24 abril, 2009

EM ABRIL, ESPERANÇAS MIL!


E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
( Ary dos Santos - "As portas que Abril Abriu" )
Passaram-se trinta e cinco anos...tanto tempo! E no entanto parece que foi ontem... Ia eu meio a dormir, meio acordado no autocarro para Vila Franca, quando me pareceu que alguma coisa de invulgar se passava...Que diabo, não é costume, o rádio vai a tocar e ainda por cima tão alto! Mas espera lá, este que está a cantar é o Fanhais, e esta canção estava proibida!? Foi então que se fez ouvir a voz grave do locutor: «Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas...». Olhei em volta e as pessoas não iam de cabeça baixa e metidas consigo como era costume, antes pelo contrário, todas olhavam em volta trocando olhares cúmplices e exibiam o sorriso mais bonito que alguma vez haviam expressado... Acontecera Abril!
Um companheiro de Abril, o Américo Mosca, disse-me uma vez quando comentávamos que isto estava a andar para trás: «Deixa lá companheiro, eles podem levar tudo, mesmo tudo, mas há uma coisa que com toda a certeza nunca me roubarão e essa coisa é este privilégio imenso de ter vivido um dia tão bonito como o 25 de Abril e uma Revolução que tantos dias de Esperança me deu».
Lembrei-me hoje dele quando estive na Biblioteca da Escola EB de Alenquer para falar do 25 de Abril a duas turmas do 9.º ano, convite que surgiu porque sou deputado municipal com livro publicado. Aceitei, agradeci e acho que já tive o meu 25 de Abril de 2009, pois esse contacto com aqueles jovens e com os seus professores fez-me bem. Caramba! Quem diz mal da Juventude é porque nunca foi jovem!
Mas retomando o fio. Lembrei-me do Américo e às tantas disse que todas as gerações deviam ter o privilégio imenso de viverem um dia tão glorioso como aquele que me foi dado viver, porque sentiriam para sempre, para o resto das suas vidas que num determinado momento a História havia estado consigo, era algo vivido e não contado num manual escolar.
Abril cumpriu-se? De certo modo sim! Todavia ainda há coisas que me preocupam e uma delas é a justiça social. Vejam esta notícia: «Uma advogada, filha da jornalista da RTP "fulana tal", sobrinha de um deputado "excelência tal" e mulher do presidente da empresa pública "tacho tal"...( os "tais" são meus, deixemos lá os nomes...). Há famílias inteiras "repimpadas" e sem dificuldades de emprego, ou seja, o mérito não existe, basta o nascer-se feliz e na família certa.
Depois, porque raio o fosso entre os mais ricos e os mais pobres continua a aumentar? Porque raio a crise não chega aos ordenados milionários dos gestores, ordenados esses já de si escandalosamente altos quando comparados com os dos seus congéneres europeus? Porque raio os Impostos continuam a ser só para alguns? Porque raio não são chamados aos diversos escalões da governação ( das autarquias ao governo ) os mais competentes? Porque raio continuamos a ter um País interior pobre e desprezado e um País litoral rico e chamariz de atenções?
E por aqui podíamos continuar... Porque afinal ainda sobram muitas interrogações...
Mas por hoje deixo-vos com um poema meu, dedicado a quantos continuam a sonhar Abril:
PROMESSAS DE ABRIL, ESSA ÍNDIA POR ALCANÇAR
A viagem é difícil, é certo...
Mas ( mais uma vez! ),
Quem esperava facilidades?
Só não tolero
os ratos exibindo-se no porão,
afiando as garras no cavername,
mijando na água
e roendo o grão da dispensa comum.
Mas são ratos.
Jamais aprenderão a sonhar
e os seus membros desajeitados
nunca erguerão sobre as águas
o poema da glória e do futuro.
Avançaremos!
Por cada nau afundada,
outra emergirá no Tejo
saída desse pinhal imenso
que é o país de Abril que não desiste.
Aqui todos sabem que os Adamastores
fizeram-se para serem vencidos!
Continuaremos!
Para mais há estrelas no céu
balizando a rota,
e o farol da Liberdade não empalideceu
nem esmerece.
Deixai a sereia cantar...
Do convés ninguém arreda!
Venceremos!