27 novembro, 2014

AS PONTES QUE ALENQUER TEVE...

DAS "ÁGUAS" A "SANTA CATARINA"

Quatro pontes tem a vila de Alenquer que encontramos mencionadas nos documentos mais antigos. Seguindo o curso do rio, de montante para jusante, são elas: a da "Couraça" ou das "Águas", a do "Arraial", do "Areal" ou do "Alão", a do "Espírito Santo" e a de "Santa Catarina". 
Uma outra é ainda mencionada, a do "Barnabé" ou de Pancas, mas como essa se situa já fora da vila, dela não falaremos por agora.

(1) A PONTE DA "COURAÇA" OU DAS "ÁGUAS"
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A "Ponte da Couraça" assim chamada por se situar perto da "Torre da Couraça" ou das "Águas" por se situar, igualmente, no "Sítio das Águas" caracterizado por ser lugar de muitas nascentes de água que espontaneamente irrompem do subsolo ou mesmo no fundo do rio, era (e é) porta de entrada para o Bairro do Areal, freguesia de Santa Maria da Várzea. Perto de si, como se pode ver no postal reproduzido, situa-se a "Torre da Couraça", peça do nosso património na qual estudos antigos (e pouco aprofundados) identificaram dois níveis de construção: um inferior e mais antigo que remonta à presença dos mouros na vila e um segundo, mais recente, levado a cabo no reinado de D. Fernando quando se procurou dotar a vila e o seu castelo com um perímetro defensivo mais eficiente e inexpugnável, como o comprovaria o Mestre de Avis nos cercos que lhe pôs.
A construção que vê no cimo da Torre, hoje já não existe, e pertenceu à Real Fábrica de Papel. No período em que os Paços dos Concelho estiveram em construção aí funcionou a Câmara e demais serviços público. Mais tarde, já na primeira metade do século XX, nela funcionou o consultório médico do Dr. Moura Gomes.
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Por ela se acedia, também, à parte alta da vila, passando pela Porta do Carvalho ou Porta da Conceição, uma das duas portas principais da vila amuralhada. Por outro lado, em finais do século XIX,  já havia acesso ao Alto da Boavista pela hoje conhecida Estrada do Pedregal. Curiosamente, o estado do tabuleiro da ponte quando esta fotografia foi tomada, evidencia ter a água do rio passado por cima dela (depositando lixo), facto muito comum, já que, olhando o postal abaixo, os arcos em que assentava dificultavam o fluir das águas.
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A fotografia que serviu para este postal oferece uma boa perspectiva do Ponte. Foi a mesma tirada mostrando o açude da Real Fábrica de Papel (que passou a fábrica de lanifícios em 1890) a transbordar. A minha geração (e outras anteriores) chamavam a este local o "Olho de Água" e aqui aprendemos a nadar, para desespero e cuidado dos nossos pais. Do açude ao fundo, tal como ele se apresenta e dependendo do grau de assoreamento do rio, mediavam 3/4 metros, coisa pouca para a brincadeira de tocar nos olhos de água que rebentavam lá em baixo levantando areia e atraindo peixes. Já a ponte, era local para mergulhos, de "pés para a frente" ou de "cabeça para a água" os mais afoitos. Do açude até à ponte abria-se uma extensa "piscina" que todos faziam em decididas braçadas. Os mais novos, quando por lá apareciam, depressa perdiam o medo, pois eram atirados à água... sob o olhar vigilante dos bons nadadores.
Sobre esta ponte escreveu Guilherme João Carlos Henriques:
«Também conhecida por Ponte da Fábrica de Papel, é aquela que atravessa o rio ao pé da torre da couraça. Parece que deve ser considerada a mais antiga da vila, porque a escritura de doação da azenha da Azinhaga declara que a ponte próxima (a de Santa Catarina), chamava-se, em 1219, a ponte nova o que indica que havia outra ou outras mais antigas (...) é provável até que seja coeva com a torre, porque é de presumir que,, tendo os mouros tamanha fartura de pedra na encosta em frente, fariam a ponte para facilitar a condução».

                                                                                                                      (Continua)