estação de Alenquer tenha tido ao seu serviço o carimbo exibido no postal: Os dois semicírculos abertos na base e, ao alto a sigla CTT aparentemente sem pontos.

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E do coleccionamento destas pequenas curiosidades se faz a "Marcofilia", neste caso, aquela que praticamos, especializada nas marcas postais de Alenquer. Como bónus, no verso, uma imagem da avenida Jaime Ferreira... sem carros. Tinha outra beleza, não tinha?
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