08 maio, 2013

A FEIRA ESTÁ DE VOLTA...

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XXXI FEIRA DA ASCENSÃO
8 a 13 de Maio de 2013
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A referência mais antiga que se conhece quanto a feiras em Alenquer, talvez seja a que está contida num testamento de Rui Dias de Goes (pai de Damião de Goes), redigido em 1513, em que este «referindo-se a seu filho mais velho, Francisco de Macedo, declara que dera à sogra deste duzentos cruzados para comprar lençóis na feira de S. João». Como bem o refere o Dr. Filipe Rogeiro em artigo publicado na revista da ""XXV Feira", está bem documentada «a existência de uma Feira de S. João em Alenquer, pelo menos nos séculos XVI e XVII, sendo certamente a esta, à da sua terra, que se referia o pai do cronista. ela está documentada nas chacelarias reais, através das cartas de nomeação dos "requeredores das sisas" da mesma feira, designação que mais não quererá dizer que seriam os responsáveis pela cobrança das taxas ou licenças dos feirantes".
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- Praça Miguel Bombarda (nos tempos da República), antigo e actual Largo do Espírito Santo, visto do Parque Vaz Monteiro. Desde séculos, era neste «Rossio do Espírito Santo» que se faziam as feiras. No centro do largo, admire-se o antigo e monumental chafariz. -  (Postal da minha colecção).
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Entretanto, já no séc. XVIII, o calendário da feira sofreu alteração, pois consultadas as "Respostas" de 1758, é o Prior de Santo Estêvão quem escreve que «Feira nesta villa so a há em dia de S. Miguel [Setembro] e de muy pouca importancia: paga terrado á Caza do Espírito Santo». Na mesma ocasião, também o Prior de Santiago escreveu: «Tem esta villa feira no dia de S. Miguel (...)». Para encontrarmos novas referências, teremos de consultar a imprensa local que por cá proliferou a partir do último quartel de oitocentos. Feito isso, verificamos que a «importância» da Feira não aumentou (antes pelo contrário) pois são muitas as referências jocosas que lhe são feitas: «o que esteve exposto na feira foi o mesmo que dos mais annos - esteiras de tábua e gamellas» (O Alemquerense - 1891) ou «realisa-se hoje nésta villa a tradiccional feira de S. Miguel, digna de mensão pela sua insignificância.».
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- Parque Vaz Monteiro quando da Exposição Feira de 1941 - Veja-se o antigo coreto mandado demolir nos anos sessenta (quando, então, também foram abatidos os plátanos) numa requalificação do Parque. (Foto E. Portugal).
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Em 1896, numa reacção a este estado de decadência da Feira,  um vasto grupo de comerciantes alenquerenses mobilizou-se para dotar o centro da vila com um espaço adequado que viesse dignificar o certame. Esse movimento conduziu à expropriação da Horta do Canto que viria a tornar-se no ainda hoje assim chamado, Parque Vaz Monteiro. A ideia parece ter surtido efeito, pois por longos anos a Feira «arrebitou», colhendo, por isso, menções elogiosas nos semanários locais. Em 1941 a feira de S. Miguel muda de nome mas não de data, passando a denominar-se "Feira de Alenquer". A sua primeira edição, dinamizada por um Grupo de Amigos de Alenquer, assumiu a designação especial de "1.ª Exposição-Feira de Alenquer". Este certame que envolveu várias vertentes, alcançou um êxito notável tendo, por isso, perdurado na memória dos alenquerenses, mas, de ano para ano, veio a perder importância, pelo que nos anos 60 era já conhecida e gozada como a "Feira do Pau Caiado" em homenagem às varolas de eucalipto caiadas e engalanadas com galhardetes coloridos, elemento preponderante da Feira, reduzida que estava esta a um "carrossel" e uma "pista de automóveis"... Extinguiu-se, de morte natural, aí pelo ano de 1962.
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- Edifício da antiga fábrica de lanifícios da Romeira (1875), hoje propriedade do Município e que sempre funcionou como pavilhão de apoio à "Feira da Ascensão" (motivo que levou à sua aquisição). - (Foto do autor).
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Acontecido o "25 de Abril", o novo Poder Local democraticamente eleito, constituiu, em 1981, no âmbito da Assembleia Municipal, uma comissão para realizar anualmente um certame com as características de "Feira-Exposição" destinado a ser, principalmente, uma "montra" das actividades económicas do nosso concelho, a que se juntariam alguns elementos lúdicos, culturais e de animação. Quando essa comissão reuniu pela primeira vez, sentaram-se à mesa: José Medeiros (vereador do pelouro), Carlos Cordeiro (Presidente da AM), Adriano Graça (Deputado Municipal pela APU), Francisco Cipriano (Deputado Municipal pelo PPD/PSD), Américo Marçal (P. da Junta de Santo Estêvão) e J. Lourenço ( Eu, P. da Junta de Triana). É possível que, por traição da memória, algum nome me esteja a escapar, pelo que se tal acontecer desde já aqui fica o meu pedido de desculpas. A primeira dificuldade que se ofereceu foi a escolha de um local onde realizar o certame. Ainda se pensou no "Parque das Tílias", mas, após se concluir que era pequeno demais para o que se pretendia, decidiu-se fazê-lo no espaço devoluto onde hoje se situa o Tribunal (antigo campo de futebol do Sporting local), prolongando-se a feira pela Rua Sacadura Cabral, ocupando, como em anos posteriores, algumas lojas devolutas.

- Sobrescrito comemorativo da "Mostra Filatélica" realizada pela "Feira da Ascensão" de 1983, que mereceu posto de correio e "carimbo comemorativo". (Da minha colecção "Marcas Filatélicas de Alenquer").
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Por último, após umas quantas edições, a Feira transferiu-se para os terrenos da Horta d'El Rei, passando a utilizar o "Forum Romeira" para espectáculos e exposições. Ultimamente, conheceu duas edições no centro da vila, desculpem-me, disparate consumado, certamente na melhor das intenções, pois nada adiantou (antes pelo contrário) à Feira, aos visitantes, aos expositores e ao comércio local, excepção feita a meia dúzia, se tanto, de estabelecimentos do sector da restauração situados dentro do recinto da mesma, porque outros estabelecimentos, a 50 metros, viriam a desistir de abrir portas porque nada lhes chegava... Mais uma vez, tivemos Alenquer em contra-mão, porque os concelhos que não têm um recinto, procuram tê-lo e outros que já o têm, investem no equipamento do mesmo, investindo, assim, na segurança, no conforto, nas condições para a assistência aos espectáculos, na funcionalidade, na economia e na comodidade que resulta para os expositores e participantes, do facto de haver instalações permanentes e minimamente adequadas.
O calendário "feiral" alenquerense merece, num futuro próximo, uma ampla e descomprometida discussão por parte das forças políticas que vierem a ficar representadas na autarquia. Até lá, desejo a todos, uma boa "Feira da Ascensão" 2013!
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Nota: Uma última referência para o artigo "A Feira Anual de Alenquer ao longo dos Séculos" do Dr. Filipe Rogeiro, publicado na Revista da "XXV da Feira da Ascensão". Aí encontrarão os interessados um apaixonante relato histórico das nossa feiras. Será já difícil de encontrar, mas merece a pena ir no seu rasto e lê-lo.