06 janeiro, 2010

Nós por cá, todos bem...

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VOCACIONADOS PARA QUÊ?

Foi já nos anos 60. Nessa tarde o Alenquer e Benfica recebia no seu campo das Paredes uma equipa lisboeta que trouxera consigo, em excursão, meio bairro. Meio bairro, daqueles castiços, farto pic-nic e máquina fotográfica de 5 litros a tiracolo. Não sei onde se aviaram, mas quando se apresentaram à porta do campo, já vinham bem compostos...

Faziam policiamento dois guardas da GNR, um a cada porta. Na porta principal estava o soldado "C" que gozava de poucas simpatias e era tido como (esqueçamos os adjectivos...). Na porta secundária, estava o soldado "R", bom homem, pacato, a quem ninguém apontava um dedo sequer.

E tudo se passou na porta principal onde estava "C" que, não sei porquê, se viu a contas com a agressividade da claque visitante. Houve alguém que, condoído com a situação, foi a correr à porta secundária onde estava "R" e lhe disse: "Eh pá! Vá depressa acudir à outra porta que os gajos estão a dar conta do seu colega!".

Com toda a calma "R" respondeu: "Uhm! Na minha porta não se passa nada, está tudo normal...". E continuou fumando o seu cigarro na maior das calmas, sem mexer uma palha...

Perante o episódio de ontem ocorrido à porta do Instituto Português de Qualidade, em Santo Amaro de Oeiras, com a manifestação da gente dos divertimentos de feira, lembrei-me desta história. Pela televisão ouvi o representante dos manifestantes insurgir-se contra as forças da ordem que, com a sua brutalidade, haviam feito feridos. Logo imaginei desprotegidas senhoras, velhinhos e crianças atropeladas a cassetete... Afinal, não, os feridos foram três agentes da GNR, um com a cabeça partida à pedrada, outro com um nariz em igual estado e outro com escoriações. Quase apetece dizer: Bem feito, para não andarem por aí a brincarem aos polícias.

Mas não digo. Primeiro, porque tenho imenso respeito pelas forças da ordem e pela missão que lhes está cometida, uma das mais difíceis que existem. Segundo porque acho que a lei não protege suficientemente a actuação destas forças, mas isto daria «pano para muitas mangas». Por isso talvez seja melhor eles fazerem como o soldado "R" e, sempre que possam, dizerem como ele disse, que na sua porta está tudo normal.

Todavia sempre continuo a pensar como uma vez o expressei, com todo o respeito, a um senhor capitão da Guarda: Não vejo que a GNR esteja vocacionada para o policiamento, especialmente o de proximidade. E depois, estruturalmente, porque não se resolve isto das muitas polícias, PSP, GNR, Estrangeiros, Marítima, Judiciária, etc.?

Porque não se reduz a GNR a Regimento Militar vocacionado para missões protocolares, de guarda a Belém e a S. Bento, guardas de honra, intervenção interna, etc. Porque não se cria uma Polícia única, nacional, com secções fiscal, de natureza, de fronteiras ( marítima e terrestre ), de trânsito, guarda costeira, investigação criminal e mais que necessário, deixando o policiamento de proximidade às polícias locais, a serem criadas em cada município?

Subsiste ainda um problema: é nítido que as forças da ordem estão a perder autoridade, que hoje uma farda já não incute respeito. A culpa poderá ser do que já acima dissemos. Só? Quando vi polícias fardados, manifestando-se à porta do Primeiro-Ministro, evidenciando comportamentos ( de linguagem também ) ao nível de qualquer manifestação de "putos" da escola, mandando ao ar peças da sua farda, meus amigos...

Entretanto, nós por cá, todos bem... Só espero, também, que nada se passe à minha porta...