15 abril, 2010

QUE NOS VALHA SANTIAGO... MAS O "MATA MOUROS"!

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Nas suas Respostas, em 1758, refere o Prior João Martinz da Silveira que «A Igreja, Colegiada, e a Paroquial de Santa Maria da Várzea desta vila de Alenquer, se não é a primeira em antiguidade entre as cinco da dita vila, é certamente a segunda: consta dentro na vila de setenta e três vizinhos, ou fogos, em que há duzentas e setenta e três pessoas de Sacramento (adultos), e vinte pessoas menores. E já era paroquial no ano de mil duzentos e vinte. Está situada a povoação desta freguesia parte em a descida de um monte dentro dos antigos muros desta vila e parte em uma fralda de terra por baixo dele, e junto ao rio que corre pela dita vila».
Natural desta freguesia foi o cronista Damião de Goes que em vida muito protegeu esta igreja da Várzea, acabando mesmo por a eleger como sua última morada, pelo que mandou aí construir a sua capela tumular que, já na primeira metade do século passado, haveria de ser desmontada e levada para S. Pedro ao mesmo tempo que umas ossadas que, afinal, não eram as do insigne alenquerense, como recentemente ficou provado.
Embora nas já citadas Respostas não encontremos qualquer referência a isso, é de imaginar que a igreja da Várzea, à semelhança das outras da vila, haja sofrido consideráveis danos quando do grande terramoto de 1755, pelo que, já no século XVIII, o seu estado era de adiantada ruína, como facilmente se pode concluir olhando a gravura acima, publicada por Guilherme João Carlos Henriques no seu A Vila de Alenquer.
Em meados do século XVIII foi extinta a freguesia de Santa Maria da Várzea, e ,alguns anos mais tarde, perto do final do século, foi a igreja objecto de obras que lhe prolongaram o alçado norte até junto à calçada Damião de Goes. Por último, aí veio a instalar-se a Junta da Paróquia de Triana, e, na primeira metade do século passado, foi de novo a igreja abandonada seguindo-se um novo ciclo de degradação e ruína.
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A Igreja da Várzea na actualidade

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Passou já larga dúzia de anos, quando então o executivo camarário alenquerense, a bem do nosso património histórico, decidiu adquirir ao Patriarcado a vetusta igreja da Várzea. Naquele tempo custou ela 15.000 contos e não se pode dizer que tenha sido uma ruína barata, mas as intenções eram boas e, enfim, justificava-se o esforço financeiro.
Depois, passado algum tempo, o IPPAR decidiu intervir e colocou-lhe um novo telhado, obra meritória e a meu ver bem conduzida, a qual veio salvaguardar o que restava. Depois ainda, por iniciativa camarária, foi elaborado um projecto que visava transformar a igreja em Casa Memória Damião de Goes. E por aqui tudo se ficou... por mais um projecto para a cesta dos papéis ( deve ser largo o Arquivo daquela Câmara em projectos nunca executados..). Os anos continuaram a passar e a Várzea transformou-se, assim, num elefante branco no nosso Património ( A Chemina? Bom, essa será um dinossauro, mas...pardo!).
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Tendo a Várzea sido adquirida visando a sua musealização, podendo e devendo vir a receber parte da Colecção Hipólito Cabaço que reside em condições deprimentes na antiga Escola Conde Ferreira, na Judiaria, não se entende lá muito bem que tendo aberto o Programa Operacional para a Cultura, no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio para Portugal, no período 2000-2006 (QCA III), não se tivesse elaborado uma candidatura local que retirasse a Várzea do seu letargo (31/13/2008 foi a data limite para aprovação de candidaturas sendo a mesma coincidente com a data final da elegibilidade das despesas) dando-lhe o destino há muito idealizado.
Mas, não, nenhuma candidatura aos generosos fundos comunitários foi elaborada. Das duas, três: Por ignorância da existência desse Programa, ou porque eram já então outros os projectos museológicos do pelouro, ou, ainda, porque a Cultura era a filha paupérrima do executivo, desgraçada enteada de S. Ex.ª o Alcatrão.
Mas foi pena, já que a musealização da Várzea «encaixava» plenamente nos objectivos deste Programa, a saber, de «Valorizar o Património Histórico Cultural» e de «Favorecer o Acesso a bens Culturais» e cujas linhas de força passavam, nomeadamente pela «Recuperação e dinamização de sítios históricos e culturais» e «Modernização e dinamização dos Museus Nacionais», isto consubstanciado, também, em «Obras de construção, recuperação ou valorização de museus».
Refira-se que os resultados deste Programa têm sido muito positivos. Por exemplo, fruto do mesmo aconteceram em Dezembro último as seguintes inaugurações:
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Dia 14 - Museu de Vila do Conde "Casa da Memória", em Vila do Conde;
Dia 18 - Colégio dos Moços da Sé de Évora, em Évora - Núcleo Museológico do Castelo de São Jorge, em Lisboa ;
Dia 19 - Museu de São Roque, em Lisboa;
Dia 20 - Capela das Sete Esquinas, no Peso da Régua - Museu do Douro, no Peso da Régua;
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Foi ainda pena que tal não tivesse acontecido, porque é imenso aquilo que estamos a perder por não termos um nosso Museu de referência, devidamente integrado na Rede Nacional de Museus. Por exemplo:
Assistindo a um seminário ministrado pelo Prof. Doutor Luís Raposo, do Museu Nacional Leite de Vasconcelos, tomei conhecimento do meritório programa de colaboração com outros Museus que esta notável instituição tem vindo a prosseguir e que passa, por exemplo, pela cedência, por empréstimo, de peças do seu acervo ( os seus fundos são imensos e na maioria estão armazenados ), reprodução de peças para fins didácticos, acções de formação na área da segurança, circulação das suas excelentes exposições temporárias que esgotado o tempo em Lisboa percorrem outros museus, etc.
Pelo que se disse e pelo muito que ficou por dizer, é grande o desafio que se abre à nova e actual equipa da Cultura da nossa Câmara. Porque a esperança é a última a morrer, acreditamos que no final deste mandato alguma coisa se há-de ver, mas tão desgraçada foi a herança que lhes acuda Santiago, que foi vizinho da Várzea, não o «Peregrino», mas o «Mata Mouros», porque os infiéis são muitos e «andam por aí», como disse um dia um incerto «poeta».