03 outubro, 2011

A DESAPARECIDA FREGUESIA DE SANTIAGO

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UMA MEMÓRIA QUE SE DESVANECE
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Esta velha fotografia da minha colecção mostra-nos a torre sineira da já desaparecida igreja de Santiago, a qual se situava fora muralhas, nas costas da antiga Judiaria, pendurada na colina que do Castelo desce para o rio por cima do sítio da Redonda.
Por acaso esta fotografia é uma das melhores entre as poucas que conheço da vetusta ruína. Em miúdo, eu e outros «exploradores» da minha idade, gostávamos de trepar ao andar sineiro para aí gozarmos do prazer da conquista que tal aventura alpina nos proporcionava. Depois, descíamos ao «Olho d'Água», que era então a nossa piscina, e dávamos uns valentes mergulhos, ali onde a água saída das nascentes gorgulhava a alguns metros de fundura, para, por fim, nos deitarmos ao comprido na pedra do esbarro (assim chamávamos à vertente inclinada do açude por onde a água esbarrava) gozando do prazer simultâneo do sol e da água que descendo nos cobria e refrescava. 
Mas desiludam-se os putos de hoje que queiram imitar-nos, pois a Torre há muito que caiu e, nem sei mesmo se as pedras escaparam, pois esses terrenos que na fotografia vemos livres, aparecem-nos hoje bem vedados e guardados.
Quanto ao «Olho d'Água» perguntem à EPAL por ele e escusam de procurar pelo açude, obra do arquitecto José Terésio Michelotti (nos primeiros anos do séc. XIX) que alguns alenquerenses e escravos argelinos para aqui trazidos levantaram em boa pedra da região, pois dessa importante obra de hidráulica que fazia mover os cilindros que destroçavam o trapo da Real Fábrica de Papel, nem a evidência de alguns alicerces por lá ficou assombrando o leito empedrado do rio. 
Mas regressemos a Santiago e à sua Igreja desaparecida, a qual, segundo Guilherme João Carlos Henriques, «foi edificada por D. Afonso VI, no sítio da primitiva...». Diz ainda o historiador que a igreja primitiva «...foi fundada pelo primeiro rei de Portugal, em comemoração de um milagre que teve lugar ao pé do postigo nas muralhas, em frente do sítio dela».
Segundo João Pedro Ferro, a referência mais antiga que se conhece, relativa à freguesia de Santiago, remonta a 1226, portanto, a segunda mais antiga das cinco freguesias que a vila de Alenquer já teve (Santo Estêvão, Santiago, Santa Maria de Triana, Santa Maria da Várzea e S. Pedro). A freguesia de Santiago, pela sua situação na vila, não tinha nesta fogos ou almas, mas a ela pertenciam Pancas, Parrotes e Carregado. Anexada esta freguesia à de Santo Estêvão, extinguir-se-ia, também a paróquia. Foi quando «...a igreja caiu rapidamente em ruína (...) foi derrubada, sendo o material aproveitado na construção de uma ponte que liga à estrada da Merceana», a qual, por sua vez, também desapareceria, embora dela ainda guarde boa memória.
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Na muralha próxima ao local onde outrora se ergueu a igreja de Santiago, vê-se este nicho (que foi porta ou janela) e, ao olharmos para ele, quantas vezes já imaginámos que, limpa a muralha, iluminado o nicho, como ficaria ali bem uma imagem de Santiago, daquelas que os santeiros minhotos e galegos esculpem em granito da região (e não são caras...). Depois era só colocar um gradeamento que lhe desse segurança e uma placa que evocasse as desaparecidas igreja e freguesia de Santiago. E assim se alindava uma entrada da vila, situada junto às muralhas do Arco da Conceição, antiga Porta do Carvalho. Não sei se a muralha é pública ou privada, mas se é privada concerteza que o seu proprietário não se oporia à sua limpeza, alindamento e conservação.
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Em Alenquer, porque aqui há beleza natural, História e algum património interessante, gostamos muito de falar de Turismo. Turismo de passagem, já vê, porque para uma indústria turística faltam todas as infraestruturas que habitualmente suportam uma indústria dessas. Admitamos que a Alenquer vêm turistas e que estes, chegados cá sejam atraídos pelas muralhas do castelo acima, uma evidência que não pode passar despercebida ao viajante. Aí chegados, que se lhes oferece aos olhos?
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1 - A Torre da Couraça (propriedade privada que já há muito tempo deveria ter sido expropriada) esventrada e tomada pela vegetação. Sobre a Torre erguia-se uma casa de habitação que foi da administração da Real Fábrica de Papel, onde funcionaram serviços públicos e camarários enquanto os actuais Paços do Concelho estiveram em construção e que, por último, foi consultório médico. Disse-me quem percebe do assunto que, dentro do enorme fosso, jaziam vigas de madeiras preciosas que hoje já não se encontram em lado nenhum...
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2 - A Igreja da Várzea, propriedade da autarquia (que já lá vão  bons anos deu 15.000 contos por ela à Diocese de Lisboa, para, depois, nunca mais saber o que lhe fazer) com o telhado novo que o IPPAR lhe pôs a ser devorado pela vegetação e a torre no estado que se vê. Projectos de recuperação ainda houve (Casa Memória Damião de Goes)... Ao abrigo do Programa Operacional de Cultura poderia ter sido musealizada com fundos a 75%, mas, os 25% que faltavam, eram mal empregues se o não fossem em alcatrão!
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3 - O recinto interior escalavrado e pedregoso (torrado pelos herbicidas) ornamentado por um improvisado parque automóvel, materiais e entulho. Não seria possível ajardinar o recinto em socalcos ou implantar um anfiteatro em pedra?
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4 - O lixo convivendo com as muralhas. O piso do passadiço que corre junto á muralha está num estado lastimável.
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O mais curioso disto tudo é que ainda na última sessão da Assembleia Municipal (há poucos dias), os deputados municipais votaram por unanimidade a entrada de Alenquer para a «Rota das Judiarias» (eu também. Eu também benza-me Deus, porque não gosto de ser desmancha prazeres...), tudo por amor ao Turismo, já se vê... Pois bem, este «presépio» que neste Domingo fotografei, é uma das portas de entrada da Judiaria!
Não sei quantos deputados municipais dessa maioria unânime já puseram os pés na Judiaria (seria engraçado ter esse número), mas votaram convictamente. Pois então, agora façam como eu um acto de contrição e peçam ao nosso executivo que, com algumas sobras do que a crise leva, ponha um pouco de ordem e limpeza no nosso património. E, também que, pelo menos, comece a pensar em algumas soluções de futuro para a Torre da Couraça e para a Igreja da Várzea. É porque senão... senão não vale a pena continuarmos a falar de Turismo.