12 junho, 2009

AO MANUEL GÍRIO

NA LINHA DO OESTE
Não tenho tempo a perder
Nem truques a ganhar
Nem frases para entreter
Nem promessas de embalar
...
Levo o meu rumo traçado
E um caminho para andar:
Deixar p'ra trás o passado
E só p'rá frente avançar.
...
-Quem hesita na partida
Ficará a hesitar
o resto da sua vida....
...
Eu quero seguir a rota
que o bom senso me indicou
ser tal qual como a gaivota
que pr'a trás nunca ficou.
...
- Vou embarcar no comboio
que a vida me destinou...
...
Vou p'la linha do Oeste
atrás da minha vontade
já num azul-celeste
vi o sol da Liberdade!...
...
Onde é que ficou a esp'rança
naquele Maio projectada?
quando é que de Abril se alcança
a promissora alvorada?
...
-E é do comboio que avança
esta lembrança mordaz;
«Ficou p'ra trás, ficou p'ra trás, ficou p'ra trás...»
...
Mesmo se o combóio parar
eu hei-de seguir viagem.
Aqui não me quero ficar
Não me falte a coragem!
Sozinho ou acompanhado
devagar ou a correr
não hei-de ficar parado
porque parar...é morrer!
...
O Manel não morreu, prosseguiu viagem. Porque só tardiamente tive notícia da sua partida, não estive lá, nesse derradeiro cais onde embarcou, só com bilhete de ida como sempre acontece, para dele me despedir com a promessa de que ainda um dia nos haveremos de encontrar para longas conversas sobre teatro e música.
Até lá fica a lembrança desse homem afável e educado, culto e sonhador, companheiro de Abril e de outras jornadas, como a do inesquecível Jornal de Alenquer onde saíu o belíssimo poema de que acima transcrevemos alguns excertos em sua homenagem. Esse poema havia sido dito no Sporting Clube de Alenquer num aniversário do jornal (1979) e toda a sala o apaludiu de pé.
O Manuel Gírio escreveu e encenou teatro. No teatro de Revista atingiu alturas que o levaram a ser representado por companhias profissionais. E quem não se lembra de todos esses espectáculos que puseram Alenquer a rir e a chorar? O Manel era igualmente um excelente letrista.
E é situando-o no palco, à boca de cena, agradecendo os aplausos pelo sucesso de uma vida, enquanto as cortinas lentamente se fecham e as luzes se apagam, a última imagem com que quero ficar dele. Até sempre Manel.