10 maio, 2010

SANTA QUITÉRIA DE MECA

UMA DAS MAIS ANTIGAS ROMARIAS DO CONCELHO E DO PAÍS

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Em Maio, quando os primeiros cachos se insinuam nos ramos ainda vicejantes das videiras e a cereja já "pinta" nos vales circundantes, a aldeia de Meca, no concelho de Alenquer, veste as suas roupagens mais festivas para honrar Santa Quitéria mártir, defensora das pessoas e animais contra o terrível mal da raiva.
Tratando-se de uma das mais antigas romarias deste concelho estremenho ( ou ribatejano? ) que das alturas de Montejunto se desdobra em colinas até às águas serenas do Tejo, a ela acorrem muitos forasteiros que, desde logo, são surpreendidos pela majestosa igreja em estilo neo-clássico mandada edificar no século XVIII por uma das mais ricas confrarias de então, obtida que foi a protecção régia de D. Maria I.
Construída em calcário da região extraído de uma pedreira próxima ainda hoje conhecida como "Pedreira da Santa", dela dizem os mais entendidos que ali «ali houve traço de arquitecto real», ao que o povo contrapõe que «lá isso não sabe» mas que o Mestre que a construiu, e cujo nome já esqueceu «morreu quando caiu do alto de uma das suas torres».
Quem entrar pela porta principal rasgada sob uma frontaria dominada por duas torres sineiras e «dividida, a toda a altura, por seis pilastras de capitéis jónicos», não deixará de admirar a monumental nave única sobrepujada por um bonito tecto em tela pintada onde predominam os tons cinza, verde e ouro.
Valorizando a elegante arquitectura, mármores e pinturas de qualidade ornamentam ricamente o templo. Duas grandes telas, de indiscutível valor artístico, presidem aos altares de cruzeiro, sendo uma delas, «A Última Ceia de Cristo», exposta do lado do Envangelho, assinada por Pedro Alexandrino (1730-1810). Também de ambos os lados do altar-mor são de admirar duas outras boas pinturas, certamente provenientes de uma das melhores escolas de finais do séc. XVIII.
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A romaria tem o seu momento alto no domingo seguinte ao dia 22 de Maio que no calendário religioso é dedicado a Santa Quitéria, mártir dos primeiros tempos do cristianismo, nascida no norte da Lusitânia quando os romanos ainda habitavam a nossa Braccara Augusta.
Rezam as loas de um antigo Círio de Alenquer que Quitéria, tal como as irmãs gémeas Eufémia, Merciana, Marinha, Victória, Genebra, Liberata, Basilisa e Germana ( já haveria inseminação artificial? ), foi salva da morte por Santa Cita e baptizada por Santo Ovídio.
Fugiu assim a uma terrível sentença que lhe fora ditada na sequência de um grave pecado cometido por sua mãe num período em que o seu progenitor, o rigoroso governador provincial Lúcio Atílio Caio Severo, esteve demasiado tempo fora de casa para que, à chegada, pudesse aceitar como sua tão numerosa prole.
O culto local da Santa remonta ao distante ano de 1238, quando a sua imagem, provavelmente escondida pelas boas gentes de Cristo no oco de uma árvores ou no recôncavo de uma gruta quando atemorizadas esperavam o avanço implacável das hordas magrebinas, apareceu num espinheiro da vizinha Quinta de S. Brás.
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- Aos mais interessados na hagiografia de Santa Quitéria recomendamos esta obra do séc. XVII cuja digitalização está disponível no site da Biblioteca Nacional.
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A verdade é que essa bela e muito antiga imagem lá está hoje, em Meca, recebendo das alturas do altar-mor os peregrinos que teimosamente se esforçam por dar continuidade a um tão antigo culto que os chama, na segunda-feira da festa, a tornarem-se presentes no terreiro da festa com o seu gado ou animal de estimação, para uma bênção que os livrará do terrível mal da hidrofobia.
E é assim, distante da forte concorrência de outrora, que a tradição se vai cumprindo: Após a santa missa o pároco assume o seu lugar no trono que domina o adro da igreja e, depois, à vez, rebanhos, cavalos, carruagens, animais domésticos - à trela ou ao colo dos seus donos - e... automóveis, motos e máquinas dão três voltas ao terreiro enquanto o sacerdote de hissope em punho os vai aspergindo com água benta!
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É a bênção do gado que, maravilha dos tempos, mistura cavalos de carne e nervo com outros encerrados em potentes motores, mas não menos susceptíveis de serem contaminados pela raiva.
Em Meca, apesar de tudo, a tradição resiste. Nesta aldeia a meia hora de Lisboa, o Povo teima em manter bem viva a sua cultura! Por favor, participem!