19 junho, 2009

AS INVASÕES FRANCESAS E O COMBATE DE ALENQUER, NO DIA 10 DE OUTUBRO DE 1810


Por vezes é assim. Vamos para a Biblioteca Nacional com um programa de pesquisa bem definido e depois... é uma desgraça. Vem à rede de tudo um pouco, menos o que lá nos levou. E tudo piora quando por obra e graça do Espírito Santo ( por isso ele "soprou" tanto, aqui em Alenquer, sua terra de eleição ) lográmos conseguir que nos viessem à mão 10 anos de jornais antigos com o título «Damião de Goes»! Então a perdição é completa... Irei partilhando convosco algumas descobertas.
É de Guilherme Henriques esta achega ao combate de 10 de Outubro travado em Alenquer, combate a que ele havia já feito referência, evocando uma descrição do seu padrinho General Duque Saldanha que do mesmo foi testemunha em primeira mão a partir do QG instalado na "Arcada" do Espírito Santo:
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«Há dias tive a oferta de uma obra inglesa sobre a Guerra Peninsular, intitulada Adventures in the Rifle Brigade pelo capitão Sir John Rincaid. Nele encontrei as seguintes referências:
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Na manhã de um dia de muita chuva e vento retirámos até Alenquer, pequena vila, ao cimo de um monte, cercado de outros mais elevados; e como o inimigo não se tinha mostrado na véspera, tomámos posse das casas ( pobres alenquerenses...), com razoável probalidade de nos ser permitido o prazer, pouco usual de comermos um jantar debaixo de telha.
Mas quando o arrátel ( cerca de meio quilo ) de vaca - que era a ração diária de cada praça - estava talvez meio cozido, e no momento em que um oficial de dragões estava narrando que tinha patrulhado seis léguas para a frente sem encontrar sinais do inimigo, vimos aqueles indefatigáveis (sic) mariolas, no monte em frente das nossas janelas, começando a cercar-nos com uma mistura de cavalaria e infantaria; soprando um vento de tal forma que a cauda comprida de cada cavalo estava estendida, em recta, e tocava o focinho do cavalo que o seguia, fazendo o efeito de todos estarem enfiados num cabo e rebocados pelo que vinha na frente.
Umas poucas de companhias formaram e contiveram o inimigo enquanto o resto da Divisão se estava reunindo. Deitámos fora o caldo como era normal e metemos os sólidos fumegantes, nos sacos, para serem mastigados oportunamente, e continuámos a nossa retirada.».
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- Conclui Henriques: « Concorda isto exactamente com o que me contou o Marechal Duque de Saldanha que fazia parte da mesma Brigada.
- Damião de Goes, n.º 253, 2 de Janeiro de 1910, p. 3.
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Para o próximo ano, no dia 10 de Outubro, completar-se-ão 200 anos sobre este acontecimento histórico que a nossa Vila testemunhou. Esperamos que a data venha a ser dignamente comemorada, como, aliás, tem vindo a acontecer um pouco por todo a País, nas vilas e cidades que foram palco destas ocorrências.