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- Exposição-Feira de 1941 - Largo do Espírito Santo
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QUEM AINDA SE LEMBRA DA «FEIRA DO PAU CAIADO»?
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Um carrossel à entrada do parque Vaz Monteiro e uma pista de automóveis no largo Palmira Bastos. Entre um local e outro, avenidas ermas ornamentadas com bandeirolas hasteadas no topo de uma varola de eucalipto caiada. Assim, neste belo traje, se extinguiu, sem proveito nem glória, no início dos anos setenta do século passado, a Feira que a minha geração chamou «do Pau Caiado».
Esta Feira, que se realizava no último domingo de Agosto e nos três dias que o procediam, havia nascido em «berço de oiro», mais concretamente quando da «I Exposição-Feira de Alenquer», realizada em 1941, de 30 de Agosto a 7 de Setembro, a qual, pelo seu brilhantismo, havia deixado Alenquer de cara à banda, tanto mais que a vila andava amargurada com estado de decadência a que havia chegado a sua tradicional «Feira de S. Miguel».
Esta «Feira de S. Miguel» também se realizava em Setembro (29 desse mês, dia de S. Miguel) e dela falam os párocos da vila nas suas Respostas de 1758 atribuindo-lhe, já então, pouca importância. Mas, tudo podia ainda piorar, de acordo com a melhor tradição alenquerense. Por isso, não surpreende este quadro que dela traça o jornal O Alenquerense referindo-se à edição de 1891:
«O que esteve exposto na feira foi o mesmo que dos mais anos - esteiras de tábua e gamelas. A concorrência de povo foi aproximadamente de umas 12 a 15 pessoas.»
Dois anos depois, claro, as expectativas não eram melhores:
«Realiza-se hoje nesta vila a tradicional feira de S. Miguel digna de menção pela sua insignificância. Na forma dos mais anos aparecerão à venda gamelas, esteiras de tábua, nozes, amêndoas, etc. Apostamos dez contra um em como qualquer sujeito com vinte mil réis compra tudo, assim como quem diz varre a feira».
Em 1897 a Feira de S. Miguel adquiriu comprovada dignidade com a abertura de um novo espaço público, o Parque Vaz Monteiro. Renovada na transição do século, em 1909 a imprensa local reconhece-lhe merecido préstimo. O programa desse ano, era vasto e diversificado, incluindo já corridas pedestres a par de um "raid burrical", cavalhadas, fogo de artifício e banda de música. E assim continuou, até á sua decadência que se teria iniciado aí pelos anos trinta do século XX.
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-Exposição-Feira de 1941 - Aspecto do Parque Vaz Monteiro com o seu coreto demolido nos anos sessenta.
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Fugiu-nos o pensamento para o passado, ao atentarmos na "overdose" de Festas que Alenquer está "curtindo". Tivemos a "Feira da Ascensão" a cavalo das "Festas do Império do Divino Espírito Santo" e já por aí se anuncia a "Feira Medieval", tudo isto no intervalo das «Feiras do Campo».
Todos sabemos que à «crise» deveremos opor uma certa dose de «descompressão» ou então lá faremos a vontade às nossas televisões ( recheadas de gente inteligente - naturalmente mal aproveitada - e com soluções para tudo no bolso do casaco ) e entraremos numa depressão colectiva. Mas, tanta Festa-Feira...?
Sabemos, também, que esta foi a situação herdada de um executivo balcanizado, onde cada Vereador tinha o seu poleiro feirante e que, naturalmente, em ano de mudança o melhor será não mexer muito no passado e ganhar algum tempo para pensar num futuro onde... o dinheiro não abundará.
Se me perguntassem «quid juris?» eu responderia:
Façam-se em seu tempo ( dependente do calendário religioso ), aí por Maio, as «Festas do Divino Império», uma temática muito ligada à nossa história, onde podemos ser originais e galgar fronteiras. Faça-se da «Feira Medieval» um mero episódio dessas Festas, de preferência subordinado à história local e à presença da Rainha Santa e do seu consorte o Rei D. Dinis no seu Paço alenquerense. Transfira-se a «Feira da Ascensão» para Setembro ( como se viu atrás, existem também boas razões ligadas à tradição local, para isso ). Deixava de ser «Feira da Ascensão e passava a ser, olhem... por exemplo «Feira da Adiafa» a nossa tradicional Festa do final das vindimas. Dê-se nova vida ao nosso feriado municipal com a «Semana da Juventude» e por favor, nada de esquecer o Natal, já que somos a Vila Presépio e temos uma "imagem de marca" a defender. Simples? Claro... o difícil é fazer, mas faça-se qualquer coisa porque assim também não está bem!
- A propósito das Feiras do passado consultei, com muito proveito, o excelente artigo do meu amigo Dr. Filipe Rogeiro, «A Feira Anual de Alenquer ao Longo dos Séculos», na Revista publicada pela «Nova Verdade» quando da «Feira da Ascensão» 2006.