13 junho, 2013

NO DIA DE SANTO ANTÓNIO....


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PORQUE É VENERADO NA ALDEIA DO CAMARNAL ESTE SANTO CASAMENTEIRO?
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O mote para este post surgiu de uma conversa com um amigo camarnalense, no face e a propósito do cartaz das festas que, muito a propósito, estão a decorrer nesta simpática aldeia vizinha de Alenquer.
Que eu saiba, este santo popular é venerado no nosso concelho nas aldeias da Labrujeira (onde não se pode dizer que parece um «lagarto pintado»...), na Pipa e como já referi no Camarnal. 
E isto, de esta terra ou aquela terra venerar este ou aquele santo e não outro, já me tem dado que pensar... Por vezes as razões são evidentes ou bem conhecidas. Por exemplo, em Meca, naquela que já foi a mais popular romaria estremenha, venera-se Santa Quitéria porque, um dia, já há séculos, ali apareceu uma imagem da mártir. Portanto foi ela que escolheu a terra e não o contrário.
 Em Cabanas de Torres, no sopé de Montejunto, terra fundada por gentes de Torres Vedras fugidas à peste e em busca de ares saudáveis, é S. Gregório quem se venera. Não o Papa Gregório VII, mas o primeiro, conhecido com Magno que, precisamente, em determinado período do seu pontificado, se distinguiu pelas medidas tomadas no combate à peste e à fome, logo, bate certo.
E o Santo António no Camarnal? Não consta que por aqui tivesse andado... Mas andou um franciscano por ele.
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Nesta indagação que nos propusemos fazer, necessário se torna recuar ao tempo da guerra civil que opôs liberais a absolutistas, os primeiros seguidores de D. Pedro IV e do constitucionalismo, os segundos de D. Miguel e do poder absoluto. Muito haveria para dizer sobre o que por aqui aconteceu, em Alenquer, nesses tempos difíceis como são todos os tempos de guerra, particularmente de guerra interna que lança irmãos contra irmãos. Isso ficará para outra ocasião e para outro local, porque por agora diremos, tão só, que os frades de S. Francisco de Alenquer e da Carnota, conventos da ordem de S. Francisco, não se portaram lá muito bem para com os alenquerenses liberais, daí que tendo D. Miguel retirado para Santarém, aliviando o cerco a Lisboa, também os frades abandonaram estas duas casas, para não mais voltarem.
Mas, nem todos. O guardião padre Bento ficou na Ota e depois seguiu para a Abrigada onde viria a falecer. Já um tal padre José, escolheu ser capelão no Camarnal. Num jornal "O Alemquerense", publicado em 1891, fomos encontrar uma interessante crónica assinada por, tão só, "Um Velho", homem de boa escrita, muito espírito e que por ter vivido estes tempos era necessariamente pessoa de proveta idade, mas de grande lucidez e excelente memória. Sobre o bom do padre/frei José escreveu ele: «bom padre que, nas horas vagas, benignamente se prestava a levar e trazer missivas amorosas!». Depois, em jeito de desabafo, escreveu o cronista: «Que recordações saudosas nos suscita a lembrança daquele padre!... E, quem sabe se... alguém daquele tempo e daquele lugar chegar a ler estas linhas, terá por ele igual sentimento lembrando-se de um passado que não tornará a vir?». Maroteiras...
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- Capela de Santo António, no Camarnal.
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Assim, sem grande esforço, somos levados a acreditar que o culto de Santo António no Camarnal se ficou a dever a este bom frade amigo dos namorados e franciscano como Santo António, também ele igualmente bom e casamenteiro. E, feitas as contas, verificamos que este culto comemora este ano os seus 180 anos, tantos como os que nos levam à chegada esta aldeia, em 1833, de frei José.
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- O meu Santo António caseiro.
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E, para terminar, tenho que vos apresentar o meu santo protector, logo eu que me proclamo agnóstico (na realidade não sigo, nem pratico religião alguma, embora respeite todas as que me respeitam), mas não se perde nada jogar pelo seguro. Portanto aqui fica o meu Santo António caseiro, uma centenária imagem em singelo barro, que eu tenho por milagrosa.
Ora, ora, dirão vocês... Então escutem: Esta imagem veio de casa de uns familiares muito pobres. O homem da casa era trabalhador de enxada e a esposa, muito católica, bem se esforçava por manter um singelo oratório. Só que quando o seu homem vinha da taberna tomado pelos vapores etílicos, tinha o péssimo hábito de varrer o oratório a cabo de enxada. Em repetidos episódios muitos foram os santinhos feitos em cacos e só um, milagrosamente, escapava sempre: este Santo António que há anos me faz companhia e com quem costumo conversar. O quê? Bom, aí já era saberem demais...