Trata-se de uma fotografia curiosa, esta que já publiquei no meu livro Memórias da Arcada. O seu estado de conservação não é dos melhores, mas nela reconhece-se a antiga sala da Arcada, quando ela era simultaneamente pequeno teatro - lá está, ao fundo, o palco - e sede da Sociedade Filarmónica d'Alemquer, dita a Formiga Branca.
Ela mostra-nos, ainda, uma mesa (bem) posta para uma refeição, que uma legenda impressa em rodapé esclarece ter sido um «...banquete oferecido no Teatro da Arcada por um grupo de republicanos de Alenquer aos oradores de um comício em 21 de Agosto de 1910». O momento histórico aproximava-se.
Mas esta fotografia tem no seu verso uma outra legenda manuscrita, da autoria de João Avellar, que nos chama a atenção para um outro pormenor quase imperceptível:
«...Na cadeira de espaldar (ao fundo) vê-se o barrete frígio (um dos símbolos da República) que Izidoro Guerra ostentava no quadro final de apoteose à República, na revista À procura do Ideal que foi representada nesta vila, no Teatro da Arcada, com geral agrado.».
Aqui fica, pois, este pequenino subsídio para a História do Teatro em Alenquer, uma obra que se torna urgente produzir, uma vez que essa arte teve fortes tradições na nossa vila e concelho, em especial o teatro de revista.
Foram inúmeras as casas onde em Alenquer se fez teatro, por aqui nasceram artistas de renome nacional como Ana Pereira, Adélia Soller e Palmira Bastos, o teatro de rua com as suas Cegadas e Enterros e Julgamentos do Bacalhau também esteve, desde sempre, fortemente enraízado nas tradições das nossas gentes e foram inúmeros os grupos amadores que fizeram subir à cena as mais variadas peças e revistas.
Esta é, sem margem para dúvidas, uma outra história local que merece ser preservada em forma de livro. Enquanto isso não acontece, por aqui vão ficando ligeiros apontantamentos...