02 janeiro, 2011

CASAS DE ALENQUER

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A AULA CONDE DE FERREIRA
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Quando faleceu, em 1866, Joaquim Ferreira dos Santos, Conde de Ferreira, comerciante de grosso trato com fortuna feita no Brasil e em Angola, deixou um legado destinado a viabilizar a construção de 120 escolas em terras que fossem cabeça de concelho.
-lo «convencido de que a instrução pública é um elemento essencial para o bem da Sociedade» pelo que «quero que os meus testamenteiros mandem construir e mobilar cento e vinte casas para escolas primárias de ambos os sexos nas terras que forem cabeças de concelho sendo todas por uma mesma planta e com acomodação para vivenda do professor, não excedendo o custo de cada casa e mobília a quantia de 1.200 réis ...»
Para operacionalizar este legado, o Governo regulamentou a forma de atribuição aos municípios das correspondentes dotações, o que foi feito pelo Decreto com força de lei de 21 de Julho de 1866, assinado por João Baptista da Silva Ferrão de Carvalho Mártens, então Ministro responsável pelos Negócios do Reino.
A este Decreto respondeu a edilidade alenquerense com toda a celeridade. Assim, em 1871, já a escola de Alenquer se encontrava em construção, no Bairro da Judiaria, no local onde se havia situado a Igreja de Santo Estêvão - pela tradição mandada erigir por D. Afonso Henriques por cima da antiga mesquita - que, já ruína, fora demolida.
No dia 21 de Novembro de 1872 foi a Escola inaugurada: «Houve regozijo geral na vila por este motivo, iluminação, etc. Entre os oradores que falaram no acto da inauguração vemos citados os senhores Luiz Soares de Nápoles, juíz de direito, presidente da Câmara Dr. Pimentel, José Pereira de Moura [o seu primeiro professor ], etc. À noite tocou junto ao edifício uma Philarmónica conhecida ainda hoje pela Música Velha - In O Alemquerense de 1 de Dezembro de 1893.
Na 'História de Portugal' dirigida pelo Prof. José Mattoso diz-se que esta escola de Alenquer foi a primeira de quantas foram construídas um pouco por todo País, graças ao legado do Conde de Ferreira. Esta casa foi escola até aos ano 70 do século passado, deixando de o ser quando por essa altura foi construída a nova escola da Chemina. Depois e até ao 25 de Abril, foi sede da Acção Nacional Popular, partido único que sucedeu à União Nacional salazarista. Com a Revolução de Abril, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal, presidida pelo Dr. Vasques Ferreira e que tinha na Cultura o professor António Oliveira, decidiu aí instalar o Museu Hipólito Cabaço que ainda lá se encontra, embora seja notória a falta de condições que o vetusto edifício oferece.
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Alçado principal, conforme projecto comum a todos os edifícios

Desenho tridimensional de acordo com o projecto original
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A Assembleia Municipal de Sesimbra, instalada na antiga Escola Conde de Ferreira daquela vila, lançou um projecto relativo a estas escolas que passou, também por um levantamento a nível nacional da situação actual destes imóveis.
Consultado esse levantamento, verifica-se que, ao longo dos anos, muitos foram demolidos, outros continuam sendo escolas, outros ainda, conheceram nova vida sendo hoje sede de colectividades, museus, bibliotecas públicas, etc.
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Alunos da Escola Conde de Ferreira de Alenquer quando nos anos 30 do século passado visitaram as instalações do jornal «O Século» em Lisboa.

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Joaquim Ferreira dos Santos, Conde de Ferreira
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Joaquim Ferreira dos Santos nasceu no dia 4 de Outubro de 1782 em Vila Meã, Campanhã, Porto, e faleceu no dia 24 de Março de 1866, no Bonfim (Porto). Foi o quinto e último filho de João Ferreira dos Santos e de Ana Martins da Luz, lavradores pouco abastados de Vila Meã, actual lugar de Azevedo.
Tal como o seu irmão segundo, ainda frequentou o seminário onde estudou latim, lógica e retórica, mas viria a abandonar esse projecto de uma vida eclesiástica por falta de vocação. Foi então, aos 14 anos, que se empregou como caixeiro no Porto, adquirindo aí conhecimentos que lhe vieram a ser úteis quando em 1800 emigrou para o Brasil.
No Rio de Janeiro, apoiado por um familiar, singrou na vida comercial «dedicando-se ao comércio por consignação de produtos enviados do Porto». Em breve estabeleceria relações comerciais com a praça de Buenos Aires, após o que se virou para África, aonde se deslocou várias vezes e onde instalou feitorias e, também, um negócio negreiro, estimando-se que teria mandado de Angola para o Brasil cerca de 10.000 escravos.
Com a revolução liberal em marcha em Portugal, em 1828 contribuiu com avultadas somas em dinheiro para a causa constitucionalista de D. Maria II de que era partidário.
Regressado a Portugal e estabelecido no Porto como grande capitalista e proprietário foi agraciado pela rainha como Barão (1842), visconde (1843) e Conde (1850). Ingressou na política activa durante o cabralismo, sendo feito Par do Reino por carta régia de 3 de maio de 1842. Foi também fidalgo cavaleiro da Casa Real, membro do Conselho da Rainha D. Maria II, comendador da Ordem de Cristo e recebeu a grã-cruz da Ordem de Isabel a Católica de Espanha.
Quando faleceu em 1866, na falta de descendência legítima, a sua grande fortuna viria a beneficiar parentes, amigos, colaboradores e inúmeras instituições como a Santa Casa da Misericórdia do Porto, Ordens Terceiras do Terço, do Carmo e de S. Francisco e ainda outras no Brasil. Para além do seu legado para a construção de 120 escolas e com o remanescente da sua herança, foi ainda fundado no Porto o Hospital Conde de Ferreira, para doentes de foro psiquiátrico.





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