13 julho, 2009

D. THOMAZ DE NORONHA - UM POETA ALENQUERENSE


Da sua biografia consta que nasceu em Alenquer, «em data incerta, e terá falecido em 1651. Era filho de um fidalgo escudeiro de D. Sebastião. Casou com uma prima e, tendo enviuvado, casou pela segunda vez. Jacinto Cordeiro, no seu Elogio dos Poetas Lusitanos (1631), coloca-o entre os mais célebres poetas do seu tempo. Devido ao carácter satírico das suas composições poéticas, era conhecido como o «Marcial de Alenquer». Foi um dos primeiros poetas barrocos a sentir o ridículo do artificialismo e a reagir contra ele».
Num dicionário de Literatura colhemos mais esta informação: «Fidalgo de boa estirpe, levou uma vida algo aventurosa e veio a dissipar bens e fazenda, acabando na miséria. Cantou muitas vezes a pobreza em que vivia, e não se envergonhava de pedinchar, em papéis diversos, sustento e outras esmolas.
A sua obra poética é a dum caricaturista desbocado que não receia as desvergonhas e obscenidades. Às vezes, num retrato sóbrio, manifesta-nos, aqui ou além, os caracteres da sociedade do seu tempo. Uma ironia quase subtil insinua-se nos seus poemas, muito ricos de alusões ao mundo concreto e circunstancial que o rodeava.».
O poema que se segue é seu e foi retirado «...de um cancioneiro do século XVII». Na adaptação ao português de hoje os erros são meus e farão o favor de os perdoar:
...
A um Fernando do Pó, moleiro de Alenquer, que andando de amores com a filha de um barqueiro pescador, o achou uma noite em sua casa, e lhe deu muita pancada com um remo.
..
DÉCIMAS
Se acaso o que tenho ouvido
por esta terra assim é
senhor Pó, vossa mercê
cuido que o tem sacudido;
pelo que, tenho entendido
que, de hoje em diante, já
vossa mercê não será
Fernando do Pó, mas só
Fernando que não tem Pó
pois tão sacudido está.
...
Colhe-vos o velho mau
(ó velhice desumana!)
que, de pescador de cana,
se fez pescador de pão;
com um remo por varapau
vos colheu, e em tal extremo
que, errando com a porta, temo
saísseis pela janela;
vós entrastes à vela
porém saístes ao remo.
...
Quando em vossa casa agora
mói todo este lugar
ides vós na alheia buscar
quem vos moa lá por fora!
Ó quanto melhor vos fora
e fora melhor partido
não terdes, senhor, sabido
como agora tendes já
a diferença que há
de moer a ser moído!