14 fevereiro, 2015

AS PONTES QUE ALENQUER TEVE




3) - A PONTE DO ESPÍRITO SANTO

A ponte do Espírito Santo é a que liga hoje o largo com o mesmo nome ao Largo Palmira Bastos. A actual ponte é muito recente e sucedeu à que podemos ver no postal abaixo, construída nos anos 40, quando o rio mudou de local dando lugar às Av.ª 25 de Abril (que já foi Av.ª Duarte Pacheco) e à dos Bombeiros Voluntários (primeiro Av.ª Lafaurie e depois Av.ª Dr. Oliveira Salazar).
Olhando esse postal que nos mostra a Fábrica da Chemina intacta, o Parque Vaz Monteiro tal como ficou nos anos 60 quando a alameda de plátanos deu lugar a um jardim e as as avenidas libertas de veículos automóveis, facilmente nos apercebemos como a ponte "estrangulava" o rio contribuindo, desse modo, para a ocorrência de cheias. Daí que, quando das recentes obras de regularização do rio, a mesma tivesse sido demolida para dar lugar à actual.


Mas, antes das duas de que atrás vos falámos, uma outra existiu «muito bem feita e forte» no dizer do Padre Luís Cardoso no seu "Diccionario Geografico" de 1747, pelo que haveria de durar quase quatro séculos, já que foi dada por concluída no dia 28 de Abril de 1571.



Isso mesmo pode ler-se no padrão ainda hoje existente (decorando o jardim do Parque Vaz Monteiro) no qual está inscrito:
«Reinando el-rei D. Sebastião mandou ao concelho desta vila fazer esta ponte em 1571».
A esta inscrição segue-se uma outra que diz «Rainha e Carta // D. Maria». Sobre ela refere Guilherme J. C. Henriques que «No tempo das guerras da Liberdade  os alenquerenses protestaram o seu amor pela Constituição, desfigurando a antiga pedra com as palavras «Rainha e Carta» que mal cabiam no quadrado».



De facto, este bonito padrão que sob as armas reais ostenta as armas da vila, tem tido uma vida errática. Em 1893, no seu n.º 268, dele dava conta o jornal "O Alemquerense", nos seguintes termos:
«Ainda há uns anos se via num dos extremos da ponte, do lado do Largo do Espírito Santo, levantado um padrão onde estavam esculpidas as armas da vila e a data em que a ponte tinha sido feita. Uma câmara qualquer mandou arranjar a ponte e esse padrão foi abandonado; há tempos constou-nos que estava em uma adega de um proprietário desta vila, servindo de cachorro a tonéis».
Em 1902, no "A Vila de Alenquer", Guilherme J. C. Henriques, sobre este mesmo padrão, escreveu:
«Consta-me que quando a ponte foi reparada este padrão foi arrecadado na arcada do Espírito Santo d'onde foi retirado pelo sr. Moysés Carmo, e colocado no sítio que hoje ocupa».


E o lugar que ocupou foi à entrada da ponte, até à demolição da mesma, tal como se pode ver nos postais editados. Ainda no postal acima, ao fundo, abaixo da encosta, os edifícios da desaparecida Fábrica do Meio ou da Companhia, fundada nos últimos anos da primeira metade do século XIX pelo industrial francês Lafaurie.
Da fábrica já não tenho ideia, mas lembro-me bem do edifício à esquerda de quem atravessava a ponte, onde, no piso térreo, funcionava a loja de fazendas e retrosaria do "Santos da Ponte" (Casa Comercial de Serafim A. Santos), assim como dos barracões gémeos da estância do Correia que foram demolidos para a construção do edifício da Caixa Geral de Depósitos.