22 agosto, 2010

A ANTIGA ERMIDA DE S. SEBASTIÃO EM ALENQUER

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Quem desce a actual Calçada Francisco Carmo depara-se, mais ou menos a meio, com este singelo edifício hoje propriedade de privados. Contudo, são poucos os que o identificam como sendo a antiga ermida de S. Sebastião.
Segundo D. Carlos de Azevedo que se tem dedicado ao estudo do culto deste santo no nosso País, ainda existem 1300 paróquias em que esse culto se encontra vivo, cerca de cem freguesias que o têm como orago e mais ou menos 300 capelas.
É bem possível que esta capela de Alenquer tenha sido uma das que o nosso rei D. Sebastião mandou estabelecer à entrada de cada vila, pois, segundo Guilherme Henriques, «do Cartório da Câmara» já «consta que nos quinze anos, 1690-1705 as esmolas recolhidas nesta ermida importaram em 23$070 réis», sendo esta uma das mais antigas referências conhecidas.
Ainda segundo este historiador, «a ermida era pequena e tinha um único altar com uma imagem do Mártir Santo. Era administrada pela Câmara Municipal e todos os anos no dia do orago o Senado vinha em procissão ouvir missa e sermão» Isto até que, em 1811, foi incendiada pelas tropas francesas que ocupavam a vila...
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Alenquer em 1941 - Fotografia de Eduardo Portugal - Colecção Graciano Troni - In Alenquer Desaparecida de Filipe Soares Rogeiro
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Dissemos atrás que a ermida fora mandada construir à entrada da vila, mas, veja-se pela fotografia acima, como a vila medieval cresceu ao encontro do rio e absorveu na sua malha urbana esta ermida.
Todavia, apesar da sua singeleza este edifício tem a sua história: Em meados do séc. XIX foi pertença de August Lafaurie - industrial francês que em Alenquer implantou uma importante fábrica de lanifícios - e de sua filha Carolina por herança. Nesse tempo foi armazém da fábrica ou adega.
Mais tarde foi por diversas vezes e em períodos diferentes sala de teatro e outros espectáculos e em 1891 sede da Banda da Sociedade União e Recreio Alenquerense. Em 1917, aí funcionou a Sopa dos Pobres que por iniciativa de Artur Ferreira da Silva "Ségeiro" e de outros alenquerenses entre os quais a benemérita Maria Milne Carmo, mitigaria a fome aos mais desprotegidos habitantes da vila atingidos pela chamada «crise das subsistências» induzida pela Primeira Grande Guerra.
Por último, foi armazém da Câmara e como tal ainda a conhecemos até ao «25 de Abril». Depois, como já o referimos, passou ao domínio privado, sendo hoje casa de habitação.