17 maio, 2010

FEIRA DA ASCENSÃO - QUE FUTURO?

.
.
Acabou de fechar portas a «Feira de Ascensão-2010», a qual, por se ter realizado intra-vila, me trouxe de volta algumas recordações e... lucubrações.
Isto porque no já distante ano de 1982, quando era presidente da Junta de Freguesia de Triana, fiz parte da Comissão da primeira Feira, onde igualmente encontrei o Américo Marçal ( Junta de Freguesia de Santo Estêvão ), o Carlos Cordeiro, o sempre dinâmico Adriano Graça, o Francisco Cipriano e não sei se mais alguém, pois outros nomes não recordo de momento.
Quando da primeira reunião duas questões de imediato se levantaram: Como se iria chamar a Feira e onde se realizaria. A primeira foi facilmente resolvida quando o Carlos Cordeiro alvitrou que se chamasse Feira de S. Pedro e eu retorqui « porque não da Ascensão», já que iria realizar-se dando vida a esse nosso feriado municipal, para mais sendo essa uma data-festa com tão fortes raízes populares no nosso concelho? E assim ficou.
A segunda questão, o local, era bem mais complicada, já que património da Câmara só mesmo o edifício dos Paços do Concelho, o Parque Vaz Monteiro, o parque das Tílias e... as ruas da Vila!
Equacionou-se a sua localização num dos dois Parques, mas estes eram efectivamente pequenos para o efeito. E foi assim que a Feira ganhou as ruas da Vila beneficiando ainda do abandonado terreno que havia sido campo de futebol e onde se construiria, mais tarde, o nosso Palácio da Justiça (leia-se: Tribunal, porque de palácio tem pouco)!
E assim foi, porque não havia outro local, não por opção, não por determinação em implantar a Feira no centro da vila. Aconteceu por inevitabilidade.
Depois a Feira passou para a Romeira uma vez que a Câmara havia adquirido o edifício da antiga fábrica e o terreno contíguo da Horta del'Rei. Aliás, aquele amplo edifício que, simpaticamente, se haveria de passar a chamar «Forum Romeira», foi precisamente adquirido para servir de apoio à Feira ( e porque não a outros eventos? ), e não em obediência a qualquer plano de salvaguarda patrimonial, coisa essa sempre estranha à mentalidade dominante no executivo.
Na Romeira, a Feira da Ascensão ganhou projecção e tornou-se querida do povo concelhio. Mas... essa projecção, na minha perspectiva, nunca deixou de ser local. Faltou-lhe o golpe de asa para romper as fronteiras concelhias e ganhar projecção regional ou nacional, como uma feira da Golegã ou de Campo Maior. Depois, depois tudo caiu na rotina, no dejá-vu, no bate-certo da prata da casa e foi perdendo gás, até que as obras de requalificação do Parque vieram colocar a questão: Continuava a Romeira a ser o local mais indicado para Feira ou muito ganharia esta em regressar às ruas da Vila, dando um pouco de animação a esta e ao seu comércio?
A isto responderão todos os alenquerenses... e eu também, não deixando de elogiar o esforço de quantos deram o seu melhor para lhe dar brio: Autarquias, ACICA, colectividades, empresas. Mas, confesso, tive saudades da Feira na Romeira. Porquê? Primeiro porque o «Forum Romeira» ( eternamente à espera de uma justificada modernização... ) e o pavilhão fronteiro emprestavam outra dignidade às exposições e outro conforto aos visitantes. Segundo, porque o recinto era mais «aconchegado» permitindo um desenho mais eficiente do certame. Na rua a Feira foi «trapalhona», «desligada» (alongava-se pela vila, com espaços intermitentes ) e «incoerente» na convivência forçada dos mais diversos expositores e, como acontecia no Parque Vaz Monteiro, na «arquitectura» ( qual arquitectura, qual quê..) dos diversos recintos que acolhiam o visitante para comer e beber. Terceiro, porque apesar dos defeitos estruturais das naves inferiores do «Forum» com as suas colunas que tiram visibilidade, apesar disso as condições para espectáculo eram melhores, já que no Auditório Damião de Góis tudo acontecia um pouco à revelia do passeante e no Parque Vaz Monteiro o desconforto para as pernas e para os ouvidos era evidente. Quarto, porque não sei se é justo pedir aos serviços, aos comerciantes e aos moradores que, por quase duas semanas, sofram um centro da vila tão disfuncional.
Mas teria essa vinda da Feira para o centro da vila servido ao comércio local? A meia dúzia de comerciantes ligados à restauração, não duvido, mas para todos os restantes, já tenho as minhas sérias dúvidas...
Num grande catrapázio afixado numa parede de um prédio situado na Rua feirante, a eterna Coligação ( eterna porque mexe mesmo depois de morta nos termos da Lei ) aspergia-se com água benta assumindo a paternidade de uma ideia que, afinal, já tinha barbas. Talvez porque o catrapázio estava a verde, pouca gente reparou... Mas, não teriam deitado foguetes cedo de mais?
Espero, sinceramente, que quem de direito faça um balanço sério, desapaixonado e despartidarizado do acontecimento.