29 junho, 2009

ELAS ESTÃO LÁ, PROCUREM-NAS....







Na vizinha Galiza, nas Rias Baixas, mesmo na Península de O Grove - a de todas as excursões aos mexilhónes - mesmo aí, existem segredos bem guardados de praias paradisíacas, com água à temperatura algarvia ( partidas da Corrente Quente do Golfo.... ).
É tempo, pois, de rumar ao Norte e deixarmo-nos ir pela auto-estrada até às imediações de Pontevedra. Chegados aí, apanha-se a carretera para a península de O Grove, aquela que passa por Sanxenxo e Portonovo. Quando lerem esses nomes, olhem para o lado e sigam em frente, porque não tardará muito estarão a deslizar pela língua de areia de A Lanzada que tem praia do mesmo nome.
Depois dessa imensa recta, uma enorme rotunda. Pela direita vão ter à cidade piscatória de O Grove, vizinha de La Toja, com marisqueiras «porta sim, porta sim». Se tomarem o caminho da esquerda passarão por San Vicente del Mar. Continuando, estarão no pinhal e, depois, por alturas do Reboredo, começarão a surgir tabuletas indicando praias. Façam favor de se atreverem e não se arrependerão por terem metido o rico carrinho na terra batida.
Boa praia, e, ao fim do dia, numa esplanada fresquinha, mexilhões com Alvarinho. Divirtam-se.













19 junho, 2009

AS INVASÕES FRANCESAS E O COMBATE DE ALENQUER, NO DIA 10 DE OUTUBRO DE 1810


Por vezes é assim. Vamos para a Biblioteca Nacional com um programa de pesquisa bem definido e depois... é uma desgraça. Vem à rede de tudo um pouco, menos o que lá nos levou. E tudo piora quando por obra e graça do Espírito Santo ( por isso ele "soprou" tanto, aqui em Alenquer, sua terra de eleição ) lográmos conseguir que nos viessem à mão 10 anos de jornais antigos com o título «Damião de Goes»! Então a perdição é completa... Irei partilhando convosco algumas descobertas.
É de Guilherme Henriques esta achega ao combate de 10 de Outubro travado em Alenquer, combate a que ele havia já feito referência, evocando uma descrição do seu padrinho General Duque Saldanha que do mesmo foi testemunha em primeira mão a partir do QG instalado na "Arcada" do Espírito Santo:
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«Há dias tive a oferta de uma obra inglesa sobre a Guerra Peninsular, intitulada Adventures in the Rifle Brigade pelo capitão Sir John Rincaid. Nele encontrei as seguintes referências:
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Na manhã de um dia de muita chuva e vento retirámos até Alenquer, pequena vila, ao cimo de um monte, cercado de outros mais elevados; e como o inimigo não se tinha mostrado na véspera, tomámos posse das casas ( pobres alenquerenses...), com razoável probalidade de nos ser permitido o prazer, pouco usual de comermos um jantar debaixo de telha.
Mas quando o arrátel ( cerca de meio quilo ) de vaca - que era a ração diária de cada praça - estava talvez meio cozido, e no momento em que um oficial de dragões estava narrando que tinha patrulhado seis léguas para a frente sem encontrar sinais do inimigo, vimos aqueles indefatigáveis (sic) mariolas, no monte em frente das nossas janelas, começando a cercar-nos com uma mistura de cavalaria e infantaria; soprando um vento de tal forma que a cauda comprida de cada cavalo estava estendida, em recta, e tocava o focinho do cavalo que o seguia, fazendo o efeito de todos estarem enfiados num cabo e rebocados pelo que vinha na frente.
Umas poucas de companhias formaram e contiveram o inimigo enquanto o resto da Divisão se estava reunindo. Deitámos fora o caldo como era normal e metemos os sólidos fumegantes, nos sacos, para serem mastigados oportunamente, e continuámos a nossa retirada.».
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- Conclui Henriques: « Concorda isto exactamente com o que me contou o Marechal Duque de Saldanha que fazia parte da mesma Brigada.
- Damião de Goes, n.º 253, 2 de Janeiro de 1910, p. 3.
...
Para o próximo ano, no dia 10 de Outubro, completar-se-ão 200 anos sobre este acontecimento histórico que a nossa Vila testemunhou. Esperamos que a data venha a ser dignamente comemorada, como, aliás, tem vindo a acontecer um pouco por todo a País, nas vilas e cidades que foram palco destas ocorrências.

12 junho, 2009

AO MANUEL GÍRIO

NA LINHA DO OESTE
Não tenho tempo a perder
Nem truques a ganhar
Nem frases para entreter
Nem promessas de embalar
...
Levo o meu rumo traçado
E um caminho para andar:
Deixar p'ra trás o passado
E só p'rá frente avançar.
...
-Quem hesita na partida
Ficará a hesitar
o resto da sua vida....
...
Eu quero seguir a rota
que o bom senso me indicou
ser tal qual como a gaivota
que pr'a trás nunca ficou.
...
- Vou embarcar no comboio
que a vida me destinou...
...
Vou p'la linha do Oeste
atrás da minha vontade
já num azul-celeste
vi o sol da Liberdade!...
...
Onde é que ficou a esp'rança
naquele Maio projectada?
quando é que de Abril se alcança
a promissora alvorada?
...
-E é do comboio que avança
esta lembrança mordaz;
«Ficou p'ra trás, ficou p'ra trás, ficou p'ra trás...»
...
Mesmo se o combóio parar
eu hei-de seguir viagem.
Aqui não me quero ficar
Não me falte a coragem!
Sozinho ou acompanhado
devagar ou a correr
não hei-de ficar parado
porque parar...é morrer!
...
O Manel não morreu, prosseguiu viagem. Porque só tardiamente tive notícia da sua partida, não estive lá, nesse derradeiro cais onde embarcou, só com bilhete de ida como sempre acontece, para dele me despedir com a promessa de que ainda um dia nos haveremos de encontrar para longas conversas sobre teatro e música.
Até lá fica a lembrança desse homem afável e educado, culto e sonhador, companheiro de Abril e de outras jornadas, como a do inesquecível Jornal de Alenquer onde saíu o belíssimo poema de que acima transcrevemos alguns excertos em sua homenagem. Esse poema havia sido dito no Sporting Clube de Alenquer num aniversário do jornal (1979) e toda a sala o apaludiu de pé.
O Manuel Gírio escreveu e encenou teatro. No teatro de Revista atingiu alturas que o levaram a ser representado por companhias profissionais. E quem não se lembra de todos esses espectáculos que puseram Alenquer a rir e a chorar? O Manel era igualmente um excelente letrista.
E é situando-o no palco, à boca de cena, agradecendo os aplausos pelo sucesso de uma vida, enquanto as cortinas lentamente se fecham e as luzes se apagam, a última imagem com que quero ficar dele. Até sempre Manel.

05 junho, 2009

AS FREGUESIAS DA VILA (II)

Não, não foi, mas a isso já lá iremos. Antes disso voltemos a 1851 e a Albino de Figueiredo que escreveu na sua «Memória»:
«Das cinco freguesias já não existem senão três; a de S. Tiago uniu-se à de Santo Estêvão, a da Vargem à de Triana. Subsiste ainda, pelo menos de facto, a de S. Pedro. Esta porém, parece ter contados os dias de existência, havendo o prelado aceitado a desistência que pediu o respectivo pároco e mandado que a curasse o prior de Santo Estêvão. Logo que esta resolução se verifique completamente estão as cinco freguesias reduzidas a duas, e, ainda assim uma é de mais, porque só uma freguesia convém que haja nesta vila.».
Certamente que quem acabou de ler o período anterior estranhará que estando nós aqui a falarmos de freguesias surjam nele tantas referências religiosas, tanto clero ligado à sua administração, mas a verdade é que com a subida de Costa Cabral em 1842 a Ministro do Reino e com a promulgação do Código Administrativo de 18 de Março de 1842, a freguesia foi excluída do sistema administrativo.
Em consequência disso o Pároco passou a ser, por inerência, o presidente da Junta de Paróquia e o Regedor o executor. Esta foi uma situação que conheceria poucas alterações até à República e ao Código Administrativo de 7 de Agosto de 1913 (Provisório) que criaria as paróquias civis.
Um pouco mais tarde, com o Código (também provisório de 1916) as Freguesias substituiriam, finalmente as paróquias civis. Também seria com a República que nasceriam os Registos Civis, porque até aí os assentos dos nascimentos, dos casamentos e dos óbitos, pertenciam à Igreja e, estas atribuições quase inocentes, davam à intituição religiosa um poder sobre a sociedade civil muito maior do que aquilo que se possa imaginar.
Penso que não estou errado ao afirmar que muito do anticlericalismo de que a República é acusada, não lhe advém dos excessos que todas as Revoluções, todos os momentos de ruptura com o passado, trazem inevitavelmente consigo, mas sim por ter subtraído à Igreja instrumentos de domínio que lhe eram preciosos. A Igreja trata das questões da alma, mas desde Constantino, nunca mais desprezou o poder temporal pelo que a mensagem de Cristo, imperador dos pobres, ficou algo esquecida.
Voltando às freguesias, de facto elas ficariam reduzidas a duas, Triana e Santo Estêvão, situação que ainda hoje se mantêm. Mas fará isso sentido? Penso que não, que não faz sentido nenhum ter a vila dividida administrativamente pelo rio. Uma única freguesia daria maior dimensão e importância a essa autarquia, ajudá-la-ia a sair «debaixo da asa da Senhora Câmara». e isso era importante que acontecesse, para que os fregueses melhor sentissem a sua existência, melhor pudessem avaliar o seu desempenho. Tanto mais que isso criaria condições para a celebração de protocolos com a Câmara que regulassem transferências de competências que justificassem, de facto, a existência desses escalão autárquico na área urbana da vila.
Todavia, seria importante a criação simultânea de uma outra freguesia, a de Paredes que herdaria da de Santo Estêvão o território que vai dos Casais de Santo António aos Cabeços. De facto o Bairro das Paredes - ligado à vila, mas separado da vila - ganhou importância e população, constitui uma realidade autónoma da vila, pelo que justifica uma gestão autárquica de maior proximidade, ao nível de Freguesia.

01 junho, 2009

AS FREGUESIAS DA VILA (I)


Como será lógico deduzir, os tempos que se seguiram à Reconquista não terão sido nada fáceis nesta «extrema dura» do território, zona de charneira entre as terras ocupadas a Norte pelos cristãos do Portugal que crescia e a Sul pelos «mouros» que iam resistindo como podiam aos ímpetos da Reconquista.
Por isso mesmo o nosso rei D. Sancho I teve que entregar aos francos as terras de Vila Verde e aos monges de Alcobaça o Paúl de Ota, por exemplo, para que estas terras se enchessem de gentes e os campos fossem cultivados. Depois, com o crescimento demográfico alcançado no século XIII tudo começaria a levar novo rumo.
Como disse Albino de Figueiredo que no século XIX foi administrador do concelho de Alenquer, «à proporção que a riqueza crescia se multiplicavam as freguesias filiais». Um historiador já desaparecido, João Pedro Ferro, autor de uma obra intitulada Alenquer Medieval, de acordo com as mais antigas referências encontradas, assinala o aparecimento da freguesia de Santo Estêvão em 1190 ( esta na cerca do castelo que hoje corresponde, mais ou menos, ao nosso bairro da Judiaria ), da de Santiago em 1221 ( não tinha fregueses na vila mas tão só no termo), da de Santa Maria de Triana em 1226 ( veja-se como bem cedo a vila galgou o rio ), da de Santa Maria da Várzea em 1239, e por último da de S. Pedro em 1242.
Curiosamente Santo Estêvão, Santa Maria e S. Pedro são nomes de freguesia que à época existiam praticamente em todas as terras importantes, Lisboa por exemplo, sendo de anotar que as freguesias ditas de S. Pedro geralmente estavam ligadas à existência aí de comunidades piscatorias. Havia ainda um outro nome muito comum, S. Miguel, que por acaso nunca existiu na vila de Alenquer. Todavia S. Miguel de Palhacana, com Aldeiagalega, Ventosa e Ota, são as primeiras freguesias assinaladas no termo da vila.
Regressando à vila, refira-se que estas cinco freguesias haviam de perdurar por bons anos, pois só no século XIX o assunto seria objecto de atenção, precisamente pelo já citado administrador Albino d'Abranches Freire de Figueiredo, autor de uma interessante Memória sobre alguns melhoramentos possíveis da vila e do concelho de Alemquer, escrita em 1851.
Nessa pequena obra diz o seu autor que «Cinco freguezias, quatro colegiadas, trinta e um beneficiados, e tudo isto rico, era o resultado dos importantes dízimos que pertenciam à igreja de Alenquer». Esclareça-se que «dízimo» era um importanto imposto cuja colecta revertia grosso modo a favor da Igreja, assim como o facto das freguesias, algo diferente do que hoje acontece, estarem sobre a alçada dessa instituição religiosa.
Prosseguindo, diz o mesmo autor que «a prudência aconselhava o governo a dividir por muitos eclesiásticos os ricos dízimos de que não podia dispôr plenamente. Mas depois que estes ( os dízimos ) foram extintos, a mesma prudência que aconselhou a criação de freguesias e colegiadas, exige que novamente se reunam as freguesias em uma só». Foi isso que aconteceu? Isso veremos numa segunda parte.