25 agosto, 2013

PAPÉIS VELHOS

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UM ALENQUERENSE ILUSTRE NUM DOCUMENTO AUTÓGRAFO DO CAPITÃO-DE-MAR-E-GUERRA ANTÓNIO MARQUES ESPARTEIRO
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Quis o acaso que, ao passar os olhos sobre os títulos de uns livros e de uns papéis antigos que iam a leilão, me deparasse com o nome de José Maria Dantas Pereira de Andrade (1772-1836), um alenquerense ilustre cuja vida já aqui trouxemos. Assina essas duas páginas dactilografadas que na ocasião licitámos, António Marques Esparteiro, também ele marinheiro ilustre.
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- Capaitão-de-Mar-e-Guerra António Marques Esparteiro
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António Marques Esparteiro nasceu em Engarnais Cimeiros, Mouriscas, Abrantes, no dia 21 de Outubro de 1898. Frequentou o Curso da Escola Naval, tirou o Curso de Artilharia no "Royal Naval College de Greenwich" e na "Gunnery School" de Portsmouth, Inglaterra e o Curso Naval de Guerra.
Ao longo da sua carreira foi director da "Escola de Alunos Marinheiros" (1927) e dos "Serviços Marítimos. Foi comandante do torpedeiro "Lis", do vapor "Lidador" e do aviso "Afonso de Albuquerque". Pertenceu à "Missão Naval de Fiscalização dos Avisos de 1.ª Classe" construídos na Grã-Bretanha e Irlanda. Comandou, ainda, a Defesa Marítima do Porto de Leixões e Barra do Douro (1943) e, interinamente as "Forças Navais do Estado da Índia".
Historiador e colaborador da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, com a sua assinatura foram publicados 23 trabalhos e livros versando o tema marinha. Em reconhecimento do seu valor recebeu as condecorações de Comendador e Grande-Oficial da Ordem Militar de Avis, Medalha de Ouro de Comportamento Exemplar, Medalha de 1.ª Classe de Mérito Militar e a Medalha Comemorativa das Campanhas do Exército Português na Índia. Passou à reserva como "capitão-de-mar-e-guerra" em 21 de Outubro de 1958. Faleceu em 1976. O seu escrito que adquirimos e iremos transcrever tem a data de Lisboa 4-10-54.

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JOSÉ MARIA DANTAS PEREIRA DE ANDRADE

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«Filho do porta bandeira graduado do Corpo de engenheiros Vitorino António Dantas Pereira e de D. Quitéria Margarida de Andrade, nasceu na vila de Alenquer em 1-10-1772.
Sendo discípulo da Real Academia da Marinha pelo indulto dos seus estudos na conformidade do decreto de 14 de Dezembro de 1782.
Assentou praça de aspirante guarda marinha por aviso de Sua Magestade expedido por Martinho de Mello e Castro Ministro e Secretário do Estado da Repartição da Marinha de 10 de Setembro de 1788, em consequência da proposta do Comandante da Companhia de guardas marinhas o Conde de San Vicente [Miguel Carlos da Cunha Silveira e Lorena - 7.º Conde], nesse tempo marechal de campo com exercício na Marinha.
Passou a guarda marinha por outro semelhante aviso do mesmo Ministro d'Estado de 18 de Janeiro de 1789, e de igual proposta do mesmo comandante.

Passou a primeiro tenente por decreto de 17 de Dezembro de 1789. N.B. Esta patente teve a condição de ficar conservado na Companhia e Academia dos guardas marinhas.
Foi provido em chefe da terceira Brigada por aviso semelhante aos de cima de 11 de Janeiro de 1790, e de igual proposta.
Foi nomeado lente de matemática dos guardas marinhas com soldo que vencia de tenente do mar com exercício de Chefe de Brigada, por igual ordem de Sua Magestade expedida também em aviso do mesmo Ministro e Secretário d'Estado Martinho de Mello e Castro de 16 de Outubro de 1790.
Passou-se-lhe Carta de lente de Matemática dos guardas marinhas com o competente soldo de 400$000 por ano, em virtude do decreto de 18 de Julho de 1795.
Passou a capitão tenente, conservando o sobredito exercício de lente de Matemática, por decreto de 20 de Outubro de 1796.
Passou a capitão de fragata, conservando o mencionado exercício de lente de Matemática, por decreto de 11 de Maio de 1797.
Passou a capitão de mar e guerra, ficando com o exercício das patentes antecedentes, por decreto de 12 de Janeiro de 1801.
Por aviso de 21 de Junho de 1801 expedido por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Ministro e secretário d'Estado da Repartição da Marinha, foi nomeado comandante e secretário de guardas marinhas.
Em 27 de Outubro de 1807 embarcou com a dita Companhia na nau "Conde D. Henrique" que pertencia à esquadra em que passou o Princípe Regente Nosso Senhor, e mais Família Real à América em 29 de Novembro do mesmo ano.
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- O Tejo em Lisboa, à época (Gravura da Biblioteca Nacional).
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Passou a chefe de divisão por decreto de 8 de Março de 1808.
Passou a chefe de esquadra graduado em 15 de Novembro de 1817, aceitando-se-lhe a demissão de comandante de guarda marinhas.
Passou a chefe de esquadra efectivo a 13 de Maio de 1819.
II
Durante o regime constitucional de 1820 e 1823 foi nomeado Conselheiro d'Estado.
Em 1798 foi membro da efémera Sociedade Real Marítima, e era desde 1793 correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa. Promovido depois a sócio efectivo, e eleito secretário em 1823, serviu como tal até 1833.
Foi também membro da Sociedade Filosófica, nomeado em 1827.
A sua obra científica e literária é muito vasta. No dizer dum seu biógrafo foi "sem dúvida o mais brilhante oficial que tem dado a Marinha de Portugal".
Mostrou-se adverso ao regime liberal, pelo que houve de emigrar em 1834 para Inglaterra e França.
Faleceu em Montpellier a 22 de Outubro de 1836.
      
      Lisboa 4-10-54                                                              Antº M. Esparteiro »

Nota: Teria este escrito biográfico chegado a ser publicado, eventualmente em algum Dicionário ou Enciclopédia (dadas as suas características)? É nossa intenção averiguá-lo.