19 setembro, 2011

RUA SEM CARROS...

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FLORESTA SEM ÁRVORES?
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Alenquer entendeu discutir o seu presente e futuro como urbe e fez bem. Pelo que já li, de uma primeira reunião pública e alargada resultaram algumas conclusões, entre elas, fatalmente, a de «fechar ao trânsito automóvel a Rua Triana», uma rua que já foi a principal rua comercial da vila, mas que chegou a um estado lamentável de abandono (físico e comercial).
Atrás disse, «fatalmente», porque essa ideia discute-se há anos, emergindo do imaginário colectivo sempre que alguém, pessoa ou instituição, dá conta que a vila está parada e é preciso fazer alguma coisa para que, como se disse um dia, tudo continue na mesma.
Por coincidência, li por estes dias num jornal regional que os comerciantes de Vila Franca de Xira estavam fulos porque a sua Câmara não tinha retirado das ruas, onde tradicionalmente correm os touros, os pilares que suportam as tranqueiras ali colocados pelo Colete Encarnado e que por lá continuam à espera de servirem as largadas da Feira de Outubro. Entendiam eles que isso prejudicava a apreciação das montras por parte de quem circula de carro, reflectindo-se já pela negativa no negócio esse esquecimento (crise ao que obrigas...) camarário.
Também por coincidência, li há pouco tempo num artigo dedicado ao urbanismo que «no cars, no business», pois «uma rua sem carros é como uma floresta sem árvores ou uma cidade sem casas», uma incongruência. Portanto, em que ficamos?
 Mas, será que esta pergunta tem realmente resposta? Também aqui perto, em Cacilhas, os comerciantes da principal rua comercial da terra estão em pé-de-guerra com a Câmara de Almada que, a contragosto, lhes quer tirar os carros da porta. Certamente que por lá e por muitos outros lados haverá quem igualmente se interrogue sobre a bondade de tal medida...
Entretanto talvez venha a propósito lembrar que, recuando uns (bons) anos, a experiência de pedonizar uma rua em Alenquer foi feita, pelo que a Rua de Triana, durante aproximadamente um mês, viveu uma época natalícia livre de carros. Contou-me um autarca de então, com responsabilidades na matéria, que foi o seu pior Natal de sempre, pois foram vários os comerciantes dessa rua que lhe bateram à porta, lavados em lágrimas, declarando-lhe que a Câmara lhes havia arruinado as vidas... Talvez por isso e porque a ideia nunca reuniu consenso no seio da classe, a experiência não voltaria a repetir-se. Ainda segundo esse autarca, foi pena que se tivesse escolhido a época natalícia para levar por diante essa experiência, por ser ela demasiado importante para o comércio.
Antes de continuar e concluir, quero felicitar todos os conterrâneos pela discussão havida e, particularmente, pela sua determinação em extrair dela consequências, acreditando sinceramente nas suas boas intenções. Mas será que fechar a Rua Triana ao trânsito será uma boa solução para os seus problemas? Dir-me-ão que em muitos locais, vilas e cidades, resultou positivamente pedonizar as ruas (quem não gosta?), ao que responderei que o sucesso esteve e estará mais ao alcance de zonas comerciais pujantes e desenvolvidas. Pelo contrário, tal medida, numa zona comercial deprimida e decadente como é a actual Rua de Triana, poderá vir a ser uma certidão de óbito.
Todavia, será sempre possível encontrar uma terceira via: o alargamento dos passeios até ao limite do possível, como forma de a tornar mais atraente aos passeantes e mais acessível aos que têm maiores dificuldades de locomoção. Quanto ao resto, é trazer os moradores de volta à vila e modernizar o comércio local, diversificando e ocupando nichos competitivos em relação às grandes superfícies e à vizinhança que o supera.