17 março, 2009

COISAS DO DINHEIRO...

Entre o concelho de Alenquer e o dinheiro existe uma relação especial? Afinal foi por aqui, mais concretamente nos terrenos da antiga e histórica ( adeus oh história! ) Quinta dos Cónegos, onde hoje se situam as instalações do Banco de Portugal/Casa da Moeda, que se fizeram os primeiros Euros que Portugal conheceu. E continuam a fazer, porque o papel não se acaba...
De facto por lá se encontram as máquinas que imprimem essas notas tão fugidias que hoje, mais do que nunca, teimam em fazer negaças às nossas carteiras, mas a relação concelhia com o papel-moeda é muito antiga, remonta mesmo às primeiras notas que o País conheceu.
Acima reproduz-se uma Apólice do Real Erário no valor de 2$400 réis, mas também as houve de 10$000, 5$000, 20$000, 1$200, 6$400 e 12$800 réis. Estas Apólices apareceram em Portugal em 1796, no reinado de D. Maria I. A campanha militar do Rossilhão havia deixado a nossa economia em maus lençóis e, para resolver a situação, a Soberana autorizou um empréstimo de 10 milhões de cruzados, por alvará assinado em 1796.
Como garantia desse empréstimo, o Tesouro Real emitiu estas Apólices que venciam juros de 5% a 6% ao ano. Uma vez que elas viriam a ter curso forçado, isto é, qualquer um era obrigado a recebê-las em pagamento do quer que fôsse, são por isso consideradas as nossas primeiras notas.
A novidade é que o papel em que as mesmas foram impressas foi fabricado em Alenquer.
A relação do nosso concelho com essa indústria também é muito antiga, e, nesses anos de fim de século, laborava na Quinta do Contador uma fábrica que era pertença de um tal José António da Silveira, conhecido pelo "Trapeiro", epíteto que lhe adveio do facto de ser um abastado negociante de trapo, matéria-prima a partir da qual se fabricava o papel.
Ele veio para aqui, para Alenquer, por indicação de um industrial e negociante de Lisboa chamado Jacome Ratton, e por aqui se manteve até que a sua fábrica se anexou à Real Fábrica de Papel ( no Areal, actual edifício da Moagem, embora já adulterado na sua traça original ).
Esta Real Fábrica foi erigida por iniciativa estatal, mas com capitais privados pertença da fina flor da «nobreza do bacalhau», os tais comerciantes que enriqueceram à sombra dos «contratos», muito particularmente do contrato do tabaco.
Sobre ela e envolvendo o dinheiro, Ratton conta com alguma graça um pormenor ligado à sua gestão: Para seu Conservador foi nomeado o Desembargador Domingos Monteiro do Amaral que havia tido um papel importante na consecução do plano de associação que envolveu os tais capitalistas. O seu ordenado de 1.200$000 réis, mais 600$000 réis para deslocações ( o Administrador local auferia 33$333 réis mensais e um oficial papeleiro uma jorna de $480 réis ) era, digamos, principesco. Nisso reparou Ratton que nas suas Memórias escreveria:
«Se este Desembargador entendia alguma coisa de fábricas de papel, não sei; mas o que se vê é que sabia bem como estabelecer lugares para conservadores, fosse ou não bem sucedida a empresa a respeito dos sócios».
Por aqui se vê que a relação de certa classe com o dinheiro, é, também ela, muito antiga... Por isso, como socialista que acredita que é missão do Estado redistribuir a riqueza, para que se construa uma sociedade mais justa e equilibrada, só peço que a CRISE, pelo menos, ilumine os nossos governantes, de modo que sejam todos a pagá-la. Em tempo de «vacas gordas» é o fartai vilanagem, nada sobra para o trabalhador, quando muito um mísero aumento que não chega a cobrir o que a inflação comeu. Em tempo de «vacas magras» despede-se o trabalhador!
Depois queixem-se dos "ismos" e dos Sindicatos. Meus senhores do Poder: Façam como o Obama. Façam essa classe privilegiada de «Conservadores» descerem do céu à terra, caso ainda acreditem que este País é viável, eu por mim tenho sérias dúvidas, mas continuo a perfilhar ideais de justiça e fraternidade. Acabe-se, pois, com as mordomias!
Tenho imenso respeito pelo Primeiro-Ministro e pela luta que trava para combater a crise financeira que é mundial. Penso que as forças de Oposição para merecerem alguma credibilidade, também deviam de evidenciar algum respeito pela situação e por quem a enfrenta. Mas o Socialismo não pode ser, tão só, uma palavra de ordem que se esgrime enquanto se é oposição. Tem que ser, também, uma preocupação diária de um Governo que se diz socialista, que foi apoiado por um Partido Socialista e foi eleito por quantos se definem como tal, ou viram no programa socialista a resposta às suas dúvidas.