09 setembro, 2012

FALECEU O PADRE ZÉ


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PADRE JOSÉ EDUARDO FERREIRA MARTINS
UM ALENQUERENSE POR ADOPÇÃO
A QUEM A NOSSA VILA MUITO FICOU A DEVER
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Não foi uma notícia que nos tenha apanhado de surpresa porque há muito que sabíamos do seu grave estado de saúde. Mas, quando estimamos alguém, tentamos acreditar que o pior nunca virá a acontecer, daí que, quando ontem à noite cheguei a casa após um curto período de férias e abri o computador, tenha ficado tristemente surpreendido com a notícia que circulava: O Padre Zé havia falecido nessa manhã de sábado.
José Eduardo Ferreira Martins, nasceu no dia 22 de Agosto de 1934 no lugar de Pé de Cão, freguesia de Olaia, concelho de Torres Novas. Alcançou o sacerdócio após estudos nos seminários de Santarém, Almada e Olivais, rezando «Missa Nova» no dia 24 de Agosto de 1958.
A sua vida sacerdotal iniciou-se com uma curta permanência em Tomar, após o que, no dia 1 de Outubro de 1961, tomou posse das paróquias de Aldeia Galega da Merceana e Aldeia Gavinha. Seis anos esteve na primeira e catorze na segunda, vindo a assumir as paróquias de Alenquer no dia 5 de Outubro de 1975, para aí permanecer até à sua substituição por limite de idade.
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-Meados dos anos 60 - Partida de futebol entre antigos e actuais alunos do Externato Damião de Góis - Em pé, penúltimo da fila.
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Mas um contacto mais próximo com a vila de Alenquer aconteceria mais cedo, pois logo em 1963 o Padre Zé viria para o Externato Damião de Góis ensinar, primeiro Religião e Moral, depois esta disciplina, História e  Geografia. Com a retirada do Padre Joaquim Maurício, em 1968, assumiria o Padre Zé as funções de Director que exerceria até 1973.
Ainda como professor de Religião e Moral, leccionou na Escola do Ciclo Preparatório desde a sua criação e, mais tarde, também na Escola Secundária até 1995, quando então se reformou como professor.
Escrevemos em título que a vila de Alenquer muito deve ao Padre Zé. Na realidade assim é, pois quando se tornou pároco desta vila, o estado de conservação do património religioso edificado não era nada brilhante, uma vez que tudo ou quase tudo ameaçava ruína.
O seu gosto pela reconstrução e restauro havia-o já exercido em Aldeia Galega com pequenas intervenções e em Aldeia Gavinha com uma obra de restauro de grande vulto. Em Alenquer, foram objecto de grandes intervenções a Igreja e Convento de S. Francisco, o Oratório de Santa Catarina, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Triana (esta uma autêntica ruína e servindo de armazém), a Igreja do Espírito Santo e Arcada anexa, bem como o Palácio dos Lobos, na Rua Triana, Centro Paroquial. Era ainda sua grande ambição e preocupação o restauro do tecto da Igreja da Misericórdia, obra que infelizmente já não chegou a promover.
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A História Local foi desde sempre uma das suas grandes paixões, e, no que a tal respeita, deixou-nos um significativo legado, quer em colaboração com os seus amigos António de Oliveira e António Guapo  - "O Concelho de Alenquer" - 4 Volumes -, quer a título pessoal como é o caso do seu último livro "Alenquer 1758 - O Actual Concelho nas Memórias Paroquiais", por si transcritas e organizadas em precioso volume que a Arruda Editora deu à estampa para conforto de todos nós, amantes do passado alenquerense.
Pessoalmente sinto que perdi um amigo. Penso que eu e minha mulher fomos o primeiro casal de antigos alunos do velho Externato que ele uniu pelo sacramento do matrimónio, do mesmo modo que baptizou os nossos dois filhos, um acto de extrema generosidade, já que não somos assíduos da prática religiosa.
Nestas ocasiões costumamos desejar que quem partiu descanse em paz, mas sei que assim não vai acontecer, pois lá em cima, no lugar eterno que o acolheu, tudo vai andar em obras, ou de outro modo esse não seria o seu Paraíso. Até um dia Padre Zé, se Deus assim o quiser.
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A toda a sua família, em especial a seu irmão Álvaro meu amigo da música e de outras coisas, manifesto o meu mais sincero pesar.
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Para este escrito consultei a brochura editada pela "Presépio de Portugal" quando das Bodas de Ouro do seu sacerdócio.