16 maio, 2014

CONVENTO DE S. FRANCISCO, DE ALENQUER


OS CLAUSTROS DO CONVENTO
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- O Convento de S. Francisco fotografado de um ângulo pouco usual (do alto do Ventoso, subindo o ribeiro de S. Benedito). A norte o cemitério, antiga cerca do Convento, terminando no Mazagão ou Barroca. No vale fronteiro, a vila emerge por entre os montes que a comprimem. 

Edificado no mesmo local onde a Rainha D. Sancha, filha de D. Sancho I e donatária da vila, teve o seu paço, o Convento de S. Francisco da vila de Alenquer não passa despercebido a quem visita a vila. Hoje é consensual que terá sido a primeira casa dos franciscanos em Portugal e são de Frei Manuel da Esperança (séc. XVII), primeiro cronista da Ordem, as palavras que transcrevemos e que tão bem nos dão conta da sua localização:
«Pelo que temos escrito se poderá entender a correspondência, que faz este convento à vila. Está fundado junto dela em lugar superior na ladeira de um monte, que, sendo íngreme, neste sítio lhe ofereceu uma planície capaz de seus edifícios. Aqui desta eminência senhorea a mesma vila, recompensando-lhe sua humilde sujeição com uma majestuosa formosura. Participa nos ares muita benevolência do céu, e sem cobiçar cousa alguma da terra, põe os olhos ao perto em uma ribeira fresca, e ao longe vai descobrindo tantas terras aquém, além Tejo, que a vista cansada com estas grandes distâncias não lhes pode dar alcance».
A edificação desta casa por Frei Zacarias e Frei Gualter, discípulos de S. Francisco de Assis, remonta ao já distante ano de 1222, embora os piedosos frades tivessem chegado a Alenquer em 1216, instalando-se primeiro na velha ermida de St.ª Catarina onde construíram «umas celinhas térreas e pobres com algumas oficinas e o coro para louvarem a Deus». 

- Pormenor dos painéis de azulejo que ornamentam a portaria.

Acede-se ao Claustro pela Portaria que se abre no cimo de uma escadaria que tem o seu começo junto ao Pórtico da Igreja (classificado como monumento nacional). Um alpendre recente, porque do original já se perdeu a memória) protege o que resta dos painéis de azulejo do séc. XVIII, o da esquerda historiando  a Aparição dos Santos Mártires de Marrocos à Infanta D. Sancha e o da direita, em melhor estado de conservação, representando o Êxtase do Beato Zacarias perante o Senhor crucificado que lhe falou. Olhando a parte inferior dos painéis veremos paisagens idealizadas ao gosto da época.

- Vista parcial dos Claustros

Poder-se-à dizer que o Claustro é o centro da vida monástica, daí se acedendo a todas as dependências do Convento. No caso presente, o espaço claustral e belo e muito amplo, com trinta e quatro metros de lado. O piso inferior, ou galeria, abre-se em arcos suportados por duas colunatas cujos capitéis estão trabalhados com motivos florais. Nesse piso, por norma situavam-se o refeitório, a cozinha, a casa capitular e outras dependências como a livraria, o lavatório, etc. Nos piso superior, ficavam os dormitórios.
O nosso claustro é manuelino, construído no reinado do nosso Rei D. Manuel, logo sobrevivente ao grande terramoto de 1755 que causou grandes danos no Convento e na Igreja. Prova dessa origem encontramo-la, por exemplo, nos ângulos interiores decorados com elementos característicos da época, como por exemplo a esfera armilar.

- Portal gótico, um dos poucos sinais visíveis da construção original medieva.

Vindos da Portaria, cortando à esquerda e percorrendo essa galeria, encontraremos a porta acima que comunica com o coro, como nos explica Frei Manuel Esperança: «(...) Saindo do coro, e caminhando à mão esquerda pelo claustro para a parte da capelo mor (...) Dobrando daqui a outra quadra do claustro, encontraremos logo a casa do capítulo».
E assim acontece. Mas antes de lá chegarmos ainda encontraremos a porta abaixo representada, hoje fechada e ornamentada com uma pedra de armas...


... assim como «a um canto do claustro inferior, um altar (abaixo) com uma inscrição», ladeado de duas pedras com inscrições.


A inscrição diz o seguinte: «Todos os anos no seu dia tira N. P. S. Francisco seus filhos do purgatório». Já as pedras, uma das quais se mostra abaixo, têm inscrito (a da esquerda): «O devotissimo P.e Frey Cristovão da Conceição celebre por fama de Santidade e milagres passou d'esta vida a 12 de dezembro de 1649 foi achado seu corpo o peito e o coração incorrupto e cheiro suave e trasladado a este logar anno de 1653». Enquanto a da direita tem gravado: «O veneravel Frey António de Xpõ avendo passado quarenta annos de contínua e rigorosa penitencia ornado de muitas e exemplares virtudes acabou seu curso com grande opinião de Santo a 31 de maio de 1636 annos. Foi trasladado á este logar no de 1653».



- Nas galerias claustrais encontraremos várias pedras tumulares. Achámos esta interessante por se referir a um irmão da Ordem do Templo (assim nos parece).

A CASA DO CAPÍTULO

- Portal manuelino da Casa do Capítulo


- Pormenores do portal manuelino da Casa do Capítulo.

- Junto ao portal manuelino vestígios góticos do antigo convento colocados a descoberto quando de umas obras.

Ricamente trabalhado ao estilo manuelino, o portal da Casa do Capítulo apresenta uma «decoração vegetalista onde brincam pássaros, leões e pequenos bambinos». Por curiosidade, diga-se que este convento foi escolhido para aqui se celebrarem nove Capítulos da Ordem Franciscana, nos anos de 1468, 1486, 1545, 1581, 1689, 1702, 1706, 1709 e 1713. Sobre esta casa, situa-se a Capela de Santa Sancha.


Atravessando o jardim interior dos Claustros encontramos este poço que comunica com um gigantesca cisterna que ocupa abaixo do solo (por isso é cisterna...) grande parte do espaço descoberto.

- O Relógio de Sol.

Sobre o canto NO, vislumbraremos outro dos grandes motivos de interesse destes Claustros: o Relógio de Sol oferecido por Damião de Góis, em «mármore fino de Génova» e datado de 1558 (diz-se que teria sido oferecido em 1557, algo não bate certo). 

CAPELA DA FAMÍLIA MIRANDA HENRIQUES

- Capela renascentista da família Miranda Henriques.

- Pormenor do tecto da capela

-Pormenor do arco de entrada da capela.

Quem entrar pela Portaria e seguir em frente pela galeria claustral que se abre perante si, primeiro encontrará uma pequena capela que foi da família Miranda Henriques. O arco de entrada, trabalhado, é interessante pelos seus motivos ditos grotescos e está encimado pela pedra brasonada da família fundadora, assim como pelo que resta de um painel de azulejos.
O tecto é abobadado, apresentando nervuras e florões, bem como um escudete heráldico. Os motivos são renascentistas e os azulejos sobrantes do séc. XVIII.

REFEITÓRIO DOS FRADES

- Refeitório dos frades


- Pormenor exterior do refeitório

De nave única e bem alta e com a parede (a fronteira à entrada) revestida a silhares de azulejo, vendo-se ao centro a escada embebida no muro e o púlpito do leitor, interessante trabalho em pedra, assim se nos mostra o refeitório. Até há bem pouco tempo serviu de arrecadação, mas, quando por lá passámos, preparava-se para receber obras. À esquerda, tem duas janelas (fechadas) que comunicam com a cozinha conventual.

-Porta da cozinha.

-Pormenor do arco superior da porta

A cozinha deverá ser outra dependência interessante desta casa conventual, mas não está acessível, pelo que nos ficaremos por um dos pormenores mais intrigantes da mesma: a sua porta de entrada. Como é bem visível toda ela está construída e trabalhada de forma enviesada. Desconhecemos os motivos e não conhecemos outra semelhante. Um desafio ao saber ou imaginação do visitante.
Aqui, como na arquitectura das casas cistercienses, refeitório e copa encontram-se na ala contrária à igreja.


Terminada a visita olhamos para cima, para o galo que do alto da torre sineira nos espreita. Pensamos que este é todo um conjunto arquitectónico que enobrece a vila de Alenquer e que, sendo propriedade da Misericórdia (e da Paróquia), muito poderá trazer de valioso aos desígnios turísticos da vila.


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A PROPÓSITO:


COLÓQUIO - OS FRANCISCANOS EM ALENQUER

Memórias para a história do primeiro Convento da Ordem em Portugal

AMANHÃ, SÁBADO 17, PELAS 15,30 HORAS
PAÇOS DO CONCELHO DE ALENQUER
COM
PADRE VÍTOR MELÍCIAS E FREI HENRIQUE REMA