12 outubro, 2013

DEAMBULAÇÕES ESTIVAIS - CONCLUSÃO

Céu cinzento e tristonho de um Outono a pedir chuva... Assim está o dia hoje, e, talvez por isso, aqui fica a minha despedida do Verão, um Verão quente mas de férias curtas, porque obrigações houve que se sobrepuseram ao lazer.
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MANTEIGAS - A SERRA E O RIO
- Vila de Manteigas, "encaixada" na cadeia montanhosa da Serra da Estrela.
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Manteigas é um pequeno concelho do Distrito da Guarda. O seu território de 125 Km2, acolhe 3.420 habitantes  dispersos por 4 freguesias: as urbanas de S. Pedro e Santa Maria e com cerca de 3.000, os restantes nas de Sameiro (343) e Vale de Amoreira (223).
Chega-se a Manteigas, a partir da A-23, tomando a Nacional 232, precisamente por Vale de Amoreira e Sameiro, passando, antes, junto a Belmonte e à praia fluvial de Valhelhas. O concelho de Manteigas confronta a noroeste com o de Gouveia (vila que fica do outro lado da Serra), a leste com o da Guarda, a sueste com o da Covilhã e a oeste com o de Seia.
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- Vista parcial de Manteigas. À esquerda o edifício dos Paços do Concelho.
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A partir de Manteigas pode-se subir à Serra alcançando as Penhas da Saúde, ou então desfrutar da magnífica paisagem do Vale Glaciar do Rio Zêzere.
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- O Vale Glaciar do Zêzere por detrás das curvas da Serra.
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Para banhos ou simples lazer, a Praia Fluvial de Relva, a meros cinco quilómetros de Manteigas, é o local indicado: bom relvado para estender a toalha, sombras acolhedoras, bom apoio de praia, ares saudáveis e um silêncio reconfortante para quem já se habituou ao barulho de fundo (de fundo porque já não damos por ele...) da cidade.
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- Junto à praia fluvial de Relva a maior pista sintética de ski da Europa.
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- Parque de lazer junto ao Rio Zêzere na Praia de Relva - Sameiro
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- Praia fluvial de Relva com as suas águas límpidas. Deu para bater umas braçadas...
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- Praia fluvial de Relva com o seu relvado tílias e cerejeiras bravas - Bar e instalações de apoio.
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- Mergulhar na praia fluvial de Relva é dar também um "mergulho" na natureza.
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As excelentes instalações do INATEL em Vila Ruiva, concelho de Fornos de Algodres (perto de Gouveia e de Linhares da Beira), constituem uma boa "base" para quem procura férias junto à grande Serra (boas instalações, excelente cozinha, serviço simpático, local aprazível e sossegado). Em Manteigas e em Linhares da Beira (aqui sem restaurante), também é possível encontrar unidades hoteleiras do INATEL de excelente qualidade. E há que ter em atenção as promoções que esta instituição pratica!
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- Instalações do INATEL em Vila Ruiva - Fornos de Algodres.

05 outubro, 2013

INVASÕES FRANCESAS

ALENQUER APÓS A RETIRADA DOS FRANCESES 
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- Massena em retirada (Gravura da Biblioteca Nacional).
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Recolhidas as tropas aliadas às Linhas de Torres, são estas alcançadas por Massena no dia 12 de Outubro de 1810. É então que este marechal fixa quartel-general em Alenquer, enquanto o seu oitavo corpo avançava quanto podia em direcção ao Sobral, o sexto alojava a 1.ª Divisão em Vila Nova da Rainha e a 2.ª em Ota, localidade onde o Marechal Ney que a comandava estabeleceu QG. A 3.ª, por sua vez, instalou-se no Moinho do Cubo, fixando-se o segundo corpo de exército à direita do Carregado.
Como refere Guilherme Henriques no seu "A Vila de Alenquer", «em fins de outubro aí esteve o Intendente Geral Lambert e talvez Alenquer tivesse sofrido menos «pelo facto de Massena ter aqui os seus doentes em tratamento enquanto não retirou para o norte (...)».
Mas, muito em breve Massena assumiria que as Linhas eram, de facto, intransponíveis, daí que tivesse retirado o seu exército para Santarém, Leiria e Rio Maior, saindo de Alenquer a 12 de Novembro. Com a saída dos franceses, avançaram e instalaram-se na nossa vila as tropas aliadas. Ainda segundo Henriques «No dia 15 daquele mês a Divisão Ligeira [seria a Leal Legião Lusitana?]  do exército defensor chegou a Alenquer, espiando os movimentos do inimigo, e tendo verificado que estes tinham por destino Santarém, a vila foi ocupada pela Quinta Brigada sob o comando do brigadeiro inglês Campbell.».
Feita esta introdução, apresentemos, pois o documento abaixo:
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- Ofício do Vigário da Vara de Alenquer a D. Miguel Pereira Forjaz (PT AHM-DIV- 1-14-169-09).

«Ilmº, Exmº, Sr. D. Miguel Pereira Forjaz

Achando-se já na vila de Alenquer e suas vizinhanças várias famílias (1)  insta o meu dever, e o Ex.mº e Rev.mª Patriarca eleito exige que eu passe àquela vila para restabelecer o culto público da nossa Religião e acudir com o Pasto Espiritual a estes Povos. E como a minha residência e a do meu cura e todas as Igrejas se acham servindo de Quartel às Tropas combinadas de que são chefes Campbell (2) e o Barão de Eber, pretendo que V. Ex.ª se digne rogar àqueles que removam os Quartéis das residências referidas e igualmente de uma das cinco igrejas que eu escolher como mais decente
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- Gravura oitocentista da Igreja da Várzea mostrando-a muito arruinada.

   para o Santo Ministério Pastoral e que as mesmas tropas não obstem ao exercício das funções ministeriais (...) .
Esta é a graça que suplico a V. Ex.ª por serviço de S.A.R. como protector da Igreja.
Vigário da Vara d'Alenquer - João Teixeira de Azevedo Monterroso.

Num segundo ofício o mesmo clérigo dá conhecimento a D. Miguel Pereira Forjaz que havia regressado a Alenquer e havia sido bem atendido pelos supra citados chefes militares.

(1) - Os franceses haviam saído de Alenquer a 12 de Novembro de 1810 e um mês depois já havia notícia que muitos alenquerenses haviam regressado à vila e às suas casas. Parece que houve mais assaltos e destruições, inclusive a edifícios administrativos e cartórios religiosos, neste período do que no anterior em que se deu a ocupação francesa.
(2) - O brigadeiro inglês Campbell que comandava a Quinta Brigada (Infantaria 6 e 18 e Caçadores).
(3) - Barão de Eber - No Buçaco comandou um Batalhão a 5 companhias da Leal Legião Portuguesa.

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- Soldado da Leal Legião Portuguesa
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A Leal Legião Lusitana foi criada em Inglaterra (Plymouth) por iniciativa de dois coronéis portugueses: José Maria de Moura e Carlos Frederico Lecor. O grosso desta formação, organizada como um Regimento a dois Batalhões reforçado com uma bateria de Artilharia, era um corpo de voluntários composto por exilados portugueses mas também por britânicos - o seu comandante foi o Coronel Sir Norbert Wilson - 26 suíços, 63 alemães e 15 piemonteses desertores das tropas napoleónicas.
A LLL, afinal Regimento de Infantaria Ligeira, desembarcou no Porto em 1808 e combateu em Portugal e Espanha, após o que se integrou no Exército Português (1811).
Uma vez que o Barão de Eber foi um dos seus comandantes e estando ele em Alenquer conforme o documento acima, é bem possível que a Leal Legião Lusitana também aqui tivesse estado, talvez integrada na tal Divisão Ligeira que veio no encalço  dos franceses quando estes retiraram. 
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- Igreja e Arcadas do Espírito Santo, como deviam ser à época.

02 outubro, 2013

DEAMBULAÇÕES ESTIVAIS - V

TRANCOSO - A TERRA DO SAPATEIRO QUE FAZIA PROFECIAS
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Trancoso pertence ao Distrito da Guarda e a ela se acede a partir da A-25 (um pouco antes de Celorico para quem vem da Guarda) pelo IP 2, ou, então, a partir de Celorico da Beira pela EN 102 (nunca a partir de Fornos de Algodres por Sobral Pichorro, porque as voltas da serra são muitas...). Trancoso alcançou a dignidade de cidade em 2004, mas é cidade pequena, com cerca de 3.000  habitantes. O Concelho tem uma área de 364 Km2 onde habitam cerca de 6.500 habitantes (com uma forte emigração, os números são sempre relativos...) em 29 Freguesias, isto antes da recente reforma administrativa. Hoje fala-se em 9.878 habitantes em 1960 eram 18.224...
Concelhos limítrofes, são Penedono a Norte, Celorico da Beira a Sul, Sernancelhe a noroeste, Fornos de Algodres a Sudoeste, Meda a Nordeste, Aguiar da Beira a Oeste e Pinhel a Leste. É uma zona planáltica, com uma altitude média de 750 metros, as cotas mais elevadas, 985 metros, situam-se nas freguesias de Sebadelhe da Serra e Guilheiro, e 890 metros em Terrenho, Moreira do Rei e Guilheiro. Terras arejadas portanto, mas quentes no Verão e frias no Inverno.
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- Uma das entradas de Trancoso, ao fundo uma das portas do Castelo, em primeiro plano, no exterior da vila, monumento evocativo das bodas de D. Dinis com Isabel de Aragão
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- Edifício dos Paços do Concelho, com a estátua de Gonçalo Anes Bandarra em primeiro plano.
Bandarra, sapateiro-poeta, que nas suas Trovas "exalta a imaginação sebastianista do povo português. Estas "Trovas" tiveram a sua primeira publicação em 1540.
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- Pelourinho de Trancoso, bem no centro de Trancoso. Um pelourinho dito de "gaiola" no estilo manuelino.
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- Uma perspectiva do Castelo de Trancoso.
O castelo de Trancoso será anterior á própria nacionalidade. Por ali terão andado, também os mouros, mas D. Afonso Henriques conquistou-o em 1160. Depois conheceu melhoramentos com D. Afonso II (que confirmou a Carta de Foral doada pelo Conquistador) e também com D. Dinis.
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- Aspecto da Judiaria
- Tendo tido importante presença judaica, são muitos os sinais que a mesma deixou gravados nas velhas pedras das suas casas.
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- Casa que foi Quartel-General de Beresford, quando da Guerra Peninsular.
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- Rua da Corredoura, uma das principais.
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Uma nota final para aqui evocar duas coisas que me chamaram a atenção em Trancoso, uma terra bem cuidada. Primeiro os seus bonitos candeeiros que talvez sirvam de inspiração para uma iniciativa local (com as devidas adaptações, claro, no que toca aos motivos recortados na chapa):
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Por último, a excelente Casa da Prisca, na Rua da Corredoura, onde encontrará produtos regionais de excelência: Enchidos, presuntos, queijos regionais, compotas, geleias, e... as famosas "sardinhas" emblemático (e saboroso) doce local. Como diz o folheto «tem forma de peixe, tem nome de peixe, mas não sabe a pescado. Sugere o mar, mas de salgado não tem nada, nem tem pescado como ingrediente. São as sardinhas doces, a pastelaria conventual de Trancoso». Gostava de lá voltar...