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É de Guilherme João Carlos Henriques o texto que se transcreve e que relata os acontecimentos ocorridos faz agora dois séculos:
«No dia 12 (de Novembro de 1810) Montebrun marchou, com a vanguarda do exército francês, de Alenquer para Vila Franca de Xira; e o oitavo corpo seguiu de Alenquer para o Sobral. Em seguida o marechal Massena fixou o seu Quartel General em Alenquer. Em fins de Outubro aí esteve o Intendente Geral Lambert. Durante um mês a vila, abandonada quase de todo pelos habitantes, esteve à mercê dos invasores; mas talvez sofresse menos pelo facto de Massena ter aqui os seus doentes em tratamento enquanto não retirou para o norte, o que fez a 12 de Novembro.
No dia 15 daquele Mês a Divisão Ligeira do exército defensor chegou até Alenquer, espiando os movimentos do inimigo, e tendo verificado que estes tinham por destino Santarém, a vila foi ocupada pela Quinta Brigada sob o comando do brigadeiro inglês Campbell. Em 18 de Novembro de 1810 achavam-se em Alenquer os Regimentos nacionais n.º11 e 23, com duas brigadas de artilharia.
Começaram, então, os desgraçados alenquerenses a voltar para as suas casas, que na maior parte encontraram saqueadas e arruinadas. Tinham abrigo, mas de comestíveis havia a mais absoluta falta. Na vila fazia-se, diariamente, a expensas da oficialidade inglesa e nacional, um caldeirão de caridade a que acudiam trezentas pessoas por dia, e no qual se cozinhavam as cabeças, pés e miudezas das rezes que se matavam para sustento dos soldados. Assim duraram as coisas até 5 de Março de 1811, quando Massena, não recebendo os reforços que pedira, começou a evacuar o país.