04 outubro, 2010

NO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

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O 5 de OUTUBRO de 1910 em ALENQUER
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A república foi, também, proclamada em Alenquer no dia 5 de Outubro de 1910. No seu n.º 1293 de 9 de Outubro de 1910, o jornal Damião de Goes que então se publicava nesta vila, relatou assim os acontecimentos:
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ESTÁ PROCLAMADA A REPÚBLICA!
As manifestações em Alenquer
«Quando na quinta-feira última houve conhecimento em Alenquer, de que tinha sido proclamada a República em Lisboa, foi grande o entusiasmo, organizando-se um numeroso cortejo levando as bandeiras republicanas.
Todas as fábricas fecharam e os seus operários incorporaram-se no cortejo que percorreu algumas ruas da vila, até aos Paços do Concelho, onde foi arvorada a bandeira republicana no meio de muitos vivas e palmas.
Foram depois lacradas as portas das diferentes repartições sendo os Paços do Concelho guardados por grupos de populares.
À noite organizou-se uma marcha aux flambeaux com a filarmónica da Merceana à frente tocando A Portuguesa. Percorreu várias ruas da vila, soltando entusiásticos vivas à República.
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Um outro episódio interessante então ocorrido, teve a ver com a presença em Alenquer, nesse mesmo dia, do Dr. Bernardino Machado:
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«DR. BERNARDINO MACHADO, JÁ TEMOS A REPÚBLICA! JÁ TEMOS A REPÚBLICA!»
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José Dionísio Leitão em fotografia de 1903

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Nesse dia 5 de Outubro, Artur Ferreira da Silva encontrava-se em V. F. Xira, quando recebeu a notícia da proclamação República. O que se seguiu veio relatado pelo próprio no Jornal d'Alenquer, de 5 de Outubro de 1913:
«...abalámos para Alenquer a toda a pressa para trazermos a feliz notícia aos nossos amigos e correligionários. Por sorte, à entrada d'esta vila encontrámos o Dr. Bernardino Machado que se dirigia a Lisboa. Aqui lhe comunicámos que estava resgatada a nossa querida Pátria pela implantação da República».
O relato desse encontro obtive-o eu de uma fonte presencial, minha avó Quitéria Leitão Lourenço que, então, ofereceu ao Dr. Bernardino Machado um ramo de flores: «Transida de medo meu filho, porque naquele tempo de revoluções, nunca se sabia o que poderia acontecer...».
Esse encontro ocorreu em Santa Catarina, junto à casa de meu bisavô José Dionísio Leitão que foi em Alenquer um dos maiores propagandistas da República (as palavras são de José Rodrigues Caseiro no Jornal de Alenquer). Republicano convicto e homem corajoso, dele disse o jornal O Alemquerense, n.º 252 de 30 de Dezembro de 1892, quando fez parte de uma lista republicana(1) que disputou a Câmara local a Francisco Pedro de Oliveira e Carmo: «(...) e o sr. José Dionísio Leitão, cidadão que bem compreende os seus deveres, e que sem lisonja, se pode dizer que representa o laborioso povo de Paredes(...)».
Voltando ao relato de minha avó:«Estavam lá muitos republicanos da vila e quando o carro parou e o Dr. Bernardino Machado abriu a portinhola para descer, o teu bisavô não se conteve e de chapéu na mão, grande como ele era, correu para ele abraçando-o aos gritos de Dr. Bernardino Machado, já temos a República, já temos a República!».
O largo onde isto aconteceu passou a chamar-se Largo Dr. Bernardino Machado, e, numa casa recentemente construída no mesmo local onde se situava a de meu bisavô, lá está uma placa de 1911 evocativa do acontecimento. Neste centenário, dia 5 de Outubro, pelas 15 horas, aí, nesse mesmo largo, será descerrado um memorial evocativo, cerimónia que contará com a presença de descendentes daquele que viria a ser, em duas ocasiões, Presidente da República. Lá estarei em memória de meu bisavô José Dionísio Leitão e de todos os republicanos alenquerenses que protagonizaram esse episódio.
(1) Fizeram também parte dessa lista: Vereadores Efectivos - José Rodrigues Vaz Monteiro, Domingos Joaquim de Mendonça e Silva, José de Menezes Correia de Sá, José António Batoréu Júnior e Theodoro Emílio Martin. Vereadores Substitutos - Salomão dos Santos Guerra, Ernesto da Cruz Calleya, José António Ferreira Leal e Luiz António da Silva Caiano.