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Esta fotografia, tirada no dia 27 de Abril de 1930, dia em que os músicos da Sociedade Filarmónica União Camarnalense estrearam os seus fardamentos, mostra-nos a Banda posando para a fotografia na escadaria da capela local. Ao centro, o seu regente Luís Ferreira.
Não sabemos a data em que esta Sociedade nasceu ( assim como a do nascimento da sua Banda ), mas, atendendo a que foi esta a da estreia dos seus fardamentos, acreditamos que teria sido por aí, por 1930. Esta Banda teve, pois, curta existência, pois teria desaparecido cerca de seis anos depois.
Sabia da existência desta filarmónica por uma engraçada história que dela se conta. Quando de uma visita do Presidente Carmona a Alenquer algures nos anos trinta, este teve a recebê-lo à entrada da vila ( em Santa Catarina ou no troço inicial da Variante ) as forças vivas da terra, cabendo à Banda do Camarnal executar uma marcha de boas vindas.
Este facto encheu de orgulho os executantes da Banda e, um deles, quando lhe perguntavam como tinha decorrido a cerimónia costumava contar: - O meu trombone dizia «Como está senhor Presidente?» e o bombo insistia «Tá bum? Tá bum?». Então não é que a requinta do meu sobrinho até parecia dizer «Estou bem, muito obrigado!».
Claro está que isto contado com o acompanhamento sonoro a preceito arrancava saborosas gargalhadas aos ouvintes e passou a fazer parte do historial jocoso da vila. Daí o meu desejo em conhecer, por fotografia, já se vê, a quase mítica Banda do Camarnal. Graças ao meu amigo João Luís Correia, que localmente encetou uma busca, lá logrei alcançar esse desejo.
Pouco depois de Banda ter desaparecido, em 1937, por iniciativa de um músico alenquerense, o maestro Sena Pinheiro, surgiu no Camarnal uma nova formação musical: A «Jazz-Banda do Camarnal». Dela fizeram parte alguns músicos da Banda e os seus instrumentos.
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Esta também não duraria muitos anos, mas a tradição musical nesta progressiva povoação do concelho de Alenquer manteve-se ao longo dos tempos. Desapareceram as suas formações musicais, mas continuaram a nascer os músicos e, ainda hoje, são muitos e bons aqueles que vestem a farda da Sociedade União Musical Alenquerense e não só, pois já houve quem tivesse alcançado o profissionalismo.
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Inspirado no episódio que se relata sobre a Banda do Camarnal, quando da visita do Presidente Carmona a Alenquer, o "Grupo de Cantares da «Vida Activa» - Alenquer" prepara a introdução no seu repertório do seguinte número que terá a letra que se segue e música do cancioneiro alentejano conhecida como «Senhora Cegonha»:
SAUDAÇÃO AO SENHOR PRESIDENTE
Senhor presidente, como tem passado?
Não há quem o veja
No adro da igreja
A fumar o seu cigarro.
Como está senhor presidente,
Como está, como tem passado, .. ( Mulheres )
Tá bum, tá bum, tá bum ...............( Bombos e Homens)
Passo alegre e contente
Estou bem, muito obrigado.............( Homens ) .... Estribilho
Tá bum, tá bum, tá bum .................( Bombos e Todos )
Senhor presidente, veja lá o caminho
A escola está fechada,
A estrada esburacada,
Já se ouve um burburinho.
Estribilho
Senhor presidente, ponha olhos ponha,
Nesta freguesia tão linda
P’ra que seja bem-vinda
A sua carantonha.
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Este número pretende ser, ainda, uma homenagem a uma das figuras mais simpáticas do nosso ordenamento político, o Presidente da Junta, aquele que por estar mais perto das populações a tudo tem que dar resposta.