Embora nas já citadas Respostas não encontremos qualquer referência a isso, é de imaginar que a igreja da Várzea, à semelhança das outras da vila, haja sofrido consideráveis danos quando do grande terramoto de 1755, pelo que, já no século XVIII, o seu estado era de adiantada ruína, como facilmente se pode concluir olhando a gravura acima, publicada por Guilherme João Carlos Henriques no seu A Vila de Alenquer.
Em meados do século XVIII foi extinta a freguesia de Santa Maria da Várzea, e ,alguns anos mais tarde, perto do final do século, foi a igreja objecto de obras que lhe prolongaram o alçado norte até junto à calçada Damião de Goes. Por último, aí veio a instalar-se a Junta da Paróquia de Triana, e, na primeira metade do século passado, foi de novo a igreja abandonada seguindo-se um novo ciclo de degradação e ruína.
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A Igreja da Várzea na actualidade
Tendo a Várzea sido adquirida visando a sua musealização, podendo e devendo vir a receber parte da Colecção Hipólito Cabaço que reside em condições deprimentes na antiga Escola Conde Ferreira, na Judiaria, não se entende lá muito bem que tendo aberto o Programa Operacional para a Cultura, no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio para Portugal, no período 2000-2006 (QCA III), não se tivesse elaborado uma candidatura local que retirasse a Várzea do seu letargo (31/13/2008 foi a data limite para aprovação de candidaturas sendo a mesma coincidente com a data final da elegibilidade das despesas) dando-lhe o destino há muito idealizado.
Mas, não, nenhuma candidatura aos generosos fundos comunitários foi elaborada. Das duas, três: Por ignorância da existência desse Programa, ou porque eram já então outros os projectos museológicos do pelouro, ou, ainda, porque a Cultura era a filha paupérrima do executivo, desgraçada enteada de S. Ex.ª o Alcatrão.
Mas foi pena, já que a musealização da Várzea «encaixava» plenamente nos objectivos deste Programa, a saber, de «Valorizar o Património Histórico Cultural» e de «Favorecer o Acesso a bens Culturais» e cujas linhas de força passavam, nomeadamente pela «Recuperação e dinamização de sítios históricos e culturais» e «Modernização e dinamização dos Museus Nacionais», isto consubstanciado, também, em «Obras de construção, recuperação ou valorização de museus».
Refira-se que os resultados deste Programa têm sido muito positivos. Por exemplo, fruto do mesmo aconteceram em Dezembro último as seguintes inaugurações:
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Dia 14 - Museu de Vila do Conde "Casa da Memória", em Vila do Conde;
Dia 18 - Colégio dos Moços da Sé de Évora, em Évora - Núcleo Museológico do Castelo de São Jorge, em Lisboa ;
Dia 19 - Museu de São Roque, em Lisboa;
Dia 20 - Capela das Sete Esquinas, no Peso da Régua - Museu do Douro, no Peso da Régua;
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Foi ainda pena que tal não tivesse acontecido, porque é imenso aquilo que estamos a perder por não termos um nosso Museu de referência, devidamente integrado na Rede Nacional de Museus. Por exemplo:
Assistindo a um seminário ministrado pelo Prof. Doutor Luís Raposo, do Museu Nacional Leite de Vasconcelos, tomei conhecimento do meritório programa de colaboração com outros Museus que esta notável instituição tem vindo a prosseguir e que passa, por exemplo, pela cedência, por empréstimo, de peças do seu acervo ( os seus fundos são imensos e na maioria estão armazenados ), reprodução de peças para fins didácticos, acções de formação na área da segurança, circulação das suas excelentes exposições temporárias que esgotado o tempo em Lisboa percorrem outros museus, etc.
Pelo que se disse e pelo muito que ficou por dizer, é grande o desafio que se abre à nova e actual equipa da Cultura da nossa Câmara. Porque a esperança é a última a morrer, acreditamos que no final deste mandato alguma coisa se há-de ver, mas tão desgraçada foi a herança que lhes acuda Santiago, que foi vizinho da Várzea, não o «Peregrino», mas o «Mata Mouros», porque os infiéis são muitos e «andam por aí», como disse um dia um incerto «poeta».