18 dezembro, 2008

É NATAL! - EVOQUEMOS AS ORIGENS DO PRESÉPIO

Somos ou não somos a "Vila Presépio"? Gosto deste epíteto, mas gostaria de o ver utilizado, tão só, por esta época natalícia, e, acima de tudo, acompanhado por um maior número de acontecimentos e realizações que colocassem Alenquer na "boca" do País, disputando com Óbidos ( a "Vila Natal" ) o destino dos portugueses e das suas crianças a quem esta época particularmente é querida.
Não queremos ser injustos, mas o que por aqui se faz sabe a pouco, é demasiado "caseiro" e não demonstra grande ambição. É certo que o nosso monumental presépio lá continua encantando quem o vê ( já são menos, porque a antiga E.N.1, ao "Caco", com a construção da variante, praticamente deixou de ser utilizada ) e motivando uma ou ou outra reportagem televisiva. Também a exposição-venda de presépios na Biblioteca tem dignidade e interesse, justificando plenamente uma visita e um "puxar de cordões" à bolsa. Juntemos a isto uma ou outra acção de rua e...é tudo. Há quem tenha menos, é certo, mas nós somos a "Vila Presépio"! Temos créditos a defender.
O calendário anual é ponteado por "feiras" e "feirinhas", parecendo até que os senhores Vereadores andam à disputa para ver quem tem a feira mais bonita e, depois, será que não sobra nada para um Natal em grande? É que a nossa vila, afinal, está relacionada com a quadra e seria bom explorar turisticamente ( e não só ) essa vertente. Mas isto são contas de um outro rosário, e a elas voltaremos quando oportuno, agora o que nos interessa mesmo é o Presépio.
Dizem os historiadores que a tradição do Presépio remonta á Idade Média, quando era costume evocar o nascimento de Cristo encenando no interior dos templos, com personagens reais, esse acontecimento sagrado. Seria essa uma festa de alegria, com laivos pagãos, por onde repassava um espírito de folgança que "ficou impresso nas figuras, dadas aos mais profanos actos de todos os dias. As danças do povo, pelas naves dos templos nas vésperas de Natal, transmitiram a alegria festiva, menos religiosa, aos grupos de dançarinos, tocadores, dos presépios. As romarias com os peregrinos festivais, as promessas e transporte de oferendas, os pedintes à beira da estrada, os músicos, os vendedores de guloseimas, etc. tipos característicos que se mantiveram no presépio, fixaram as regras. Por isso os presépios têm um carácter misto de lado pagão e fundo de crença e prece cristãs" (1).
Ao que parece o bondoso S. Francisco de Assis não apreciava lá muito toda esta agitação no interior das igrejas e magicou uma solução: reeditou o quadro sagrado numa estrebaria utilizando, não personagens reais, mas bonecos de palha. Ao que parece, a idéia pegou e à medida que os franciscanos se espalhavam pelo mundo, com eles ia o Presépio.
Ora, tendo sido em Alenquer que essa ordem religiosa teve a sua primeira casa em Portugal , é bem provável que tenha sido também em Alenquer, no séc. XIII, que se montou o primeiro Presépio que Portugal conheceu.
Existe na Biblioteca Nacional um manuscrito ( identificado como Cod.14 - A.21-4, fls 39, por Luís Chaves ) que se refere ao primeiro Presépio que Lisboa teve, no primeiro quarto do séc. XVII:


No mosteiro das Religiosas do Salvador de Lisboa da ordem Dominicana teve princípio o primeiro Presépio que se fez nesta Corte e cidade de Lisboa e foi o caso que foi revelado a uma religiosa de virtude do mesmo mosteiro que era gosto que se fizesses e assim se fez e costumam fazer todos os anos em dia de Natal irem os párocos da cidade celebrarem ali a missa ao santo nascimento de Cristo em louvor e honra do mesmo Senhor com que ia muita gente o visitar e assistir e depois das oitvas ia a irmandade dos clérigos pobres cantar-lhe uma missa todos os anos ao mesmo mosteiro a festejar o sagrado nascimento de Deus e algumas vezes havia sermão e este costume durou até o ano de 1624 que ali iam a dita irmandade e daí para diante não foram fazer mais a tal missa e festa consta isto do livro da fundação do mosteiro que fez a Madre Maria Baptista Prioresa que foi Capítulo 11. e folhas 101 cujo livro esta no cartório do mesmo mosteiro.


Feliz Natal para todos, de preferência com muitas prendas para as crianças, mas contido no que respeita aos adultos e aos seus hábitos consumistas. Que as famílias se reunam em alegre confraternização e o que o bom senso seja largamente distríbuido pelos Pais de Natal do mundo inteiro nos sapatinhos dos governantes ( no do Presidente Bush não vale a pena, porque de certeza ele não se aproxima do sapato ).


(1) - CHAVES, Luís. "O primeiro «Presépio» de Lisboa conhecido - Séc. XVII", in O Archeologo Portugues.